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Bolsonaro confirma visita a países árabes no início do segundo semestre

Após mal-estar provocado pela viagem a Israel, presidente afirma não querer problema com a Palestina

Bolsonaro: presidente criou indisposição com árabes ao decidir colocar escritório em Jerusalém (Adriano Machado/Reuters)

Bolsonaro: presidente criou indisposição com árabes ao decidir colocar escritório em Jerusalém (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de abril de 2019 às 17h02.

Por Julia Lindner

Brasília - Após mal-estar provocado pela viagem a Israel, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que deve visitar países árabes no início do segundo semestre deste ano. Em coletiva de imprensa, ele também afirmou que quer ampliar os negócios com a comunidade árabe e que "não quer problema" com a Palestina.

"(A viagem será) no começo do segundo semestre. Já tive encontro com vários deles (comunidade árabe). Eu vou escolher dois ou três países para a gente fazer uma visita. Não existe esse afastamento nosso. O Brasil é um país que tem gente do mundo todo. E em qualquer país que eu vá tem gente do Brasil também", disse o presidente.

Questionado sobre o incômodo gerado pelo anúncio da criação de um escritório de negócios em Jerusalém, Bolsonaro disse que "não quer problema com a Palestina". Esta semana, um dos filhos do presidente também gerou mal-estar ao fazer uma publicação contra o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

"Eu não quero problema com a Palestina, o povo palestino é maravilhoso. Uma parte deles trabalha em Israel, escondidos até (...) A Comunidade árabe no Brasil é grande, alguns votaram em mim. Vamos continuar a fazer negócios com eles, vamos ampliar. Quero fazer negócio com mundo todo", declarou Bolsonaro.

Em cenário hipotético, Bolsonaro disse que, se o Brasil não tivesse relações diplomáticas com Israel e decidisse abrir uma embaixada hoje, seria em Jerusalém, e não em Tel Aviv. A mudança da embaixada era uma promessa de campanha do presidente, mas, por ora, ele recuou da ideia para não prejudicar as relações com países árabes. "Cada país decide onde é a sua capital. Nós não nos metemos em questões internas de país nenhum. É uma decisão nossa onde colocar a embaixada", justificou.

Ele disse que a criação do escritório de negócios é "um passo", assim como posicionamentos na Organização das Nações Unidas (ONU) a favor de Israel. "Não estamos mais votando seguindo a tradição de votar pró-palestina. Agora a Palestina passou a ser símbolo disso, com Hamas e Fatah lá dentro. Eu não quero problema com a Palestina, o povo palestino é maravilhoso", disse.

Ainda sobre a política externa, citou o Mercosul como exemplo e disse que o bloco "está respirando melhor", mas que antes da sua gestão "estava respirando por aparelhos, na UTI". Ele insinuou que a França está dificultando o fechamento do acordo entre Mercosul e Europa por interesses próprios. Segundo ele, a França está controlando o assunto porque tem interesse em commodities, mas demonstrou querer assinar acordo.

Viagem

Esta semana, o governo tenta reduzir os danos com a comunidade árabe e evitar que a viagem a Israel e as recentes polêmicas de Bolsonaro e seus filhos atrapalhem os negócios com esses países, principalmente no setor do agronegócio.

Ontem, Bolsonaro já havia falado que o Brasil deve potencializar negócios com os países árabes na próxima semana. "Nós queremos ampliar negócios com o mundo todo, assim como Estados Unidos, estivemos no Chile, Israel, com a comunidade árabe também. Temos viagem marcada para a China no corrente ano, se Deus quiser", disse durante transmissão ao vivo no Facebook.

Bolsonaro teve uma reunião na tarde desta quinta-feira, 4, com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, após manifestações de descontentamento de ruralistas em relação à diplomacia do governo.

A reclamação é principalmente sobre tuite feito pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que publicou uma resposta ao grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza. "Quero que vocês se explodam!", tuitou o senador na terça-feira. Diante da repercussão negativa, Flávio excluiu a publicação.

A reação inflamada do senador teve origem nas críticas do grupo Hamas, considerado terrorista por Estados Unidos e Israel, ao presidente Bolsonaro, que visitou o Muro das Lamentações em Jerusalém, local considerado sagrado pelo judaísmo.

Ruralistas também temem que os acenos de Bolsonaro a Israel prejudiquem as relações comerciais do Brasil com os países árabes, que são alguns dos principais importadores da produção de proteína animal brasileira.

No último domingo, Bolsonaro anunciou a abertura de um escritório de negócios do Brasil em Jerusalém. A cidade é considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos e não é reconhecida internacionalmente como capital israelense. O anúncio seria um meio-termo diante da promessa de campanha do presidente de transferir a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Ataques por parte do governo à China também já trouxeram preocupação ao setor. Os asiáticos são os principais compradores de soja, o principal produto exportado pelo setor agropecuário do Brasil.

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