Ricardo Paes de Barros (Marcelo Correa/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 15 de setembro de 2018 às 08h00.
Um dos criadores do Bolsa Família, o economista Ricardo Paes de Barros defende ajustes no programa, de forma a aumentar a transferência de recursos para os mais pobres e reduzir os montantes direcionados para uma camada da população que tem melhor condição socioeconômica.
Segundo ele, o programa, que custa apenas 1% do PIB, é consenso entre todos os candidatos à Presidência da República.
Apesar da recessão econômica que atingiu o Brasil nos últimos anos, Paes de Barros avalia que não houve aumento substancial da pobreza como aconteceu com o número de desempregados. “Voltamos 3 ou 4 anos no máximo. Poderia ter sido bem pior”, disse o economista, que é um dos colaboradores do programa econômico e social da candidata Marina Silva, da Rede Sustentabilidade.
Para reduzir o nível de pobreza no Brasil, ele avalia que é preciso considerar também o sistema de educação. ”Hoje, os pobres pagam para estudar nas universidades e os ricos, não”, afirmou, em entrevista à Bloomberg.
Outro programa que deve ser aperfeiçoado, na avaliação do economista, é o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante assistência a idosos e pessoas com deficiência. “É preciso melhorar o foco”, disse.
Para isso, Paes de Barros sugere que um eventual governo de Marina Silva revise a remuneração dos servidores. “Temos que olhar os servidores e pensar se eles são merecedores desses salários. A desigualdade no setor público é dramaticamente maior do que no setor privado. Alguém tem que ver se isso é justificável.”
Ele citou ainda como fatores de desigualdade entre os brasileiros as aposentadorias públicas e a diferenciação de impostos entre pessoa física e jurídica. “Temos que dar mais transparência ao BNDES, por exemplo. Precisamos dar prazos definidos para benefícios fiscais.”
Paes de Barros acredita que o caminho para tirar o Brasil da crise é o contrário da polarização que está sendo vista no embate eleitoral. Segundo ele, é preciso direcionar o debate para onde há concordância, como a manutenção do Bolsa Família e do Sistema Único de Saúde (SUS). “Ninguém é a favor de milhões de desempregados e da quantidade de mortes que há hoje no Brasil.”
A ideia da equipe de Marina Silva é criar centros de referência para políticas sociais usando o já existente Centro de Referência de Assistência Social (Cras). “Nossa ideia é que ali a população encontre oferta de emprego, informação para vacinação, evento cultural.”