BC diz em ata que inflação evoluiu de forma desfavorável
Na última reunião do Copom, a Selic subiu de 10,75% para 11,25% ao ano
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2011 às 09h14.
Brasília - A ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada hoje, reconhece que o cenário para a inflação "evoluiu desfavoravelmente" desde a reunião de dezembro. A afirmação consta no parágrafo 24 do primeiro documento produzido sob a presidência de Alexandre Tombini no BC. Na última reunião do Copom, a Selic (a taxa básica de juros da economia) subiu de 10,75% para 11,25% ao ano.
"De fato, no último trimestre do ano passado, a inflação foi forte e negativamente influenciada pela dinâmica dos preços de alimentos", cita o documento, ao lembrar que esses preços sofreram com choques de oferta no Brasil e no exterior. O BC reconhece que esses aumentos dos preços de alimentos "tendem a ser transmitidos ao cenário prospectivo" da inflação de várias maneiras, como a inércia inflacionária e as projeções do mercado.
Ainda no trecho 24 da ata, os diretores do BC avaliam como "relevantes" os riscos gerados pela persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda. "Note-se, também, a estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente, de mão de obra." O documento cita que, nessas circunstâncias, há um risco importante na "possibilidade de concessão de aumentos nominais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade".
Apesar do alerta, a ata do Copom lembra que há sazonalidade da inflação característica no primeiro trimestre, bem como concentração atípica de reajustes de preços administrados no período. "Embora, para o ano como um todo, o comportamento desses itens tenda a ser relativamente benigno."
O parágrafo 24 termina com a citação de que o cenário para a inflação "também contempla o potencial impacto negativo decorrente das condições climáticas extremamente adversas verificadas neste início de ano em algumas regiões do Brasil". O texto afirma que há probabilidade significativa de que pelo menos parte desse processo seja revertido durante o ano.
Superávit primário
O BC afirma também, na ata do Copom, que considera, no cenário central, o cumprimento da meta de superávit primário de 3,0% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011. A estimativa leva em conta a meta "sem ajustes", cita o texto, divulgado hoje. "Conforme parâmetros constantes do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias", completa. Para 2012, "admite-se como hipótese de trabalho um superávit primário de 3,1% do PIB". O superávit primário representa a economia para o pagamento dos juros da dívida pública.
De acordo com o documento, "o Copom reafirma que seu cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis fiscais". "Importa destacar que a geração de superávits primários compatíveis com as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta solidificará a tendência de redução da razão dívida pública sobre o produto".
Inflação em 2011
A projeção oficial de inflação em 2011 feita pelo BC no chamado cenário de referência subiu em relação à estimativa feita no início de dezembro e "se encontra acima do valor central de 4,5% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)", conforme consta na ata da reunião de janeiro. Em dezembro, o número já estava acima do valor central da meta. No cenário de referência, o BC leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio em R$ 1,70 e da Selic em 10,75% ao ano em todo o horizonte relevante.
No cenário de mercado, que leva em conta as previsões de câmbio e juros coletadas pelo BC entre os analistas, a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011 "também se elevou e se encontra acima do valor central da meta para a inflação". Para 2012, a projeção para a inflação "se encontra acima do valor central da meta" no cenário de referência e "ao redor da meta" no cenário de mercado.
Commodities
O Copom reconhece ainda que os preços de "importantes commodities" se elevaram desde a última reunião em dezembro. Diante dessa avaliação, os diretores do BC avaliam que "a trajetória dos índices de preços mostra elevação de pressões inflacionárias em algumas economias relevantes, enquanto tendem a se exaurir preocupações com a perspectiva de deflação em outras".
No parágrafo 22, a ata trata do quadro internacional e cita que, para o Copom, "a volatilidade e a aversão ao risco permaneceram elevadas desde sua última reunião, em parte, alimentadas pelos extraordinários níveis de liquidez global e pelas perspectivas de que esse processo possa eventualmente se acentuar".
Para o BC, continuam "altas as preocupações com dívidas soberanas de países e de bancos europeus e com a possibilidade de desaceleração na China". Mas, ao mesmo tempo, cresceu a confiança "na sustentabilidade da recuperação da economia norte-americana".
Telefonia e energia
O BC manteve a previsão de que os preços da gasolina e do gás de cozinha não serão reajustados em 2011, conforme a ata da reunião de janeiro do Copom. A estimativa já aparecia na ata da reunião de dezembro. Para a telefonia fixa e a eletricidade, o BC manteve a previsão de alta das tarifas de 2 9% e 2,8%, respectivamente.
Para o conjunto de preços administrados, a estimativa de aumento dos valores no acumulado de 2011 foi mantida em 4,0%, mesmo índice da reunião de dezembro. Para 2012, a estimativa de alta permaneceu em 4,4%.