Até 79% de portadores de HIV têm tratamento no Brasil
O documento indica que 11 países, entre eles o Chile, Cuba e Namíbia, têm pelo menos 80% da população estimada com vírus recebendo antirretrovirais
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2011 às 22h55.
Brasília (AE) - Relatório preparado pelo Programa das Nações Unidas para Aids (Unaids) mostra que o Brasil está fora da lista dos países com maior cobertura de tratamento para pessoas com HIV. O documento indica que 11 países, entre eles o Chile, Cuba e Namíbia, têm pelo menos 80% da população estimada com vírus recebendo antirretrovirais. O Brasil está na classificação seguinte. Ao lado de México, Argentina e Paraguai, o País figura entre aqueles que oferecem tratamento para uma faixa entre 60% e 79% da população estimada de portadores do HIV.
Diretor do Unaids no Brasil, Pedro Chequer considera que índice não representa um "problema", mas um "desafio" para o País que, no início da última década, foi apontado como responsável pelo melhor programa de aids no mundo. "É preciso melhorar o diagnóstico precoce da doença", disse Chequer. Ele ressalva, no entanto, que números mudam quando se analisa a população que já sabe ser portadora do vírus.
Nessas condições, o Brasil apresenta uma das maiores coberturas mundiais: mais de 95% da população com indicação de uso de antirretrovirais está em tratamento.
Estima-se que no Brasil entre 250 mil a 300 mil portadores do vírus desconheçam a sua infecção e, por isso, não iniciam a terapia no tempo adequado. Um estudo feito pelo pesquisador Alexandre Grangeiro, da Universidade de São Paulo (USP), mostra que 40% da mortalidade de aids no País está associada justamente ao diagnóstico tardio.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que estratégias para ampliar o diagnóstico precoce da doença estão em curso. Ele citou a oferta de testes rápidos de HIV na rede básica de saúde e ações entre grupos jovens, como a realizada durante o Rock in Rio, para incentivar a testagem.
Ele apontou ainda uma nova ênfase para campanhas regionais, com linguagem e temáticas próprias. "Não podemos prevenir a epidemia da mesma forma que fazíamos 20 anos atrás", disse Padilha. O enfoque, disse, precisa ser mudado justamente para atingir a população mais jovem. "O investimento em publicidade aumentou este ano em relação ao ano passado e vai aumentar em 2012. Mas em estratégias distintas."
Para Chequer, as mudanças estão no caminho certo. "Temos características diferentes em cada ponto do País. Isso demanda estratégias de prevenção também distintas."
O relatório divulgado hoje foi o mais otimista dos últimos anos. Os números apresentados mostram que número de mortes, de registros de novas infecções atingiu em 2010 as suas menores marcas. Além disso, o número de pessoas em tratamento aumentou de forma significativa. A exceção ficou com Leste Europeu e alguns países asiáticos.
Pedro Chequer afirma que progressos maiores poderão ser alcançados, mas para isso é preciso que países desenvolvidos cumpram o compromisso firmado ano passado de aporte de recursos para combate mundial da doença. "Para conseguirmos atingir as metas é importante que países desenvolvidos respeitem o que foi firmado." A ajuda internacional diminuiu de US$ 7,6 bilhões em 2009 para US$ 6,9 bilhões em 2010.
Chequer comentou as afirmações feitas pelo papa Bento XVI em documento divulgado há dois dias dirigido à África. O texto afirma que a aids é, antes de tudo, um problema ético e defende a abstinência sexual. "É contra ética sonegar informações sobre a formas comprovadas de evitar o contágio da doença, como o preservativo."
Para ele, o papa se referia à Igreja ao falar sobre abstinência. "Certamente ele estava reforçando essa prática para os integrantes do clero, que têm como obrigação cumprir princípios estabelecidos pela Igreja, não à população em geral."
Lígia Formenti