Brasil

Ataques à Marina devem ficar mais evidentes amanhã

O segundo debate deverá mostrar com mais clareza a estratégia de Dilma e Aécio em relação à candidata do PSB


	Candidatas Marina Silva e Dilma Rousseff, com o também candidato Aécio Neves, no debate da Band
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Candidatas Marina Silva e Dilma Rousseff, com o também candidato Aécio Neves, no debate da Band (Paulo Whitaker/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2014 às 10h26.

São Paulo - O debate a ser promovido pelo SBT na próxima segunda-feira, 1º, deve mostrar com mais clareza a estratégia dos candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) em relação à candidata do PSB, Marina Silva, que está em trajetória ascendente nas pesquisas de intenção de voto.

Especialistas consultados pelo Broadcast Político acreditam que o segundo encontro será diferente do primeiro, na TV Bandeirantes, em que as críticas de Aécio e Dilma a Marina foram sutis.

"No próximo debate, Marina vai ser mais testada. Até o encontro da Band, havia uma certa prevenção por parte de Dilma e Aécio, no sentido de deixar Marina andar com as próprias pernas e ver se ela ficava de pé", avaliou Carlos Melo, cientista político e professor do Insper.

"Não foi o que aconteceu. Marina mostrou que tem habilidade, teve desenvoltura no primeiro debate e começa a se perceber que não dá mais pra preservá-la", completou.

"No primeiro debate os ataques entraram devagar, porque a pesquisa (Ibope) tinha acabado de sair", afirmou o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Carvalho Teixeira.

"A estratégia dos dois (Dilma e Aécio) foi muito mais intuitiva. Agora virá de forma organizada", defende o professor.

Ele diz que, para Aécio, a ameaça imposta por Marina é imediata, com risco de deixá-lo de fora do segundo turno, mas a situação da presidente também já é bastante delicada.

Por isso, deve se concretizar a teoria uma trégua entre PT e PSDB para concentrar a ação contra a candidata do PSB.

"A união acontecerá porque não é mais uma eleição plebiscitária. Eles vão ter que passar a direcionar o tiroteio à Marina."

Para Melo, a "artilharia mais pesada" deve ser direcionada à ex-senadora já no debate do SBT porque o prazo está curto.

"Na segunda-feira vamos estar a pouco mais de 30 dias do primeiro turno. Não vai dar para eles esperarem para fazer os ataques nos últimos 15 dias", afirmou o professor do Insper. "Seria um risco muito grande".

O cientista político e especialista em pesquisa eleitoral Sidney Kuntz também acredita que as campanhas petistas e tucanas vão concentrar os esforços em desconstruir a imagem de Marina, mas pondera que é preciso tomar cuidado com ataques muito agressivos.

"Ataque não ganha voto há um bom tempo. O (Geraldo) Alckmin tentou contra Lula (em 2006) e era algo que não combinava com ele, não vingou. É preciso tomar cuidado (com ataques)", disse.

Kuntz avalia ainda que o desempenho de Marina no último debate e também na entrevista ao Jornal Nacional, mostra que a candidata está muito mais bem preparada para responder a questões "mais complicadas" do que em 2010.

"Hoje ela é quase uma monja tibetana."

Possíveis ataques

Na avaliação dos cientistas políticos, os discursos contra Marina devem focar primeiramente, como já evidenciado por interlocutores tucanos e petistas, na suposta inexperiência administrativa de Marina.

Outro alvo devem ser as inconsistências da candidata na defesa de sua "nova política".

O primeiro argumento acaba sendo frágil, pois Dilma só tinha a experiência ministerial a apresentar em 2010, enquanto Marina foi senadora e ministra, explica Teixeira. "Mesmo contra Aécio, Marina pode em tese questionar o legado que ele deixou em Minas."

Kuntz também avalia essa estratégia como equivocada. Segundo ele, todo mundo na vida foi inexperiente um dia e além disso, nesse caso, ela poderia contra-atacar.

"Ela pode questionar a experiência de Dilma ao assinar um papel em branco no caso do escândalo de Pasadena, da Petrobras. E pode citar o caso de aeroportos que beneficiaram parentes para questionar a experiência de Aécio", afirmou.

"Essa tese de experiência não vai vingar".

Para ele, os marqueteiros "devem estar batendo cabeça" e tendem a optar por um caminho para reforçar a tática do medo.

"Eles devem tentar mostrar a pouca estrutura partidária, com poucas chances de aprovar projetos e colocar medo a respeito de um possível governo. Eu não vejo outro caminho", disse Kuntz.

Outro argumento é tentar levantar polêmicas a respeito da opinião de Marina, como no caso dos transgênicos.

Para Teixeira, o tema pode vir à tona, já que ele avalia que Marina teve alguma dificuldade de explicar sua posição na entrevista ao Jornal Nacional. "Ainda assim, é um tema que Marina pode se preparar bem para responder", pondera.

O calcanhar de Aquiles mais evidente seria a questão do jatinho e da suspeita de uso de empresas- fantasma para financiar a compra da aeronave usada por Campos e também pela então vice.

"Marina deu, até aqui, a resposta que era possível, mas é uma tecla em que os adversários devem bater", avalia Teixeira, com a ressalva de que é o tema mais delicado da campanha: "um baita quebra-cabeças para quem vai bater e para quem vai defender".

A questão seria como atacar sem cruzar a linha de denegrir a imagem do candidato que morreu de forma tão trágica.

Para Kuntz, no entanto, o tema do avião não deve ser abordado, pois é uma coisa comum durante as campanhas.

"Um candidato tem 45 dias para fazer campanha, vai a seis cidades em um dia. Ninguém pergunta de certificado de avião. É sabido que toda campanha tem jatinho ou que cederam ou que alugaram. É algo comum."

Nanicos

Outra tendência apontada pelos especialistas é os candidatos nanicos passarem a mirar Marina - com a diferença de que não têm muito a perder. "Para eles é uma oportunidade de ganhar presença", lembra Teixeira.

Para Melo, do Insper, já foi perceptível no primeiro debate os pequenos começarem a direcionar críticas à candidata do PSB, em especial Luciana Genro (PSOL), com um viés de esquerda, e Levy Fidélix (PRTB), de direita.

"Essas figuras tendem a funcionar como fustigadores de Marina e servem de linha auxiliar de ataque à estratégia de Dilma e Aécio", afirmou Melo.

Acompanhe tudo sobre:CelebridadesEleiçõesEleições 2014Marina SilvaPartidos políticosPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPSB – Partido Socialista Brasileiro

Mais de Brasil

Alesp aprova proibição de celulares em escolas públicas e privadas de SP

Geração está aprendendo menos por causa do celular, diz autora do PL que proíbe aparelhos em escolas

Após cinco anos, Brasil recupera certificado de eliminação do sarampo

Bastidor: queda na popularidade pressiona Lula por reforma ministerial e “cavalo de pau do governo”