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Arthur do Val: conselho de Ética vota cassação; entenda o caso

A ação consiste em uma medida punitiva pelos áudios em que o parlamentar afirma que mulheres ucranianas são "fáceis porque são pobres". A votação pode ser em consenso ou em separado

Arthur do Val: As gravações de um grupo de amigos no WhatsApp foram divulgadas no início de março de 2022, quando Arthur do Val estava na Ucrânia representando o Movimento Brasil Livre (Câmara dos Deputados/Divulgação)

Arthur do Val: As gravações de um grupo de amigos no WhatsApp foram divulgadas no início de março de 2022, quando Arthur do Val estava na Ucrânia representando o Movimento Brasil Livre (Câmara dos Deputados/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de abril de 2022 às 15h13.

O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) vota nesta terça-feira, 12, o parecer que pede a cassação do mandato do deputado estadual Arthur do Val (União Brasil). A ação consiste em uma medida punitiva pelos áudios em que o parlamentar afirma que mulheres ucranianas são "fáceis porque são pobres". A votação pode ser em consenso ou em separado.

O texto foi entregue na semana passada aos integrantes do conselho pelo relator, deputado Delegado Olim (PP). No documento Olim acatou três denúncias passíveis de retirar o mandato do parlamentar. Todas já tinham sido previamente citadas em ao menos outras 21 representações de deputados contra Arthur. São elas: captação irregular de recursos para uma entidade civil; confecção de coquetéis molotov em meio a uma guerra entre duas nações e o envio dos áudios machistas. O relator acatou apenas as três últimas denúncias como passíveis de cassação. Além disso o parecer ainda defende que Arthur já tinha recebido a punição de advertência duas vezes na Casa.

As gravações de um grupo de amigos no WhatsApp foram divulgadas no início de março de 2022, quando Arthur do Val estava na Ucrânia representando o Movimento Brasil Livre (MBL). Nos áudios com teor machista, o parlamentar compara a fila de refugiadas à entrada de uma balada, focando na beleza das mulheres refugiadas além de incitar a prática de turismo sexual ao afirmar que voltará ao país após a guerra. "Eu estou mal cara, não tenho nem palavras para expressar. Quatro dessas eram 'minas' que você se ela cagar você limpa o c* dela com a língua. Assim que essa guerra passar eu vou voltar para cá", disse.

O fato fez com que o Podemos, então partido do deputado, abrisse um processo disciplinar interno que, posteriormente, levou à desfiliação do parlamentar. Arthur do Val também deixou o MBL. O deputado estadual também retirou a sua pré-candidatura ao governo de São Paulo.

Em carta, Arthur do Val tentou convencer os colegas a não puni-lo com a cassação do mandato.

Os áudios sobre as mulheres ucranianas não são a única polêmica em que o parlamentar já se envolveu. Confira um histórico.

Manifestações secundaristas

Arthur passou a ser reconhecido popularmente a partir do final de 2015 quando criou o canal no YouTube chamado "Mamãe Falei" para expor suas ideias. Com um estilo característico e provocador de se expressar, o canal alcançou notoriedade rapidamente e hoje conta com 2,69 milhões de inscritos.

Em outubro de 2016, Arthur decidiu viajar ao Paraná para gravar uma manifestação secundarista em protesto contra a PEC 241. O estilo do vídeo, posteriormente, chegou a virar uma marca do parlamentar: ele com a câmera em mãos abordando manifestantes e os confrontando sobre as motivações do movimento. Logo de início por entrevistar menores, já chegou a receber críticas e ameaças de processos.

Sua entrada no colégio estadual do Paraná acabou lhe resultando também em uma denúncia por importunação ofensiva ao pudor, registrada por uma adolescente de 17 anos, que acusou Arthur de ter filmado os jovens presentes sem autorização. Na época, o youtuber tinha 30 anos.

Ele chegou a repetir o mesmo formato de vídeo em 2018, mas dessa vez com apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esse viria a ser um dos seus vídeos mais populares.

Vida política de Arthur do Val

Mamãe Falei, como ficou conhecido após a popularidade do canal, decidiu iniciar sua carreira política filiando-se ao Democratas para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Durante a campanha eleitoral, Arthur já protagonizou um conflito com Ciro Gomes, na época candidato a presidente. Segundo o youtuber, Ciro teria lhe agredido durante a gravação de um vídeo; o pedetista negou agressões físicas à imprensa.

Nas eleições de 2018, Arthur foi o segundo parlamentar mais votado na Casa com quase 480 mil votos, ficando atrás apenas da deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB), popular na época por ser uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

O parlamentar foi expulso do DEM um ano depois de vencer a eleição após críticas em plenário e nas redes sociais a filiados da sigla como o senador Davi Alcolumbre, presidente da Casa na época, e ao antigo vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia. Sem partido, Do Val filiou-se ao Patriota para dar continuidade ao seu mandato no Legislativo.

Em 2020, o parlamentar disputou a Prefeitura de São Paulo e ficou na quinta posição, com 522.210 votos (9,78%).

Ataques

Quando era candidato à Prefeitura, Arthur do Val direcionou ataques ao Padre Júlio Lancellotti, chamando-o de "uma das maiores farsas do Brasil". A declaração do parlamentar foi feita após o padre divulgar um vídeo em que comentava sobre as ameaças que estava recebendo, sem citar o nome do youtuber.

O deputado chegou a publicar vídeos em suas redes sociais chamando o padre de "cafetão da miséria", fazendo referência ao trabalho do religioso na Cracolândia. Esse conteúdo foi removido após determinação da Justiça Eleitoral. Na decisão, o juiz classificou a publicação como propaganda eleitoral antecipada e afirmou que era uma forma de "calúnia, difamação e injúria" contra Padre Júlio Lancelloti.

Envolvimento com o caso Zalewski

Em 2016, o youtuber divulgou um vídeo em que acusou Plinio Zalewski de ser funcionário fantasma da Assembleia Estadual Legislativa do Rio Grande do Sul. Na época, Zalewski era coordenador de campanha de Sebastião Melo, candidato do PMDB à prefeitura de Porto Alegre.

Após a divulgação do conteúdo, Zalewski solicitou sua exoneração do cargo comissionado e, semanas depois, foi encontrado morto na sede do PMDB junto com uma carta de despedida. Na época, pessoas próximas do coordenador afirmaram que a agressividade do vídeo de Arthur poderia ter sido uma motivação para suicídio do funcionário.

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