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Apesar de melhora, greve dos caminhoneiros segue causando prejuízos

Atual crise de desabastecimento de combustíveis é considerada pela ANP a maior já registrada no país em décadas

Greve: abastecimento de combustíveis apresentou melhoras em alguns estados do país nesta terça-feira (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Greve: abastecimento de combustíveis apresentou melhoras em alguns estados do país nesta terça-feira (Rodolfo Buhrer/Reuters)

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Reuters

Publicado em 29 de maio de 2018 às 12h16.

Rio de janeiro/São Paulo - O abastecimento de combustíveis apresentou melhoras em alguns estados do país nesta terça-feira, com a redução do movimento de paralisação dos caminhoneiros que já dura nove dias, enquanto autoridades buscam apurar o envolvimento de empresários e movimentos políticos na greve e encontrar alternativas para aumentar a concorrência no setor de distribuição de combustível.

"A situação está melhorando. No Rio de Janeiro já há postos com algum combustível. Em Brasília já não há mais bloqueio nas bases de distribuição, com caminhões saindo em comboios e postos já abastecendo", disse o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Aurélio Amaral.

"Dependendo da logística de cada lugar, volta ao normal em cerca de uma semana, mas em alguns lugares até mais de uma semana", acrescentou.

A atual crise de desabastecimento de combustíveis é considerada pela ANP a maior já registrada no país ao menos desde a abertura do mercado de petróleo do país, em 1997, quando o governo acabou com o monopólio da Petrobras no setor.

Em São Paulo, onde estão as principais refinarias do país, a situação segue "bem complicada", porque ainda há muitos bloqueios e caminhoneiros que resistem em encerrar o movimento, segundo o diretor da ANP.

A região do Porto de Suape, em Pernambuco, também é vista como ainda em estado "crítico", segundo ele, que classificou a situação como "ruim" em Minas Gerais, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Sergipe.

O governo considera ter respondido às demandas dos caminhoneiros por meio de um pacote de medidas em atendimento às principais exigências da categoria, como a redução do preço do óleo diesel, e acredita que a continuidade das paralisações se deve a um locaute promovido por distribuidoras.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, chamou empresários do setor de distribuição de combustíveis de "inescrupulosos" em entrevista nesta terça-feira à rádio CBN, e disse que eles vão pagar pelo que afirma ser um locaute.

"Você pode ter certeza de que a partir de hoje, nós vamos começar a encontrar esses infiltrados, nós vamos multar essas empresas, que serão 100 mil reais por hora", disse o ministro à rádio.

O ministro afirmou que uma investigação ampla está em andamento para descobrir os movimentos políticos que estariam infiltrados na paralisação dos caminhoneiros com a tentativa de atingir o governo e a estabilidade do país.

O locaute, que é proibido por lei, ocorre quando empresários impedem funcionários de trabalhar.

Segundo o ministro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) também foi acionado para apurar abusos. Nesta terça-feira, o órgão divulgou nove propostas para aumentar a concorrência.

"Apesar de o setor de combustíveis ser o principal alvo de denúncias de prática de cartel no Brasil, defende-se que nem todos os problemas desse mercado são provocados por condutas anticompetitivas", disse o órgão.

Entre as propostas, o Cade sugere a extinção da vedação à importação de combustíveis pelas distribuidoras; repensar a proibição de verticalização do setor de varejo de combustíveis; permitir que produtores de álcool vendam diretamente aos postos; permitir postos de autosserviços; e repensar a forma de tributação do combustíveis e também a substituição tributária do ICMS.

Prejuízos

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) ainda não divulgou nesta terça-feira dados atualizados sobre a paralisação dos caminhoneiros, que está impedindo a livre circulação de mercadorias no país. Até o início da tarde de segunda-feira, a PRF contabilizava 556 pontos de paralisação.

Os efeitos da greve para as empresas e a economia do país ainda não foram totalmente mensurados, mas o setor de carnes é um dos mais prejudicados.

Das 109 plantas de produtoras de carne bovina no país, 107 estão paradas, sendo que as outras duas operam com menos de 50 por cento da capacidade, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Além disso, 3.750 caminhões carregados estão parados nas rodovias do Brasil e vão começar a perder a validade a partir desta quarta-feira.

"Os dados ainda são preliminares e muitos prejuízos ainda não foram contabilizados, mas é certo que somente a cadeia produtiva da pecuária de corte já deixou de movimentar valores da ordem de 8 bilhões a 10 bilhões de reais", acrescentou a associação.

A situação também é crítica para as exportadoras, devido ao bloqueio das rodovias de acessos a portos. Alguns exportadoras de soja, um dos principais itens de exportação do Brasil, já estão analisando a possibilidade de declarar "força maior", segunda a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

O pré-candidato à Presidência da República pelo PSL, deputado Jair Bolsonaro, que tem sido associado a lideranças do movimento dos caminhoneiros devido à presença de apoiadores dele e de defensores de uma intervenção militar entre os manifestantes, pediu o fim do movimento.

"O Brasil no momento, depois desse trabalho maravilhoso de vocês, entendo eu, que começa a perder. Todos nós passamos a perder a partir de agora", disse Bolsonaro em vídeo direcionado aos caminhoneiros publicado nas redes sociais na noite de segunda-feira.

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