Brasil

Apenas 2% dos deputados citaram corrupção em votação da denúncia

A maioria dos parlamentares favoráveis ao peemedebista na última quarta-feira apresentou argumentos econômicos e políticos para justificar seu voto

Votação na Câmara: dos 263 parlamentares que se alinharam ao Palácio do Planalto revela que a economia foi a justificativa preponderante (Antonio Augusto/Agência Câmara)

Votação na Câmara: dos 263 parlamentares que se alinharam ao Palácio do Planalto revela que a economia foi a justificativa preponderante (Antonio Augusto/Agência Câmara)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de agosto de 2017 às 15h07.

Última atualização em 7 de agosto de 2017 às 15h10.

São Paulo - Os discursos moralistas cederam lugar ao pragmatismo na análise da denúncia contra o presidente Michel Temer. Ao votar, a maioria dos deputados favoráveis ao peemedebista na última quarta-feira apresentou argumentos econômicos e políticos -notadamente a oposição ao PT. O tema "corrupção" foi ignorado por quase todos.

Análise feita pelo Estadão Dados nos discursos dos 263 parlamentares que se alinharam ao Palácio do Planalto revela que a economia foi a justificativa preponderante.

Cerca de um terço dos favoráveis a Temer citaram termos como "estabilidade" (17%), "emprego" (8%), "reformas" (7%) ou "retomada" (4%). O PT foi mencionado em 13% dos discursos. A corrupção, em apenas 2%.

O tom das manifestações foi muito diferente do apresentado na votação da abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, no ano passado.

Na ocasião, parcela significativa dos deputados aproveitou o momento ao microfone para dedicar o voto a familiares, a eleitores de suas regiões e ao "futuro do Brasil".

Na comparação dos 1.005 discursos feitos nas duas votações, as citações a "família" caíram 95%, de 128 na época de Dilma para apenas 6 no caso de Temer. As menções ao futuro caíram 88%, de 43 para 5. Já as referências a "estabilidade" cresceram de zero para 49.

O pedido de impeachment de Dilma se baseou nas chamadas "pedaladas fiscais"-prática do governo de atrasar repasses de recursos para bancos e autarquias, o que melhorava artificialmente os resultados das contas públicas.

Já Temer foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de ter recebido, por intermédio de seu assessor Rodrigo Loures, "vantagem indevida de R$ 500 mil ofertada por Joesley Mendonça Batista", do grupo JBS. Loures foi filmado pela Polícia Federal ao receber uma mala com R$ 500 mil de um representante do JBS.

Na semana passada, alguns deputados favoráveis ao presidente argumentaram que ele poderá ser investigado após o fim do mandato. "Investigar é preciso, mas não é urgente", discursou o deputado Julio Lopes (PP-RJ)."Urgente é unir trabalhadores e empreendedores do Brasil para desenvolver o País."

"A investigação pode esperar", disse Renato Andrade (PP-MG). "Nós devemos ter responsabilidade com o nosso Brasil."

"O Temer vai continuar sendo investigado depois, porque não cessa a investigação", argumentou Sergio Moraes (PTB-RS), que em 2015 ganhou notoriedade ao afirmar que estava se "lixando" para a opinião pública ao propor o arquivamento de um processo contra um colega, por quebra de decoro parlamentar.

Nas semanas que antecederam a votação, Temer acelerou a liberação de emendas de parlamentares ao Orçamento, além de negociar benesses para a bancada ruralista. O deputado Arthur Virgílio Bisneto (PSDB-AM) foi o único a se referir diretamente ao tema ao votar: "Eu não negociei emenda, muito menos tenho cargos no governo", discursou.

"Acredito que o Brasil precisa passar por reformas estruturantes que façam a máquina se modernizar e o País voltar a crescer com consistência. O país que olha para o futuro não troca de presidente como se troca de roupa."

Sem citar emendas, outros discursos evidenciaram a relação entre voto e liberação de verbas para bases eleitorais. "Este é o chamado voto de gratidão", disse Cícero Almeida (PMDB-AL). "Pela forma decente e amável que o presidente da República e seus ministros têm tratado o Estado de Alagoas, o meu voto é sim".

Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) fez uma cobrança pública ao votar: "A depender do tratamento que Minas Gerais recebeu até hoje do governo, deveríamos até ir contra o relatório, mas precisamos, neste momento, de estabilidade econômica e de segurança jurídica, com fiel respeito aos preceitos da Constituição. Portanto, voto sim."

Acompanhe tudo sobre:Câmara dos DeputadosCorrupçãoCrise políticaDelação premiadaJBSMichel Temer

Mais de Brasil

Governo transfere R$ 6,5 bilhões para fundo de reconstrução do Rio Grande do Sul

Defesa de Daniel Silveira alega que ida ao shopping não feriu cautelar, mas saída era proibida

Risco de desabamento suspende buscas na ponte entre Maranhão e Tocantins