Amazonas tem aumento de casos de coronavírus e déficit de leitos de UTI
Em uma semana os casos confirmados de coronavírus no Amazonas aumentaram 192% e as mortes subiram 360%
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de abril de 2020 às 09h32.
Última atualização em 20 de abril de 2020 às 18h25.
Pacientes que procuram atendimento no Estado do Amazonas , um dos mais afetados pela covid-19 , já relatam falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e equipamentos. Em uma semana os casos confirmados da doença no Estado aumentaram 192% e os registros de óbitos subiram 360%. Esses dados colocam o Amazonas na fase de "aceleração descontrolada" do novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde.
Em uma unidade deManaus, o marido de uma enfermeira morreu sem conseguir atendimento em UTI, segundo Patrícia Sicchar, vice-presidente do Sindicato dos Médicos. "A falta de estrutura, medicamentos e salários atrasados já era um problema que vínhamos denunciando desde o ano passado."
Segundo Patrícia, o homem procurou o serviço de pronto-atendimento (SPA) emManaus. "Não tinha nem oxímetro para ver a saturação do oxigênio. Ela (a mulher da vítima, que é enfermeira) teve de trazer de casa o equipamento para mostrar que o marido precisava de oxigênio porque o SPA não tinha", disse. "Sem respiradores. Sem vagas. Crítico para pacientes que precisam de entubação." Segundo ela, unidades de saúde deManausse tornaram foco de contágio para pacientes com outras doenças e profissionais.
"Minha mãe estava aqui no sofá da minha casa e saiu para morrer no hospital", disse a dona de casa Ana Paula Moraes, de 42 anos. Ida Moraes, de 72, morava no município de Manacapuru, a 68 quilômetros da capital. Ela sempre ia à cidade para visitar as filhas. Seis dias antes de morrer, teve um mal-estar e foi atendida em um SPA deManaus. Mesmo medicada, não conseguia se levantar nem se alimentar. As filhas decidiram levá-la ao Hospital 28 de Agosto, unidade da rede pública deManaus.
Ida entrou em uma terça-feira, sem sintomas de gripe, e, na sexta-feira, foi transferida para a unidade de referência. Poucas horas depois, a família foi informada de que a idosa havia morrido. "Só soube que ela estava com essa covid-19 quando me disseram que ela faleceu. Não foi entubada. Não nos informaram nada. Ela passou mal, foi ao hospital e acho que lá pegou essa covid-19." Ana Paula disse que não foi procurada para receber orientação.
Os cerca de 500 respiradores do Amazonas estão emManaus. Na segunda, o governo do Amazonas informou que o Hospital Delphina Aziz, unidade de referência para covid-19, contava com 75 leitos de UTI. No fim de semana, houve incremento de 15 respiradores, após a notícia de que a unidade havia entrado em colapso.
Distância
O Estado ainda enfrenta dificuldades de acesso à saúde em cidades do interior, distantes deManaus. Não houve registros de casos dentro de aldeias, mas há relatos de indígenas contaminados - dos sete que testaram positivo para a doença, dois acabaram morrendo. Segundo o governo do Amazonas, 18 dos 61 municípios do interior têm casos da doença.
O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), vem criticando a população pela baixa adesão ao isolamento emManause trocou o secretário de Saúde, Rodrigo Tobias, após ele anunciar que a rede estadual estava a 5% do colapso. Já o prefeito deManaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), disse que a culpa da não adesão ao isolamento é do presidente Jair Bolsonaro.
Os dois gestores anunciaram novos leitos em hospitais de campanha em ações com empresas particulares. A prefeitura lidera a montagem de um hospital na periferia deManauscom 114 leitos clínicos e 32 de UTI. Já o Estado anunciou que contrataria, por R$ 866 mil por mês, o prédio e materiais de um hospital particular desativado. O Ministério da Saúde deve enviar ao Amazonas recursos humanos e verbas para serem investidas na ampliação do atendimento. Outra medida de socorro é o hospital de campanha para a população indígena.
Zona Franca deManausaposta em modelo nacional de respirador
Tradicionalmente voltadas para a fabricação de eletroeletrônicos e motocicletas e agora com parte das linhas de produção paradas, indústrias da Zona Franca deManaustentam desenvolver um projeto de um respirador nacional para ajudar no tratamento da covid-19.
A intenção é fabricar mil equipamentos e entregar gratuitamente para os hospitais do Amazonas.
Três iniciativas entre empresas e órgãos de pesquisa para chegar a um modelo de respirador estão em andamento.
A perspectiva é de que o equipamento comece a ser fabricado no fim deste mês, segundo o presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco.
Hoje há três frentes de trabalho em parceria com empresas, tentando chegar a um modelo de equipamento que possa ser fabricado em escala industrial."O projeto mais adiantado é o da Bic", diz o presidente do Cieam. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.