Apagão no Amapá atingiu 13 dos 16 municípios do estado (Rudja Santos/Amazônia Real/Divulgação)
Alessandra Azevedo
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 17h14.
Falta de luz e água, preços de produtos básicos jogados para o alto e dificuldade de transporte e locomoção são apenas alguns dos problemas vividos pela população do Amapá, com a interrupção no serviço de distribuição de energia elétrica há mais de uma semana. Enquanto as atividades não voltam ao normal nos 13 municípios afetados, centenas de pessoas têm ido às ruas protestar contra a ausência de medidas concretas para resolver o caos gerado pelo apagão e pela falta de respostas rápidas do governo.
A declaração feita pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, no último domingo, 8, de que “tudo está voltando ao normal” é rebatida pela população, que aponta falhas no esquema de fornecimento de energia por turnos. O governo federal garante que o fornecimento chegará a 100% até a próxima segunda-feira, 16, duas semanas após o início do apagão. A Justiça, entretanto, determinou que a Isolux, empresa responsável pela distribuição no estado, normalize o serviço até esta quinta-feira, 12, sob pena de multa de R$ 15 milhões.
Sem uma data certa para a volta à normalidade, o estado tenta se virar com um sistema de rodízio proposto pelo governo, com liberação alternada, durante até seis horas por local. A ideia teve como resultado centenas de moradores insatisfeitos, que vão às ruas e fazem “twittaços” para protestar. A Polícia Militar registrou mais de 50 atos contra as falhas no fornecimento de energia entre sexta-feira, 6, e a madrugada de terça-feira, 10. A noite desta quarta-feira, 11, será a sexta de manifestações em Macapá, capital do estado, na frente do Palácio do Governo. Também começou, às 16h, uma nova onda de relatos na internet, com a hashtag #SOSAmapá.
Nesta quarta, 11, o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou que aumentou o fornecimento de energia para 80% do estado, com a ativação de uma unidade geradora na Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes. A usina, que fica a 137 km de Macapá, gera 25 megawatts, o suficiente para levar energia elétrica a mais 10% do estado. O governo federal também tem empregado aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para reduzir os impactos da falta de energia elétrica. Entre 6 e 9 de novembro, foram transportadas mais de 52 toneladas de carga e equipamentos, como geradores de energia, alimentos e água potável.
Na última terça-feira, 10, os moradores queimaram pneus e bloquearam por mais de oito horas, com galhos e pedaços de madeira, a BR-210, na Zona Norte de Macapá. Durante os atos, manifestantes quebraram vidros de uma Unidade de Policiamento Comunitária (UPC) que ainda não estava em funcionamento. Na ocasião, foram furtados botijões, geladeira e extintores.
Pessoas envolvidas nos eventos, no entanto, deixam claro que os atos são pacíficos e contam com participação até de idosos e crianças. A PM tem reprimido os protestos, por vezes, com balas de borracha. Uma delas acertou o olho de um estudante de 13 anos, na última sexta-feira, 6. A PM informou, nesta terça-feira, 10, que pretende instaurar um procedimento administrativo para investigar o caso.
Outra preocupação dos moradores da região é quanto aos preços abusivos praticados em mercados locais. Itens como galões de água e velas estavam sendo vendidos por mais de dez vezes o preço normal. Tanto que o Procon do estado anunciou que trabalha para inibir práticas abusivas identificadas em Macapá. Os focos da ação são postos de gasolina, centrais de venda de água mineral e postos de conveniências.
Os manifestantes também reclamam dos prejuízos com o corte no fornecimento de energia elétrica e cobram do governo uma atitude para reparar os danos. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) defende que os prejudicados pelo desabastecimento sejam compensados. O órgão notificou a Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel) e a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), para que prestem esclarecimentos sobre como será feita essa compensação.