Aliança pelo Brasil deve ficar de fora da próxima eleição, diz Kassab
Presidente do PSD vê "geleia geral" de siglas e prevê entraves para legenda de Bolsonaro no curto prazo
Agência O Globo
Publicado em 8 de dezembro de 2019 às 11h36.
São Paulo - Idealizador e presidente do último grande partido criado no Brasil, o PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab avalia que estamos vivendo uma acomodação final do processo de estruturação partidária e que o financiamento público de campanha, o fim das coligações proporcionais e a cláusula de desempenho vão criar um ambiente muito mais saudável na relação com os partidos.
“Hoje é uma geleia geral, mas vamos ter uma redução dos partidos. Poucos partidos vão superar os obstáculos dessa nova legislação. Em 2030, quando concluiremos a implantação da cláusula de desempenho, vejo dois partidos na esquerda, esse novo partido de Bolsonaro na direita e algo como sete siglas no centro”.
Kassab diz que “não é nada cômodo criar um partido” e que Bolsonaro foi levado à saída mais difícil. Para ele, não é impossível o Aliança sair do papel a tempo das eleições de 2020, mas é grande a possibilidade de ele não conseguir.
Por que é tão difícil ser fiel a um partido no Brasil?
A democracia brasileira pós-ditadura é muito recente e estamos vivendo a acomodação final de um processo de estruturação partidária. Hoje é uma geleia geral, mas vamos ter uma redução dos partidos porque poucos vão superar os obstáculos que o fim das coligações e a cláusula de desempenho vão impor. Em 2030, quando concluirmos a implantação da cláusula de desempenho, vejo dois partidos na esquerda, esse novo partido de Bolsonaro na direita e algo como sete siglas no centro.
O que mudará na política brasileira com menos legendas no futuro?
Não é nada cômodo, não é fácil criar um partido. No caso específico do presidente Bolsonaro, ele teve problemas no seu partido e entendeu que, sendo ele presidente, tem que comandar o seu partido. Ele não tinha outra saída e vai ter dificuldades nas eleições municipais. Possivelmente, não participará delas. O Congresso aprovou relatório preliminar que aumenta em R$ 3,8 bilhões o fundo eleitoral para os partidos em 2020. É justo gastar quase R$ 4 bilhões de dinheiro público com eleições? Defendi em minha trajetória política o financiamento aos partidos e candidatos baseado por doações da iniciativa privada, mas é notório que não deu certo. Hoje considero esta a forma mais adequada: o financiamento público, em conjunto com as doações de pessoas físicas.
O senhor não acredita que o Aliança conseguirá sair do papel a tempo das eleições de 2020?
Não me associo àqueles que acham que é impossível. Mas acho que é grande a possibilidade de não conseguir. Na hora que o Aliança começar a recolher apoios, vai ter cinco milhões de assinaturas em dois meses. O problema é a conferência destas assinaturas pelos cartórios eleitorais. De cada dez nomes que você manda, sete vão para o lixo. É correto que seja assim.
O Aliança é um projeto viável?
O Bolsonaro vai ter muita facilidade de fazer o partido (no longo prazo). Estamos falando do presidente da República, que tem 40 deputados federais e um ou dois senadores que querem seguir com ele. Não estamos falando de um grupo político inexpressivo.
Mas hoje as regras para criar um partido são muito mais restritivas do que eram quando o PSD foi criado, não?
Sim. Hoje, um deputado que se filiar a um partido novo pode perder o mandato. Antes, ele estava liberado. Agora, só se for em caso de fusão partidária, expulsão, perseguição ou na janela partidária que haverá somente em 2022. Outra mudança é que não se pode mais coletar assinaturas de políticos filiados para criar um partido.
O presidente Bolsonaro vai tentar convencer o TSE para que deputados do PSL migrem para o Aliança após sua fundação. Vai dar certo?
Não acredito que conseguirá e discordo da tese porque o deputado vai se transformar numa mercadoria. Vira leilão de fundo partidário e tempo de TV. Não é saudável. Seria abrir uma exceção para algo que já não deu certo, dar um tiro no pé.
O PSD foi criado com o bordão que não era de direita, esquerda nem de centro. Oito anos depois, a falta de identidade permanece?
Houve na época uma interpretação equivocada do que eu disse. Eu queria dizer que, como o partido não estava estabelecido, a vivência ia nos mostrar qual a principal posição teríamos. Somos um partido de centro, que defende uma economia liberal e um posicionamento firme do Estado no campo social.
Qual sua avaliação do governo Bolsonaro?
Teve alguns avanços, mas muito menores do que a promessa. O governo chegará no fim do próximo ano à metade do mandato e até agora o conjunto da obra é a Previdência, que foi encaminhada pelo presidente Temer. Se os resultados não começarem a aparecer, vai começar o clima “não deu mesmo, vamos ver quem vem pra fazer”. A principal questão é o emprego.
O senhor é investigado por suspeita de receber dinheiro via caixa 2 do grupo JBS. Como responde à acusação?
Fui injustiçado por acusações que vão se mostrar sem fundamento.
O senhor seria chefe da Casa Civil do governo Doria, mas as investigações o tiraram deste caminho. Como está a relação com o governador paulista?
É de plena cooperação. É um governo que ajudei a eleger e, portanto, tenho compromisso com o meu estado. Continuarei licenciado enquanto entender que é adequado do ponto de vista ético, ressaltando a minha confiança na correção de todos os meus atos na vida pública.