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Aliados de Lula e petistas sondaram família de Palocci

Segundo fontes, dirigentes do PT em Ribeirão Preto e líderes da legenda procuraram o pediatra Pedro Palocci, irmão mais velho do ex-ministro

Palocci: as relações financeiras e societárias do ex-ministro com seu irmão são alvo de investigações da Lava Jato (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Palocci: as relações financeiras e societárias do ex-ministro com seu irmão são alvo de investigações da Lava Jato (Rodolfo Buhrer/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de outubro de 2017 às 10h09.

Ribeirão Preto  - Desde a prisão de Antonio Palocci pela Operação Lava Jato, em setembro do ano passado, dirigentes do PT e interlocutores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procuraram a família do ex-ministro em busca de informações sobre a possibilidade de ele fechar um acordo de delação premiada. Depois, tentaram descobrir se o ex-ministro estaria disposto a mudar de ideia de colaborar com a força-tarefa.

Segundo oito fontes próximas a Lula, PT e Palocci ouvidas pelo 'Estado', dirigentes do partido em Ribeirão Preto e líderes nacionais da legenda procuraram o pediatra Pedro Palocci, irmão mais velho do ex-ministro, atrás de informações sobre a delação.

Conforme essas fontes, a partir de maio, quando Palocci contratou um advogado especializado em delações, seu irmão deixou de receber os petistas, que interpretaram as negativas como um sinal de que Pedro estaria incentivando a delação.

As relações financeiras e societárias do ex-ministro com seu irmão são alvo de investigações da Lava Jato, que apura também o sumiço de livros de registro de transferências de ações do Hospital São Lucas, em Ribeirão Preto, pertencente a Pedro. Procurado por meio da assessoria do hospital, o médico se recusou a comentar o assunto.

Em abril, antes de Palocci propor o acordo de delação, o ex-prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho, presidente do diretório estadual do PT e um dos mais próximos aliados de Lula, se encontrou com Antonia Palocci, a dona Toninha, mãe de Palocci, durante uma passagem por Ribeirão Preto. Segundo relatos, a iniciativa partiu de dona Toninha e na conversa ela teria dito não acreditar que o filho faria delação.

Cerca de um mês atrás, quando as negociações entre Palocci e a Lava Jato já eram públicas, o deputado federal Paulo Teixeira (SP), vice-presidente nacional do PT, encontrou Toninha em uma reunião do partido na cidade. Segundo ele, não se tocou no assunto de delação.

Fundadora do PT e membro suplente do diretório municipal, a mãe de Palocci era uma das mais ativas militantes do partido na cidade. Mesmo com dificuldade de locomoção, aos 82 anos, dona Toninha fazia questão de manter o trabalho quase diário nas comunidades mais pobres. Em períodos eleitorais, costumava ir de porta em porta pedindo votos.

Afastamento

Após o filho passar a disparar contra Lula e o PT, ela se afastou das atividades partidárias e, dividida entre a tristeza de ver o filho caçula preso e a fidelidade às suas convicções políticas, decidiu se recolher. Segundo um ex-vizinho, recentemente, em uma excursão de ônibus para Caldas Novas, em Goiás, ela pediu para não comentar o assunto.

De acordo com pessoas próximas a Lula, depois do depoimento de Palocci à Lava Jato, no qual disse que o ex-presidente fez um "pacto de sangue" com o empreiteiro Emílio Odebrecht, Toninha enviou mensagem de solidariedade ao ex-presidente demonstrando contrariedade com a opção do filho.

O ex-presidente chegou a tocar no assunto durante seu depoimento ao juiz Sérgio Moro no dia 13 de setembro. "Eu fico pensando como é que está pensando a mãe dele agora, que é militante do PT e fundadora do PT", disse Lula.

A reportagem procurou Toninha Palocci em cinco endereços, mas foi informada de que ela havia se mudado de dois deles e não morava nos outros três. A mãe do ex-ministro também foi procurada por meio da assessoria do hospital de seu filho, mas não respondeu.

Decepção

Quem tem falado com Lula nos últimos dias afirma que o ex-presidente não esconde a decepção com Palocci. Ele tem dito que já esperava a delação, mas não se conforma com o que chama de "mentiras".

O ex-presidente diz que nunca pediria a alguém que já foi demitido por ele para lidar com dinheiro sujo para o PT ou para o Instituto Lula. Para reforçar sua versão, cita uma história de 2006. Segundo ele, quando veio à tona o caso da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, teria dito a Palocci que arrumasse uma "história convincente", do contrário seria demitido. Palocci teria dito que a história era a publicada nos jornais e Lula rebateu: "Então está demitido".

O Instituto Lula e o PT nacional não comentaram os contatos com a família do ex-ministro e reafirmaram que ele mente.

A postura do ex-ministro surpreendeu o PT de Ribeirão Preto. "Fiquei surpreso. Mas é lógico que a gente não esperava dele a resistência de um José Dirceu ou de um João Vaccari", disse o presidente municipal do partido, Fernando Tremura. Oficialmente, o PT local afirma que, se houve algum contato de seus dirigentes com a família do ex-ministro, foi por iniciativa pessoal e não por decisão partidária.

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