Geraldo Alckmin: tucano tentará pela segunda vez chegar à Presidência da República, desta vez sem um candidato óbvio a ser batido (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 20 de março de 2018 às 19h29.
São Paulo - De perfil comedido, assumidamente "meio Jeca", mas com grande habilidade nos bastidores da política, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tentará pela segunda vez chegar à Presidência da República, desta vez sem um candidato óbvio a ser batido.
Alckmin é um fenômeno no Estado de São Paulo, onde está no quarto mandato como governador e é o símbolo maior do domínio do PSDB, onde os tucanos venceram todas as eleições desde a de 1994, com Mário Covas. Mas fracassou as duas vezes que disputou a prefeitura da capital paulista.
Médico anestesista natural de Pindamonhangaba, onde foi vereador e prefeito, Alckmin, de 65 anos, foi vice de Covas no primeiro mandato e reeleito para o cargo juntamente com o cabeça de chapa em 1998.
Em 2001, com a morte de seu padrinho político, a quem costuma citar em discursos e pronunciamentos, assumiu o comando do governo paulista, cargo que o alçou ao clube de protagonistas da política nacional.
Foi reconduzido ao Palácio dos Bandeirantes no pleito de 2002, quando o estilo comedido lhe rendeu o apelido de "picolé de chuchu", dado pelo colunista José Simão. A alcunha, que o acompanha até hoje, não o incomoda, garante.
Testou seu apelo político fora do Estado em 2006, quando colocou seu nome para desafiar o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de travar, e vencer, uma dura disputa interna velada com José Serra pela indicação tucana ao Planalto.
Após conseguir levar a disputa para o segundo turno, tentou mudar o estilo, adotando tom mais agressivo em relação ao petista. Não funcionou. Depois de conseguir quase 40 milhões de votos no primeiro turno, o tucano viu uma incomum redução de apoio na segunda rodada, quando somou 37,5 milhões de votos.
Nas duas vezes que tentou a prefeitura de São Paulo não conseguiu chegar sequer ao segundo turno. Em 2000, ainda vice-governador, perdeu a segunda vaga por menos de 10 mil votos.
Mas em 2008, dois anos após a derrota presidencial, ficou muito longe da briga para chegar à segunda rodada. Naquela eleição sofreu com a falta de apoio do próprio partido. José Serra havia sido eleito governador em 2006 e seu grupo político apoiou a reeleição de seu então vice na prefeitura paulistana, Gilberto Kassab, à época no DEM.
Apesar das desavenças com Serra, reaproximou-se do então governador, a quem apoiou na disputa presidencial de 2010 contra Dilma Rousseff. No mesmo ano, voltou a eleger-se governador, sendo reeleito em 2014.
Em 2016, já com poder consolidado dentro do PSDB paulista, Alckmin deu nova demonstração de sua capacidade de articulação. Contra a vontade de tucanos históricos, patrocinou a candidatura de João Doria em uma conturbada prévia interna que definiu o empresário como candidato tucano à prefeitura de São Paulo.
A vitória de Doria em primeiro turno --feito inédito na capital paulista desde o estabelecimento de eleições em dois turnos-- foi vista como demonstração de força de Alckmin para uma possível disputa interna com o senador Aécio Neves (MG) pela candidatura tucana ao Planalto em 2018.
O cenário, no entanto, mudou. Aécio foi atingido em cheio pela delação premiada do empresário Joesley Batista, o que inviabilizou uma repetição de sua candidatura ao Planalto, e Doria passou, à frente da prefeitura paulistana, a adotar agenda nacional, fazendo sombra sobre as pretensões do governador.
A debacle de Aécio acabou alçando Alckmin ao comando da legenda. Inspirado ou não pela atuação midiática de Doria, também passou a ser presença mais constante em redes sociais, divulgando obras e até mesmo momentos em família em seu perfil no Twitter.
Em um desses vídeos, em que ensina um de seus netos as "artimanhas", em suas palavras, do xadrez, acabou por soltar uma frase que muito bem poderia se encaixar em seus esforços de articulação política para chegar à Presidência.
"O segundo objetivo é desenvolver as peças. O primeiro é dominar o centro, segundo as peças desenvolverem", disse Alckmin enquanto gesticulava sobre o tabuleiro e as peças sobre ele.
Com a desidratação das pretensões nacionais de Doria, o governador consolidou-se como principal nome do PSDB para o Planalto, fato que se consumou com a desistência do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, de participar de prévias internas.
Virgílio classificou o modelo de consulta interna proposto como "fraude", disse que havia perdido o respeito por Alckmin e afirmou que, até as piadas que o governador conta são "meio Jeca".
Alckmin respondeu, afirmando que o prefeito de Manaus havia sido injusto com ele e com o partido, mas afirmando: "A única verdade que ele falou é que eu sou meio Jeca".
Católico praticante --vai à missa todos os domingos-- Alckmin gosta de lembrar do conselho de seu pai, ao afirmar que quem enriquece na política é ladrão.
Embora jamais tenha sido atingido em cheio por escândalos de corrupção, teve de conviver com episódios como o cartel nas obras do metrô paulista, uma suposta menção a seu nome --com o codinome "Santo"-- na lista de propinas da Odebrecht e a citação de um delator da empreiteira a seu cunhado como destinatário de recursos que seriam usados em suas campanhas eleitorais em 2010 e 2014. Alckmin nega quaisquer irregularidades.
Casado há 39 anos com Maria Lúcia Alckmin, a "Lu", como costuma se referir, teve três filhos --Geraldo, Sophia e Thomaz, o caçula, que morreu em 2015 em um acidente de helicóptero em Carapicuíba, na Grande São Paulo.