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Agricultura identificou ácaro vivo e bactérias em sementes misteriosas

Pacotes não solicitados começaram a chegar há um mês pelo correio vindos de países da Ásia. Envio mascara fraude

 (Gabriel Zapella/Cidasc/Divulgação)

(Gabriel Zapella/Cidasc/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de outubro de 2020 às 15h53.

Última atualização em 6 de outubro de 2020 às 16h30.

O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura José Guilherme Leal, afirmou nesta terça-feira, 6, que já foram entregues para investigação, aos órgãos competentes, 258 pacotes de sementes não solicitadas. Esses são os volumes que chegaram a produtores brasileiros, que optaram por não plantá-los e entregar ao ministério ou a secretarias estaduais.

Entre as amostras que foram levadas para testes em laboratório, foram encontrados um ácaro vivo, três fungos e duas amostras com bactérias. Além disso, quatro amostras estão sendo investigadas para se averiguar a presença de plantas quarentenárias. "Ainda não temos conclusão das espécies, nem dos fungos nem das bactérias", disse Leal em entrevista coletiva virtual. "Está em processamento no laboratório."

O diretor do Departamento de Serviços Técnicos, José Luís Vargas afirmou que alguns resultados são esperados 30 dias após o início das análises, mas que outros podem demorar mais do que isso. "Muitas vezes é necessário um trabalho de pesquisa, a quantidade de material é tão pequena que pode ser insuficiente para se fazer análise de DNA", disse. "Às vezes precisamos fazer o material se propagar, colocar a semente para germinar e assim ter material para ser analisado."

De acordo com os oficiais, Amazonas e Maranhão são as duas únicas Unidades da Federação em que não houve, até o momento, entrega a autoridades de sementes não solicitadas. As autoridades fizeram um apelo para que quem recebesse algum material desse tipo entregasse assim que possível a autoridades de Agricultura federais ou estaduais - tentando, se possível, manter a embalagem original intacta para facilitar a identificação da origem do produto. Quanto às origens, já foram identificados quatro países.

 

As 258 espécies devolvidas são as que passaram pelas barreiras e chegaram aos produtores brasileiros. Além dessas, de acordo com Leal, foram interceptadas 33.700 amostras de semente no ano pelos Correios em Curitiba (PR), onde os pacotes mais leves que entram no país são centralizados. Desse total, 26.111 foram destruídas e 2.383 foram devolvidas ao seu local de origem - nessas amostras, não foram feitas análises em laboratório. O restante teve a documentação acertada e foi liberado.

Foi destacado o aumento do volume de amostras devolvidas este ano. Em 2019, a média mensal de volumes destruídos ou devolvidos era de 2 mil; no primeiro semestre deste ano, já aumentou para 5 mil por mês.

De acordo com o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas, Carlos Goulart, há indícios de que os envios se tratam de "brushing scam" - esquema realizado em plataformas de comércio eletrônico no qual o vendedor, para aumentar seu ranking, cria pedidos falsos envia os produtos (já que muitos sites só consideram uma ordem validada após o envio). No entanto diz Goulart, "nenhum país chegou ao veredicto de que de fato é isso. Estão todos na mesma situação, avaliando o cenário".

 

Ao ser perguntado se há a chance de uma ação intencional para causar danos, Leal afirmou: "não temos elementos para afirmar que é algo intencional para introduzir um organismo patogênico, prejudicial para agricultura brasileira. Mas o risco existe. Tanto que o resultado preliminar aponta que precisaremos aprofundar a investigação para identificar espécies". Ele destacou que há possibilidade tanto de dano à agricultura quanto às pessoas que manusearem as sementes, caso elas tenham sido tratadas com algum produto químico, por exemplo.

Para quem acabou plantando a semente não solicitada, a recomendação é que entre em contato com as autoridades para o recolhimento do material, mas que o agricultor não transite com a planta por motivos de segurança.

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