Proposta milionária de indenização feita pela Gol foi recusada por viúva de empresário (Divulgação/EXAME)
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2011 às 16h54.
São Paulo – Rosane Gutjahr, esposa do empresário Rolf Ferdinando Gutjahr, morto no acidente entre o jato Legacy e o Boeing 737-800 da Gol, em 2006, está "revoltada e indignada" com a decisão do juiz federal Murilo Mendes, da Vara Federal de Sinop (MT), que condenou os pilotos americanos a prestar serviços comunitários em seu país.
Foi um absurdo. O juiz desconsiderou todas as provas técnicas e ainda converteu a pena em serviços prestados na Embaixada brasileira em Washington. E isso só quando os pilotos tiverem disponibilidade para cumprir a pena. É ridículo. Não tem como entender esse tipo de decisão, diz Rosane, em entrevista a EXAME.com.
Ela reclama que "o magistrado desconsiderou inclusive os três autos de infração que a Anac emitiu reconhecendo tecnicamente a falha dos pilotos". O polêmico acidente foi inclusive debatido durante a campanha eleitoral do ano passado, quando a então candidata Dilma Rousseff culpou os americanos (veja vídeo na próxima página)
A Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907, da qual Rosane é diretora, vai recorrer da decisão. O caso será julgado pelo Tribunal Regional Federal da primeira região, em Brasília. Esperamos que seja feita justiça. Estamos buscando a nossa dignidade e a das pessoas que morreram. O juiz Murilo Mendes está dando de presente o orgulho de toda uma nação. Esperamos a pena máxima de cinco anos de reclusão, já que o homicídio foi considerado culposo. Na nossa visão, ocorreu homicídio doloso (com intenção de matar).
Os familiares das vítimas não se conformam com a reversão da pena. "Isso é para outros casos, como o de pichadores. Tu achas que servir cafezinho na Embaixada brasileira, em Washington, quando eles tiverem tempo para isso, é o suficiente para pagar por esses crimes?
Rosane tenta demonstrar otimismo em relação ao próximo julgamento. "Eu quero estar otimista. Eu preciso acreditar que a sentença será revertida. Isso deve levar pelo menos dois anos e, até lá, os pilotos continuam levando uma vida normal e trabalhando na American Airlines e na ExcelAir.
O empresário Rolf Ferdinando Gutjahr iria completar 52 anos no dia 26 de novembro de 2006 (o acidente aconteceu no dia 29 de setembro daquele ano). A Gol ofereceu uma indenização de US$ 2,5 milhões e a seguradora fez uma proposta de US$ 5 milhões. Rosane as recusou prontamente. Eu não aceitei porque uma das cláusulas era desistir de todo e qualquer processo no Brasil e no exterior. Eu continuei com as ações na Justiça.
Indagada sobre como reestruturou sua vida após o acidente, desabafou: Meu marido pesava 101 quilos. Eu o recebi dentro de um saco de lixo num amontoado. Houve pessoas que não puderam nem fazer um enterro porque não sobrou nada para enterrar. Tudo isso porque os pilotos desligaram o transponder. Como recomper a vida? Eles amputaram essas famílias na sua felicidade. A gente quer pelo menos ter a sensação de que a Justiça está sendo feita.
Dilma culpou os pilotos
No ano passado, durante debate promovido pelo jornal Folha de S. Paulo, a então candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, culpou os pilotos do Legacy pelo acidente. Não há nenhum risco de que desastres como o da Gol ocorram por falha da Anac ou de qualquer órgão de controle. Ela (a tragédia) ocorreu por falha dos pilotos.