Zika: (Alvin Baez / Reuters)
Raphael Martins
Publicado em 17 de fevereiro de 2016 às 17h29.
Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 15h49.
São Paulo – Autoridades, agentes de saúde e militares do Exército saem hoje (13) às ruas em uma grande ação de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
O recorde de casos de dengue no ano passado — mais de 1,6 milhão de casos — e a recente associação da zika com o aumento de casos de microcefalia no país ligaram o alerta vermelho do governo Dilma para uma mais eficaz atitude de prevenção.
Cerca de 220 mil soldados e 300 mil agentes foram designados para visitas a 3 milhões de domicílios em todos os estados da federação para instruir moradores e combater possíveis focos de reprodução do Aedes. Para terrenos vazios e imóveis abandonados, uma medida provisória garante a autorização judicial para entrada à força para limpeza e organização.
As “invasões” para pulverização de inseticidas, porém, só devem acontecer em novas ações marcadas para a partir da semana que vem, entre os dias 15 e 18 de fevereiro. Uma outra fase da operação contará com palestras em escolas públicas como método didático de prevenção.
Mas seria o bastante? Alguns números da operação sob análise mostram que a distribuição da ação pode estar distorcida em relação à urgência de cada localidade.
Como a distribuição dos agentes não foi divulgada pelo governo, EXAME.com considerou que deve estar em linha com a distribuição de militares. Os índices analisados levaram em conta apenas os números públicos.
Pernambuco poderia ser considerado o local em situação mais crítica em relação às doenças relacionadas ao Aedes. Líder em números absolutos de casos notificados de microcefalia, o estado é também o terceiro lugar no ranking do país em casos de dengue notificados em 2015, com 1.107,2 para cada 100 mil habitantes.
Na ação de hoje, será apenas o 9º estado a receber mais militares para o combate ao mosquito, com 9 mil oficiais — 97 para cada 100 mil habitantes, 12º em resultados proporcionais.
Está certo que o estado é apenas o 19º maior em área, o que justificaria o argumento de que seriam necessários menos militares para cobrir o terreno, mas o Rio de Janeiro é o 3º menor estado do país e receberá nada menos que 71 mil soldados.
Ambos terão o mesmo número de municípios visitados, com 30, mas a proporção de oficiais em ação é bem diferente: no Rio haverá 1.600 oficiais para cada 1 mil km², enquanto Pernambuco terá 91.
Com grande população, o Rio de Janeiro foi apenas o 16º estado com mais casos de dengue registrados no ano passado em proporção, com 417,10 para cada 100 mil habitantes. O líder da lista é Goiás, com 2.500,6 casos.
O líder no quesito dengue é o 15º em soldados por 100 mil habitantes e 17º em militar por área. O consolo é o desempenho mais modesto em casos de microcefalia: 69 ocorrências e 1,06 para cada 100 mil habitantes (16º no ranking proporcional do Brasil).
Além do Rio, outro exagero se vê no Distrito Federal, líder absoluto na ação de hoje. Com a menor área do país, o DF terá 18 mil soldados em ação, 4º maior em números absolutos e líder em proporção com 3.100 para cada 1 mil km² de área.
O DF teve apenas 15 casos notificados de microcefalia (18º no país) e apenas 337,90 casos de dengue para cada 100 mil habitantes (19º no ranking de 2015), segundo o Ministério da Saúde.
Entre os estados que foram bastante afetados pela dengue no ano passado, o Mato Grosso do Sul deve ter uma operação mais intensa: são 419,9 soldados por habitante (3º no ranking) e 30,8 deles por 1 mil km² (7ª posição), depois de registrar 1.068,4 casos de dengue para cada 100 mil habitantes em 2015 (4º lugar).
Veja abaixo os índices completos.
UF | Casos de dengue por 100 mil hab. (2015) |
---|---|
Goiás | 2500,6 |
São Paulo | 1665,7 |
Pernambuco | 1107,2 |
Mato Grosso do Sul | 1068,4 |
Minas Gerais | 913,4 |
Espírito Santo | 893,1 |
Acre | 736,5 |
Alagoas | 718,7 |
Ceará | 718,3 |
Rio Grande do Norte | 660,2 |
Mato Grosso | 627,2 |
Tocantins | 594,4 |
Paraíba | 552 |
Paraná | 448,7 |
Amapá | 421,8 |
Rio de Janeiro | 417,1 |
Sergipe | 381,2 |
Bahia | 354 |
Distrito Federal | 337,9 |
Piauí | 238,5 |
Roraima | 219,1 |
Rondônia | 125,5 |
Maranhão | 109,5 |
Pará | 108,7 |
Amazonas | 106,6 |
Santa Catarina | 69,4 |
Rio Grande do Sul | 16 |
UF | Casos de notificados de microcefalia | Casos de microcefalia por 100 mil hab. (jan2016) |
---|---|---|
Pernambuco | 1447 | 15,60 |
Paraíba | 750 | 19,02 |
Bahia | 653 | 4,32 |
Ceará | 251 | 2,84 |
Rio Grande do Norte | 232 | 6,81 |
Rio de Janeiro | 208 | 1,26 |
Alagoas | 185 | 5,57 |
Sergipe | 178 | 8,02 |
Mato Grosso | 157 | 4,72 |
Maranhão | 148 | 2,16 |
São Paulo | 126 | 0,29 |
Piauí | 103 | 3,22 |
Tocantins | 101 | 6,75 |
Goiás | 69 | 1,06 |
Minas Gerais | 58 | 0,28 |
Espírito Santo | 52 | 1,34 |
Acre | 20 | 2,53 |
Distrito Federal | 15 | 0,53 |
Paraná | 10 | 0,09 |
Roraima | 7 | 1,41 |
Pará | 6 | 0,07 |
Mato Grosso do Sul | 4 | 0,15 |
Santa Catarina | 1 | 0,01 |
Rondônia | 1 | 0,06 |
Rio Grande do Sul | 1 | 0,01 |
Amazonas | 0 | 0,00 |
Amapá | 0 | 0,00 |
UF | Militares por 100 mil hab. |
---|---|
Distrito Federal | 631,05 |
Rio de Janeiro | 431,32 |
Mato Grosso do Sul | 419,90 |
Roraima | 402,47 |
Amazonas | 309,78 |
Acre | 189,85 |
Rio Grande do Sul | 160,61 |
Rio Grande do Norte | 132,02 |
Pará | 117,66 |
Rondônia | 114,38 |
Amapá | 106,54 |
Pernambuco | 97,01 |
Mato Grosso | 75,20 |
Piauí | 56,34 |
Goiás | 53,65 |
Minas Gerais | 53,05 |
São Paulo | 48,82 |
Bahia | 39,67 |
Paraíba | 38,03 |
Ceará | 33,93 |
Tocantins | 33,40 |
Paraná | 33,39 |
Santa Catarina | 29,73 |
Sergipe | 27,03 |
Espírito Santo | 23,17 |
Maranhão | 21,89 |
Alagoas | 21,07 |
UF | Militares por 1 mil km² |
---|---|
Distrito Federal | 3.114,19 |
Rio de Janeiro | 1.621,82 |
Pernambuco | 91,77 |
São Paulo | 86,62 |
Rio Grande do Norte | 85,21 |
Rio Grande do Sul | 63,89 |
Mato Grosso do Sul | 30,80 |
Sergipe | 27,37 |
Paraíba | 26,56 |
Alagoas | 25,14 |
Santa Catarina | 20,89 |
Ceará | 20,15 |
Espírito Santo | 19,52 |
Minas Gerais | 18,75 |
Paraná | 18,56 |
Bahia | 10,62 |
Goiás | 10,29 |
Acre | 9,14 |
Roraima | 8,92 |
Rondônia | 8,42 |
Amazonas | 7,70 |
Pará | 7,61 |
Piauí | 7,15 |
Amapá | 5,60 |
Maranhão | 4,52 |
Mato Grosso | 2,77 |
Tocantins | 1,80 |