"Não acredito que houve qualquer beneficiamento a qualquer setor nessas MPs", disse Guido Mantega (Antonio Araújo / Câmara dos Deputados)
Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2015 às 19h48.
Brasília - Na primeira vez em que falou publicamente desde que deixou o governo, no fim do ano passado, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega disse nesta terça-feira, 27, em depoimento à CPI do BNDES, na Câmara dos Deputados, que medidas provisórias não são alvo de tráfico de influência e negou qualquer participação em esquema de compra de MPs investigado pela Polícia Federal.
"Não acredito que houve qualquer beneficiamento a qualquer setor nessas MPs. MPs são feitas de forma técnica e isenta. Não há qualquer participação nossa nessa história", afirmou.
"Nos pautamos para que não haja tráfico de influência de qualquer natureza, não seria admissível e devemos aguardar investigações".
Pedaladas
Questionado sobre os atrasos de repasses de recursos do Tesouro para o BNDES para cobrir os subsídios da União nos empréstimos do banco, Mantega disse que o banco não teve nenhum prejuízo.
"O BNDES não tem nenhuma perda, para cada dia de atraso existe uma remuneração", afirmou.
O ex-ministro disse ainda concordar com o posicionamento do atual titular da Fazenda, Joaquim Levy, de que é preciso fazer ajuste fiscal neste momento, como foi necessário em 1999 e 2002.
"A diferença é que temos condições melhores agora, reserva, mercado interno, menor nível de desemprego", afirmou.
Mantega defendeu a política econômica desenvolvimentista adotada em sua gestão no governo, mas disse que reconhece os problemas enfrentados pela economia atualmente.
"Todos reconhecemos problemas, tivemos seca, queda nas commodities e instabilidade política que atrapalha economia", acrescentou.
'Período bom'
Em tom de brincadeira, o ex-ministro disse que deveria ter deixado o posto antes. "Deveria ter saído no período bom, e não ter ficado para o período de acomodação de crise. É inevitável na economia capitalista", afirmou.
À CPI, Mantega rebateu a fala de um dos deputados e disse que não foi demitido pela presidente Dilma Rousseff.
"Vinha me preparando para sair do governo, fui o ministro mais longevo e tinha sério problema com a família. Já tinha dito que não continuaria se ela fosse reeleita", afirmou.
Em relação às projeções feitas durante o período eleitoral, que não se concretizaram, Mantega disse que houve engano de todo mundo.
"A previsão do Focus para 2014 era de crescimento de mais de 1%. O mercado se enganou, nós enganamos. O ministro Levy achou que em seis meses ia fazer o ajuste. A gente se equivoca, não houve má fé, mas houve equívoco de todos", admitiu.
Ele disse ainda que foi necessário aumentar a tarifa de energia elétrica, porque houve o "azar de uma seca terrível", como também teve o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2001.
"A presidente fez uma aposta em 2013, era unânime que era necessário reduzir as tarifas. Foi um azar", completou.
Mantega admitiu que a economia brasileira passa por sérios problemas, mas que existem vantagens que "não vão se dispersar", como as reservas internacionais e o mercado interno forte.
"Tem que retomar o crescimento, tem que voltar a ter crédito, só estou dando umas pistas porque não quero que digam que estou polemizando com o ministro Levy. Seria uma ofensa à equipe que está aí, que eu respeito", ressaltou.