Maria Carolina de Jesus: autora é uma das principais referências da literatura brasileira (Wikemedia Commons/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 20 de novembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 20 de novembro de 2019 às 10h06.
São Paulo — A questão da raça, do racismo e da cultura negra são indissociáveis de qualquer discussão sobre a identidade brasileira e inspiraram algumas das obras mais importantes da nossa literatura.
Nesse feriado do Dia da Consciência Negra, EXAME listou alguns livros que convidam a uma reflexão sobre um dos temas mais importantes do país:
O livro conta a história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. É a recriação ficcional da história de Luísa Mahin, mãe do poeta Luís Gama, que participou da Revolta dos Malês, na Bahia.
A obra acompanha toda a trajetória de Kehinde, personagem principal, desde que ela foi raptada na África e trazida como escrava ao Brasil, até a busca pelos filhos, o desenvolvimento de sua religiosidade, a obtenção da carta de alforria e o retorno à África.
Ana Maria Gonçalves é uma ex-publicitária, que pediu demissão para se dedicar aos romances.
O livro é o diário autobiográfico de Carolina, uma catadora de papéis, semi-analfabeta, negra, pobre e favelada.
O diário registra fatos importantes da vida social e política do Brasil, iniciando-se em 1955 e terminando em janeiro de 1960. O livro traz tanto impressões pessoais quanto das condições miseráveis de vida em uma favela.
A autora é, até hoje, considerada uma das mais importantes escritoras negras do Brasil. Passou boa parte da vida morando na favela do Canindé, em São Paulo. É um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior, mas ainda não tão celebrado por aqui.
Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação.
O livro reúne um longo ensaio autobiográfico e uma seleção de artigos publicados pela filósofa e militante Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017.
Muitos textos falam de situações do cotidiano como o aumento da intolerância às religiões de matriz africana ou os ataques a celebridades como a repórter da Globo, Maria Júlia Coutinho, Maju, ou a tenista Serena Williams.
Ela também aborda temas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil, além de discutir a obra de autoras de referência para o feminismo, como Simone de Beauvoir.
É um livro de quinze contos que refletem sobre a pobreza, a miséria, a desigualdade social, a violência e a vida de mulheres, negros, favelados e outras diversas personagens envolvidas nesses contextos em dilemas sobre o amor, a vida e a ancestralidade africana.
Tudo isso muito conectado com a vivência da própria autora: Conceição Evaristo é uma mulher negra de pais desconhecidos que nasceu em uma favela da zona sul de Belo Horizonte (MG). Ela dividia sua juventude entre o trabalho como empregada doméstica e os estudos, conseguindo concluir o curso normal somente aos 25 anos.
Mudou-se para o Rio onde foi aprovada em um concurso público para magistério e estudou letras na UFRJ. O livro ganhou o prêmio Jabuti em 2017 na categoria contos.
Uma das maiores referências na defesa dos direitos dos negros no Brasil, mesmo após sua morte, Abdias Nascimento sobrepõe testemunhos pessoais, reflexões e críticas, opondo-se ao discurso oficial sobre a condição do negro e desconstruindo o mito da "democracia racial".
Abdias foi exilado do Brasil durante a ditadura, e, depois da anistia, atuou como deputado e senador. Ele foi um dos principais idealizadores do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra.
A historiadora, ativista e professora Gonzales foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) e do coletivo de mulheres negras Nzinga.
Neste livro, em parceria com o sociólogo Carlos Hasenbalg, ela relaciona o modelo econômico militar com o papel reservado à população negra e fala de classe e racismo, entre outros temas.
Entre 1999 e 2010, a ativista e feminista negra Sueli Carneiro – fundadora do Geledés Instituto da Mulher Negra – produziu inúmeros artigos publicados na imprensa brasileira.
O livro, que reúne alguns dos melhores, é um convite à reflexão e mostra como o o racismo e o sexismo estruturam as relações sociais e políticas do país.
A principal preocupação de Guerreiro Ramos era ser um sociólogo inserido e atuante na sociedade. Neste livro, ele defende uma sociologia engajada, que consiga romper a condição da cultura colonizada dos negros.
A obra busca difundir e apoiar os valores que são inerentes às tradições dos diferentes grupos sociais, principalmente os negros.