Gilmar Mendes critica "distritão" por enfraquecer partidos
Em entrevista à CBN, o presidente do TSE também defendeu mudança no atual sistema presidencial pelo semiparlamentarismo
Reuters
Publicado em 16 de agosto de 2017 às 11h14.
Última atualização em 16 de agosto de 2017 às 11h14.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes , disse nesta quarta-feira, em entrevista à rádio CBN, que tem preocupação com o modelo eleitoral conhecido como "distritão" por enfraquecer os partidos políticos, no dia em que projeto que institui o sistema pode ser votado no plenário da Câmara dos Deputados.
Mendes, que também é ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou ainda que o atual sistema proporcional de lista aberta para as eleições legislativas já "produziu todas as tragédias", e também defendeu mudança no atual sistema presidencial pelo semiparlamentarismo.
"O grande problema do 'distritão', ao meu ver, é que ele acaba por afetar a estabilidade partidária, os partidos deixam de ser importantes. Hoje os partidos têm alguma importância por conta do voto de legenda, no 'distritão' isso desaparece", afirmou.
"Tenho muito preocupação com o distritão, mas sei que a rigor nós estamos vivendo um quadro meio trágico, que o sistema proporcional de lista aberta já produziu todas as tragédias que nós possamos imaginar", acrescentou.
O plenário da Câmara dos Deputados deve votar nesta quarta-feira a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma política que cria um fundo de financiamento de campanhas com previsão de 3,5 bilhões de reais para as próximas eleições e institui o chamado "distritão", sistema de voto majoritário, para as eleições de 2018 e 2020.
A partir de 2022, será adotado, pela proposta, o sistema distrital misto, em que metade dos cargos será preenchida a partir de uma lista fechada enquanto a outra metade será definida pelo sistema de votação majoritária em distritos. Para Mendes, o distrital misto deveria ser utilizado em 2028.
Além da mudança no sistema de votação para o Legislativo, o presidente do TSE defendeu o fim do presidencialismo atual no Brasil, citando como justificativa os processos de impeachment dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Fernando Collor.
"Todas as crises que atingem o presidente paralisam o país... Me parece que deveríamos discutir um modelo semiparlamentar, semipresidencial, que trouxesse essas questões políticas mais corriqueiras para o âmbito do Congresso", disse.
"Também estou certo que o Congresso, assim, também se portaria com maior responsabilidade, especialmente com maior responsabilidade fiscal, porque integraria os destinos do governo, pelo menos a maioria pelo qual ele é governo teria que se acoplar aos destinos do governo, do contrário, acabaria por cair e desfazer-se o Parlamento".
O ministro também disse que existe preocupação na Justiça Eleitoral sobre a distribuição pelos partidos entre seus candidatos dos recursos do proposto fundo eleitoral, o que pode levar a judicializações, mas defendeu o uso de recursos públicos nas eleições pelo "benefício da democracia".
Mendes também disse considerar adequada a discussão, proposta na reforma política, de se determinar mandato de 10 anos para ministros do STF, mas não no atual momento de instabilidade, e criticou a expansão dessa proposta a outros tribunais.