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Tereos fecha safra com 17,3 mi de toneladas de cana — e leva até etanol brasileiro à Europa

Após um 2021 desafiador, Tereos comemorou safra 22/23 no Brasil, com preços do açúcar em alta e crise energética no exterior beneficiando etanol brasileiro

Pierre Santoul, presidente da Tereos no Brasil: expectativa é de 2023 com preço do açúcar "resiliente", apesar dos riscos de recessão (Tereos/Divulgação)

Pierre Santoul, presidente da Tereos no Brasil: expectativa é de 2023 com preço do açúcar "resiliente", apesar dos riscos de recessão (Tereos/Divulgação)

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Carolina Riveira

Publicado em 19 de dezembro de 2022 às 14h07.

Última atualização em 19 de dezembro de 2022 às 14h32.

O braço brasileiro da empresa de alimentos e energia Tereos, com sede na França, encerrou a safra 2022/23 com moagem de 17,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. O resultado configura alta de 11% em relação à safra passada.

O crescimento veio com números acima do esperado no Centro-Sul, medidas direcionadas para recuperar a produção e um clima mais favorável após a seca em 2021, que afetou os resultados do ano passado. Os números foram obtidos em primeira mão pela EXAME.

"Tivemos retomada da produtividade após um 2021 desafiador por causa da seca", diz Pierre Santoul, presidente da Tereos no Brasil. "Sem dúvida, tivemos melhores condições climáticas, com chuvas mais distribuídas, além de estratégias próprias para retomada do nosso canavial."

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Ao todo, foram produzidos na Tereos no Brasil 1,6 milhão de toneladas de açúcar, 480 milhões de litros de etanol e a geração de 1,4 GWh de energia elétrica com biomassa da cana. Da produção, 67% foi destinada ao açúcar e 33% ao etanol (com mistura de açúcar cerca de 20 pontos acima da média do mercado).

Paralelamente, a companhia inaugurou neste ano sua primeira planta de biogás, em Cruz Alta (SP), capaz de gerar energia elétrica e biometano, substituto de combustíveis fósseis. A meta é atingir 100% da frota no canavial abastecida com o biocombustível até 2030.

Colhedora de cana-de-açúcar: momento favorável para o mercado de açúcar em 2022 (Tereos/Divulgação)

Com sede na França e faturamento de € 5,1 bilhões em 2021/22, a Tereos tem atuação em 13 países e é uma cooperativa de mais de 12 mil agricultores pelo mundo. No Brasil, com plantas no estado de São Paulo, são cerca de 10 mil funcionários e faturamento de mais de US$ 1 bilhão. A empresa é focada sobretudo em açúcar e derivados, incluindo a produção de etanol.

O açúcar na recessão

Para 2023, apesar dos riscos de recessão global, Santoul avalia que o açúcar está em boa posição.

"Estamos em uma situação paradoxal: deveria haver um impacto negativo sobre os preços [com os riscos de recessão], mas temos visto resistência muito forte no açúcar na comparação com outros preços. Claro, tem mais chances de os preços caírem do que subirem, mas temos um nível de produção muito bom para a próxima safra", diz.

Ele aponta também que, dada a alta nos custos de produção, o break even (ponto de equilíbrio entre despesas e receita) dos produtores ficou mais alto, o que torna difícil reduções bruscas nos preços. "Há pouca chance de o açúcar voltar para 12 centavos", diz. Além disso, eventual reabertura na China com um fim da política de "covid zero", se mantida, pode trazer retomada na demanda global.

O paradoxo do etanol: exportações recorde, mas risco em casa

Para além do açúcar, em 2022, um dos destaques na Tereos foi a exportação de etanol, que bateu recorde e aumentou 25% em relação a 2021. A empresa obteve certificações para exportar para a Europa, abrindo também o mercado na Califórnia (EUA).

O avanço na Tereos é um retrato do próprio mercado de energia no ano: no geral, a exportação do etanol não costuma valer a pena diante das tarifas nos países destinatários, o que torna difícil a concorrência com insumos locais (como o etanol de milho nos EUA, por exemplo).

Mas, com a guerra na Ucrânia, os preços da energia foram às alturas, e o etanol brasileiro de cana-de-açúcar conseguiu ser competitivo.

"Tem usinas de etanol na Europa funcionando a gás, que está muito caro. Então, mesmo com essas taxas, o etanol fez sentido", explica Santoul.

Na outra ponta, o etanol brasileiro sofreu um baque dentro de casa, com a redução nos preços da gasolina diante da desoneração de ICMS (estadual) e tributos federais no segundo semestre. Baixas no preço da gasolina tornam o etanol menos competitivo.

"A exportação foi importante para mitigar os riscos do mercado interno brasileiro", diz o executivo da Tereos. "Com o governo tomando a decisão de subsidiar combustíveis fósseis, tivemos de absorver uma baixa significativa de preços."

Para 2023, o setor sucro-alcooleiro está atento a quais medidas o governo eleito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomará com relação à Petrobras e aos impostos da gasolina.

Ainda não está claro se a desoneração, que era para ser temporária neste ano, será mantida, ou se o governo pode optar por baixar o preço da gasolina via Petrobras, com alterações na PPI (que mantém os preços internos iguais aos internacionais e já foi criticada por Lula). Santoul diz que a Tereos trabalha com "vários cenários".

Apesar das dúvidas, Santoul aponta que o etanol, no Brasil, continuará sendo chave para a transição energética. O executivo acredita que a eletrificação das frotas não será tão significativa por aqui, dado incentivos como o do RenovaBio (programa de 2016 que visa expandir a produção de biocombustíveis) e a falta de infraestrutura básica de energia — como os riscos de apagão vistos em 2021.

"Na transição energética, está claro que a mistura de soluções vai evoluir dependendo do lugar", diz. "Quando se faz o balanço total do carro a etanol e elétrico, em um país como o Brasil, já vemos o benefício do etanol."


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