TYSON FOODS: a empresa também comprou parte das brasileiras Marfrig e BRF recentemente. / REUTERS/Adam Shrimplin
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 06h05.
Primeiro, a Tyson Foods, gigante americana do setor de processamento de carne, anunciou o fechamento de uma de suas fábricas em Nebraska.
Na sexta-feira, 12, foi a vez da JBS Foods — filial da brasileira JBS nos EUA — informar que encerrará permanentemente uma unidade nos arredores de Los Angeles, responsável pelo preparo de carne bovina para supermercados americanos.
Segundo a empresa, a medida faz parte de uma iniciativa estratégica para otimizar seus negócios de produtos de valor agregado e simplificar as operações em toda a sua rede.
Ambos os fechamentos ocorrem no contexto da crise que afeta o setor de carne nos Estados Unidos. A indústria de carne americana atravessa uma fase de contração do ciclo pecuário, caracterizada pela redução do rebanho e pela menor oferta de animais nos confinamentos.
O impacto direto tem sido o encarecimento da proteína: a carne moída — principal insumo para hambúrgueres — acumula alta de 14% no ano, segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS). Cerca de 80% da carne moída consumida no país é destinada à produção de hambúrgueres.
O rebanho bovino americano está no menor nível em 75 anos, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
A produção deve cair 4% em 2025 e mais 2% em 2026. Desde 2019, o número de cabeças de gado de corte recuou para 27,9 milhões — queda de 13% — e o inventário total de bovinos está no menor patamar desde 1952.
A retração se intensificou nos últimos anos: em 2021, havia 92,6 milhões de cabeças; hoje, são 86,6 milhões.
A pressão sobre os preços resulta de uma combinação de fatores. Além da menor oferta de animais, a seca no oeste dos EUA elevou os custos com ração e reduziu as pastagens, levando muitos pecuaristas a encolher seus rebanhos.
Além disso, a tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros encareceu as importações e elevou ainda mais os preços internos, uma vez que os EUA importava carne bovina do Brasil.
Entre janeiro e novembro, as exportações da proteína brasileira para o mercado norte-americano somaram 244,5 mil toneladas, aumento de 109% ante o mesmo intervalo de 2024, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Carne (Abiec).
Mesmo com sinais recentes de recomposição do rebanho nos EUA, a recuperação é lenta. “Esse é um processo demorado, pois leva de dois a três anos para criar um bezerro até o abate”, afirma Fernando Iglesias, analista de pecuária da Safras & Mercado.
Com isso, a expectativa é de que a oferta restrita persista, mantendo o mercado americano pressionado por mais tempo.
Outro fator que restringe ainda mais a disponibilidade de animais nos EUA é a suspensão, em maio, das importações de gado mexicano pelos EUA, para evitar a disseminação da doença New World Screwworm (NWS), conhecida como “bicheira do Novo Mundo”.
É uma praga altamente devastadora, cujas larvas podem matar o animal e, em casos raros, atingir aves e seres humanos. O gado mexicano era tradicionalmente enviado aos EUA para engorda em confinamentos e posterior abate em frigoríficos americanos — fluxo que agora segue interrompido.
Na tentativa de conter os preços, Trump anunciou no final de novembro o fim da sobretaxa sobre a carne brasileira. Segundo a Abiec, os embarques devem acelerar em dezembro e se aproximar de 35 mil toneladas.
Para Roberto Perosa, os 50 frigoríficos brasileiros habilitados para o mercado americano já começaram a receber novos pedidos e retomaram integralmente a produção de cortes específicos para o país.
Além disso, Trump elevou de 80 mil para 200 mil toneladas o volume importado de carne bovina da Argentina, um dos principais concorrentes do Brasil no mercado de proteína.