Exportação de suco de laranja brasileiro cresce, mas não é suficiente para toda a demanda externa
Alta procura e quebra de safra na Flórida aumentam o interesse pela commodity brasileira, mas falta estoque da indústria para atender importadores
Repórter de Agro
Publicado em 19 de julho de 2023 às 19h33.
Última atualização em 3 de agosto de 2023 às 14h06.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC) apontam que o Brasil encerrou a safra 2022/23 — concluída em junho — com o volume exportado de 1,09 milhão de toneladas de suco de laranja, alta de 9% em relação à safra anterior. A venda externa resultou na receita de US$ 2,1 bilhões, aumento de 28% em comparação à temporada 2021/22, na avaliação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).
Ainda assim, o Brasil não conseguiu atender a todo o volume requerido internacionalmente. Estados Unidos e Europa são os maiores importadores—no total, 98% das exportações vão para o Hemisfério Norte. "O volume que não conseguimos atender é baixo, nada absurdo, mas haveria a possibilidade de exportar mais", afirma Ibiapaba Netto, diretor executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).
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"Por um lado, há uma certa restrição nossa na oferta, devido às três últimas safras que o clima não contribuiu; por outro, existe uma maior valorização do produto, exatamente por conta dessa restrição", ele diz.
Os motivos de não incrementar a comercialização são a falta de estoque e os altos custos de produção.
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Os baixos estoques
O país é o maior produtor mundial de laranja e também o maior exportador do suco, representando 75% do mercado global da bebida. O potencial produtivo do país é de 360 milhões de caixas, ou seja, cerca de 1 milhão de caixas de 40,8 quilos por hectare. São 166 milhões de pés produtivos, em uma área de 365 mil hectares concentrados em 347 municípios entre São Paulo e o Triângulo Mineiro.
Com tudo isso, segundo estimativa da CitrusBR, o país tem atualmente 140 mil toneladas de suco de laranja estocados nas condições apropriadas para exportação. O menor volume desde 2018 e muito pouco para quem tem clientes sedentos.
Há uma demanda aquecida pela commodity desde a pandemia de covid-19, reflexo da maior procura pela vitamina C, as mudanças com o home office e a alta no consumo mais no café da manhã. "De lá para cá, a gente vem manejando estoques, e então veio a pandemia e aumentou demanda", diz o diretor executivo.
Bem quando o interesse de compra aumentou, o clima não ajudou. Na safra 2021/2022, a produção brasileira apresentou uma queda e fez com que parte considerável dos estoques fosse consumida.
"O parque citrícola brasileiro é absolutamente adequado para a demanda aparente que existe hoje. Temos capacidade produtiva e tecnologia para que as plantas produzam bem. São Pedro precisa acertar o clima, porque isso não tem como o produtor controlar", afirma Ibiapaba Netto.
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Redução de área x produtividade
Desde a safra 2015/16, a área produtiva da citricultura em hectares caiu 16,5%. Já a diminuição dos pés de laranja dentro dos pomares foi de apenas 2,7%, número baixo em relação à extensão total. O diretor executivo da CitrusBR esclarece que os números não representam queda de produtividade. Por exemplo, em 2015/16, o Brasil produzia 745 caixas por hectare, número que hoje está em 912.
"Isso significa que melhorou muito a qualidade do manejo, com produtividade mais alta. Por um lado, tem o greening, por outro o produtor está conseguindo produzir mais, principalmente quem já aderiu a tecnologias", afirma.
Greening é o principal pesadelo do produtor rural, doença responsável pela redução do número de árvores e erradicação de pomares.
Combater o malefício exige alto custo de investimento e o pomar contaminado pode ser inteiramente destruído. Por ser oneroso e arriscado, alguns produtores têm desistido da citricultura. "Com custo de produção superalto por conta do greening, temos visto a conversão de área de laranja para o plantio de grãos. O produtor coloca na mesma área uma safra de soja e duas de milho e começou a compensar", diz Ibiapaba Netto.
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A demanda americana
Nos Estados Unidos, a Flórida é maior estado produtor de laranjas. No entanto, produziu 16 milhões de caixas na última safra, menor número da série histórica americana, em 86 anos. Para ter noção, o volume há uma década era de 150 milhões de caixas.
Os fatores que levaram à frustração da safra foram o greening e os furacões no final do ano passado. Não por acaso, o país teve maior necessidade de importação nos últimos anos.
Segundo a Secex, as exportações brasileiras de suco de laranja para os Estados Unidos tiveram alta em 2022/23, totalizando 340,9 mil toneladas, 69% superior ao volume embarcado em 2021/22.A receita totalizou US$ 701,9 milhões, alta de 93%, na mesma comparação.
"Como a produção não deve crescer muito na Flórida no curto prazo, os EUA podem continuar com altas necessidades de importação", avalia o Cepea em relatório.