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Com tratores, 10 mil produtores europeus protestam contra acordo UE-Mercosul

Cerca de 10 mil agricultores dos 27 países que compõem o bloco europeu devem se reunir em Bruxelas para protestar contra a tratativa

Protesto em Bruxelas: agro europeu protesta contra acordo UE-Mercosul na Bélgica (OLIVIER MATTHYS/EFE)

Protesto em Bruxelas: agro europeu protesta contra acordo UE-Mercosul na Bélgica (OLIVIER MATTHYS/EFE)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 09h57.

Agricultores europeus intensificam os protestos em Bruxelas, Bélgica, a partir desta quinta-feira, 18, com a proximidade da votação do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. Segundo o site Politico, cerca de 10 mil produtores dos 27 países do bloco europeu devem se reunir para se manifestar contra o tratado.

"Pedimos a todos que se comportem. Mas talvez o grupo do norte da França — eles são mais radicais — não podemos prever o que farão", afirmou Peter Meedendorp, chefe do Conselho Europeu de Jovens Agricultores (CEJA), uma das principais entidades contrárias ao acordo, em entrevista ao Politico.

Desde 2024, quando as negociações para a assinatura do acordo entre os blocos se intensificaram, agricultores europeus, especialmente da França e da Polônia, têm se mobilizado contra o tratado.

As manifestações ocorrem em um contexto onde as exportações agroalimentares da UE para o Mercosul devem crescer 50%, impulsionadas pela redução das tarifas sobre produtos como vinho e bebidas (até 35%), chocolate (20%) e azeite (10%), segundo estimativas da Comissão Europeia.

Os opositores do acordo argumentam que o setor agrícola europeu perderá competitividade em relação às commodities do Mercosul, principalmente as brasileiras, mais baratas.

Os blocos da União Europeia e do Mercosul juntos representam cerca de 718 milhões de pessoas e economias que somam aproximadamente US$ 22 trilhões. O governo brasileiro espera que a assinatura do acordo ocorra no próximo sábado, 20.

Para atender aos interesses dos agricultores locais, o Conselho Europeu anunciou na noite de quarta-feira, 17, uma série de ajustes nas salvaguardas, em mais uma tentativa de viabilizar o acordo.

As novas salvaguardas estipulam que, caso a importação de um produto específico aumente significativamente ou os preços caiam além do limite considerado aceitável, a União Europeia poderá iniciar uma investigação e revisar a remoção das tarifas ou aplicar outras medidas.

Entre as mudanças, segundo comunicado do Conselho Europeu, está a criação de um mecanismo de resposta mais ágil.

Em casos sensíveis, como as importações de carne bovina fresca, arroz e etanol, a investigação deverá ser concluída em até 21 dias; nos demais casos, o prazo será de quatro meses.

Além disso, o limite que aciona as salvaguardas foi elevado de 5% para 8%. Isso significa que a proteção poderá ser acionada se o volume de importação de um produto aumentar em 8% ou mais, ou se o preço do item importado cair 8% ou mais em comparação com a média dos últimos três anos.

"Essa é uma retórica protecionista. Estudos independentes demonstraram que as concessões em áreas como carne bovina, carne de cordeiro, frango e açúcar não terão impacto na produção europeia. É uma batalha falsa que os agricultores europeus estão travando", afirmou John Clarke, ex-negociador da UE e um dos responsáveis pela estruturação do acordo com o Mercosul, em entrevista à EXAME.

Na terça-feira, 16, o Parlamento Europeu já havia aprovado um pacote de salvaguardas, que agora foi ampliado.

Agro europeu e o acordo

Os agricultores europeus não estão apenas protestando contra o acordo com o Mercosul, mas também reivindicando uma série de demandas.

Segundo o Politico, uma das principais preocupações no momento é o possível corte de recursos destinados à agricultura, à medida que o orçamento da União Europeia para 2027 está em debate.

A Comissão Europeia, por sua vez, assegurou que continuará com os pagamentos diretos aos agricultores após 2027, uma medida essencial para garantir a viabilidade econômica das áreas rurais.

Além das tensões comerciais externas, os agricultores da UE também enfrentam desafios internos. Na França, por exemplo, surtos de doenças animais, como a dermatite nodular contagiosa, têm levado ao abate de rebanhos inteiros, gerando protestos contra as políticas do governo.

Embora o governo francês esteja tentando controlar a situação, a insatisfação é crescente, e os agricultores ameaçam intensificar os protestos caso o acordo com o Mercosul avance.

Outro ponto de tensão são as novas regras ambientais, especialmente as mais rigorosas sobre o uso de pesticidas, que geram frustração no setor agrícola.

Os produtores argumentam que essas medidas dificultam a competitividade, já que os produtos de países terceiros não seguem os mesmos padrões, o que os coloca em desvantagem.

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