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Com trator elétrico e automação, CNH Industrial projeta US$ 1 bi em agricultura de precisão

Fabricante de equipamento agrícola dona das marcas Case e New Holland anunciou lançamento de protótipos de trator elétrico e de GNL

Trator IH Trident 5550 da Case, com direção autônoma: lançamentos do futuro no agro têm foco em menor esforço na direção e economia de combustível (CNH/Divulgação)

Trator IH Trident 5550 da Case, com direção autônoma: lançamentos do futuro no agro têm foco em menor esforço na direção e economia de combustível (CNH/Divulgação)

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Carolina Riveira

Publicado em 16 de dezembro de 2022 às 07h00.

Última atualização em 16 de dezembro de 2022 às 12h19.

Em cenário de queda prevista no preço das commodities, risco de recessão e alta nos custos de produção, a melhoria da produtividade no agro estará no topo das prioridades nos próximos anos. Segunda maior fabricante de equipamentos agrícolas do mundo, a CNH Industrial aposta nessa frente para chegar a seu primeiro US$ 1 bilhão em receita com “tecnologia de precisão” em 2023, com lançamentos para ampliar a produção por hectare e reduzir custos.

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O crescimento anual da companhia nessa área deve ser de 10% a 15% nos próximos três anos, segundo afirmou a empresa no Tech Day, evento global para investidores e imprensa realizado na última semana nos Estados Unidos. Na esteira do crescimento geral do setor, as receitas da CNH Industrial com tecnologia de precisão devem fechar em US$ 900 milhões já em 2022 (o faturamento total do grupo supera US$ 30 bilhões).

O conglomerado italiano, dono de marcas como Case e New Holland e com fábricas no Brasil, anunciou o lançamento de seu primeiro protótipo de trator elétrico e de um trator a gás natural em estado líquido (GNL), além de avanços em software e automação nos novos equipamentos.

A EXAME conheceu parte dos lançamentos da companhia durante demonstração no Arizona, nos Estados Unidos. O mantra entre os executivos do grupo é de que a tecnologia será capaz de reduzir custos em um cenário desafiador para os produtores.

“A inflação está mais alta nos EUA do que no Brasil. Quem pensou que isso aconteceria? É um mundo difícil no qual estamos vivendo”, disse em apresentação o CEO da CNH Industrial, Scott Wine.

O presidente global da New Holland, Carlo Lambro, disse à EXAME que, apesar dos riscos globais e cenário de possível queda no preço das commodities, está confiante no potencial do agro na América do Sul, que ele vê como tendo condições de passar bem pela crise. Parte da frente de agro e construção do grupo CNH Industrial, a New Holland tem fábricas em Curitiba, Sorocaba e Piracicaba.

A busca pelo trator do futuro

Uma das grandes estrelas dentre os lançamentos da CNH nesta temporada é o T4 Eletric Power, apresentado na quinta-feira, 8, e ainda em fase de protótipo. Desenvolvido com a Monarch Tractor, startup da Califórnia (EUA) especializada em eletrificação e automação no agro, o trator será o primeiro totalmente elétrico da New Holland e com direção autônoma.

T4 Electric Power, protótipo da New Holland: pesquisas com equipamento totalmente elétrico (CNH/Divulgação)

O equipamento é da categoria dos “utilitários”, com menor porte e motor de até 120 cavalos. A redução nos custos operacionais pode chegar a 90% com a eliminação do diesel. Uma das apostas da empresa para a utilidade do equipamento são as propriedades agrícolas com gado presente, diante do motor 90% mais silencioso — uma característica que será cada vez mais crucial com o avanço de modelos como o “Pecuária-Lavoura-Floresta”, que vem ganhando espaço no Brasil em manejos sustentáveis.

Junto ao T4, outro lançamento ainda em protótipo é o T7 Methane Power GNL, o primeiro com gás natural liquefeito e capaz de rodar com metano reutilizado dos restos dos animais (uma das principais fontes de poluentes no campo). A tecnologia foi desenvolvida em parceria com a britânica Bennamann, na qual a CNH fez aporte recente.

A promessa é reduzir em 80% as emissões na comparação com o diesel. O T7 deve atuar como um complemento e sucessor do T6 Methane Power (que roda com GNV, gás natural veicular), esse já comercializado no Brasil.

T7 Methane Power com gás natural liquefeito (LNG): promessa de economia de 80% em relação ao diesel (CNH Industrial/Divulgação)

A automação (total ou parcial) nos tratores também se faz presente em boa parte dos novos lançamentos, dos equipamentos para preparo do solo até a colheita. Muitos dos trajetos em todas as fases do plantio já podem ser feitos sem piloto no trator ou com ação humana somente de apoio, realidade que deve se tornar cada vez mais comum nas lavouras à medida que o custo seja reduzido. O objetivo é que, com menos atenção dedicada ao básico da direção, o trabalho possa ser voltado à precisão nas atividades.

Tecnologia precisará ser validada

Nem todas essas inovações, no entanto, devem atender às demandas específicas dos produtores brasileiros já em um primeiro momento.

Parte dos cultivos ainda não gera receita suficiente para valer o investimento nas tecnologias de ponta. Um dos destaques do portfólio recente da CNH, por exemplo, as novas versões da linha Braud 9000 da New Holland para colheita em plantações delicadas (como de frutas) fazem sucesso principalmente nos vinhedos da Itália, e até mesmo em Chile e Argentina. Poderia fazer sentido para itens como o café no Brasil, afirmam executivos, mas o baixo valor de venda no caso de cafés não premium ainda tende a ser um empecilho.

Também é o caso da eletrificação, que embora ajude a reduzir os custos e dependência do diesel, não necessariamente será o modelo ideal para todos os produtores brasileiros — por aqui, avanços em motores híbridos com biocombustíveis devem continuar sendo os mais atrativos inicialmente.

No caso do GNL, por outro lado, um dos maiores entraves também é a infraestrutura para coletar o metano gerado da flatulência do gado e transformá-lo em combustível, estruturas que, idealmente, mais fazendas terão de ter no futuro.

Tecnologia "Omnidrive" para colheita da Raven Industries: com automação, a promessa é de mais tempo para que produtor foque nos dados do processo (CNH/Divulgação)

Já para o T4 elétrico, unidades só devem começar a ser produzidas comercialmente no fim de 2023. No caso do Brasil, a aposta de chegada ao mercado é 2024 ou 2025. Lambro, da New Holland, afirma que uma dezena de fazendas brasileiras devem ser selecionadas para começar em breve a testar o produto e oferecer devolutivas à fabricante antes do lançamento. Os preços comerciais ainda não estão definidos.

“A infraestrutura vai ser fundamental para ter trator elétrico. Está muito ligado à capacidade da fazenda de produzir a própria energia”, diz Lambro. “A tecnologia está desenvolvida. O desafio é validar e preparar o agricultor para utilizar.”

Combo maquinário-software veio para ficar

Realidades locais à parte, a busca por avanço na produtividade será uma demanda inescapável, do norte ao sul global. Os lançamentos marcam ainda nova fase da CNH Industrial, que já foi grupo Fiat Industrial até 2013 e separou em março deste ano a frente de veículos comerciais do braço de agro e construção.

Agora, como vem sendo tendência nas fabricantes do setor, os produtos no guarda-chuva da CNH têm focado, para além da potência de seus motores, na entrega da máquina combinada a softwares de automação, precisão e coleta de dados. Novos sistemas são capazes, por exemplo, de fazer o produtor saber o exato estado do solo e tratar de forma diferente cada perímetro, ou aplicar produtos na área exata das plantas, reduzindo o desperdício.

Colheita: avanço da tecnologia é capaz de oferecer a produtores dados exatos do status do solo e da produção (CNH/Divulgação)

Só em outubro, foram 25 bilhões de unidades de dados nos sistemas da companhia, disse Mukesh Agarwal, vice-presidente da divisão de Software de Precisão e Desenvolvimento de Aplicações na Nuvem. Vindo da Microsoft, Agarwal argumenta que o produtor não deseja se tornar ele próprio um expert em tecnologia e dados, mas reduzir as fricções e desperdícios em seu processo de forma simples. “Isso significa, para nós, pegar esse monte de dados e transformar em inteligência de fato”, disse em apresentação.

Para acelerar o processo, a CNH Industrial tem aberto a carteira para buscar soluções dentro e fora de casa, e investiu nos últimos anos em dezenas de empresas referência nesse tipo de tecnologia. No ano passado, uma das principais aquisições veio da compra da americana Raven Industries, líder em agricultura de precisão, por US$ 2,1 bilhões.

Wine aponta para o aumento da população mundial e a impossibilidade de aumentar a extensão das áreas agrícolas. “Não há muito mais áreas plantáveis”, disse o CEO, afirmando que será possível usar tecnologia para “resolver esses problemas”. É o tom da nova fase no agro global, e a centenária companhia de maquinário corre para não ficar para trás — e provar aos clientes que investir nos equipamentos da fronteira tecnológica trará lucro em dobro no futuro.

*A repórter viajou a convite da CNH Industrial.


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