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Clima favorece algodão em Goiás e contribui para safra recorde da pluma

Expectativa é que o Brasil consiga colher 3 milhões de toneladas de pluma na safra 2022/23

Fazenda Pamplona: Em Cristinalina (GO), lavoura de algodão da SLC Agrícola  (Mariana Grilli/Exame)

Fazenda Pamplona: Em Cristinalina (GO), lavoura de algodão da SLC Agrícola (Mariana Grilli/Exame)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 18 de julho de 2023 às 16h23.

CRISTALINA, GOIÁS - Pelas rodovias que adentram o interior de Goiás, as plumas brancas e cheias anunciam a temporada de colheita do algodão. Nos arredores do município de Cristalina, "o clima foi como um relógio", diz Beatriz Ramos, coordenadora de produção da Fazenda Pamplona, do grupo SLC Agrícola (SLCE3). A produção de algodão, ao longo de 7.900 hectares, pega parte do estado goiano e parte de Minas Gerais, tamanha a sua extensão.

Ramos trabalha na porção mineira da operação, onde a seca permaneceu mais tempo que deveria. "Por mais que sejam regiões aproximadas, em Goiás o clima foi como um relógio e choveu na janela que precisava. Em Minas, faltou chuva no desenvolvimento da planta e teve quebra [de safra]", ela afirma.

Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima, diz que a diferença entre os níveis pluviométrico se deu, pois “os corredores de umidade ficaram mais ao Oeste do Brasil, ou seja, sobre Mato Grosso e Goiás, beneficiando as lavouras nesses estados e prejudicando as plantações no cerrado mineiro”.

A estimativa do time de agrônomos da SLC é que uma região compense a outra. Enquanto a produtividade mineira deve ficar entre 130 e 150 arrobas de pluma por hectare, a expectativa é que em Goiás haja colheita de 350 @/ha. Uma arroba equivale, em valor arredondado, a 15 quilos.

"A colheita está em andamento desde o final de maio. Estamos com uma média de 40% da área colhida. Minas foi abaixo do esperado, mas Goiás vai superar e dar recorde de produtividade", afirma Marcelo Peglow, gerente de unidade de produção da Fazenda Pamplona.

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Produtividade e preço

Branco, marrom, avermelhado, entre outras cores, o algodão está em 1,6 milhão de hectares, conforme dados do 10° Levantamento de Safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que coloca o Brasil entre os quatro maiores produtores mundiais, atrás de China, Índia e Estados Unidos.

Reflexo do desempenho da cotonicultura entre Goiás e Mato Grosso, superior a Minas Gerais e Bahia, a expectativa é que a safra 2022/2023 seja de recorde. Segundo estimativas da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o Brasil deve colher três milhões de toneladas de pluma na atual temporada, acréscimo de 18% em relação ao ciclo anterior.

Na avaliação do meteorologista Marco Antonio, a previsão é que o clima contribua para esta produtividade ser correspondida na colheita, que deve acontecer de meados ao fim de agosto. "Pelos próximos 30 dias, haverá tempo firme e sem chuva nas principais regiões produtoras de algodão, com condições ideais para colher”, diz.

Em relação a valores, nas duas primeiras semanas de julho “os preços do algodão têm se recuperado no mercado nacional, após queda de 12,5% em junho”, diz Marcos Fava Neves, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para ele, “a postura mais firme dos vendedores de sustentar a paridade de exportação tem contribuído com este cenário”.

O especialista pondera que ainda não é o cenário ideal, pois “o preço mensal da pluma vem acumulando queda desde maio do ano passado”. Em relação aos próximos dias, Fava Neves espera que "os preços reajam um pouco, embora provavelmente não voltem aos patamares que experimentamos no último ano”.

Algodão sustentável

O Brasil produz 42% do algodão mundial com o selo Better Cotton Initiative (BCI), licenciamento internacional da cadeia produtiva, presente em 26 países, que atesta a fibra produzida de acordo com padrões de responsabilidade socioambiental.

Até 2030, a Abrapa quer tornar o Brasil o maior exportador de algodão do mundo, passando os EUA. “Falta muito pouco, é um volume irrisório e estamos preparando os produtores para alcançar esse posto. Área e tecnologia para isso, nós temos”,  afirma Marcio Portocarrero, diretor executivo da Abrapa.

Para isso, é importante que a demanda internacional se volte ao Brasil. Não por acaso, Abrapa e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) renovaram mais uma vez o convênio para o programa Cotton Brazil, de promoção do algodão brasileiro no mercado internacional.

Segundo a entidade, o investimento será de R$ 24 milhões para os próximos 24 meses, sendo R$ 10,5 milhões da Apex e R$ 13,5 milhões da Abrapa. Quando iniciada, em 2019, o aporte foi de R$ 5,9 milhões, sendo 48% da Apex e 52% da Abrapa, ao longo de 18 meses. Em seguida, o acordo foi estendido por mais dois anos, com recursos de R$ 18 milhões, 49% da Apex e 51% da Abrapa.

A Abrapa está fazendo ao longo de julho uma série de visitas nas áreas produtivas Goiás, Mato Grosso e Bahia para mostrar o processo do plantio até a fiação. Algumas dos visitantes foram grandes marcas da indústria têxtil, como C&A, Nike e Adidas.

De acordo com Portocarrero, a indústria está monitorando as emissões de gases de efeito estufa na cadeia da cotonicultura. "A eficiência brasileira já permite emitir 32% menos de gases que a média dos produtores Better Cotton no mundo", diz. O baixo percentual de irrigação é uma vatangem brasileria, além das operações mecanizadas representarem apenas 3% das emissões -- baixo percentual em relação a outras commodities. 

*A jornalista viajou a convite do movimento Sou de Algodão, da Abrapa. A reportagem teve colaboração da repórter Iara Siqueira.

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