Repórter
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 16h56.
Última atualização em 16 de dezembro de 2025 às 16h56.
A China começará a aplicar, a partir desta quarta-feira, 17, tarifas antidumping que variam entre 4,9% e 19,8% sobre a carne suína da Europa, com validade de cinco anos. A medida representa um novo aumento nas tensões comerciais entre o país asiático e a União Europeia.
A decisão foi tomada após uma investigação que concluiu que as importações do bloco econômico "estavam sendo alvo de práticas de dumping e prejudicando gravemente a indústria local", disse o Ministério do Comércio chinês, em comunicado nesta terça-feira, 16.
A medida deve impactar principalmente a Espanha, o terceiro maior produtor global e o maior da União Europeia, de acordo com dados do Ministério da Agricultura espanhol. A China, maior consumidor global de carne suína, é o principal destino fora da UE para a carne suína da Espanha.
Em 2024, as exportações da proteína da Espanha superaram 1,097 bilhão de euros (aproximadamente 7,036 bilhões de reais, com a cotação atual), o que corresponde a 11,2% da produção nacional.
A resposta inicial da Espanha foi de cautela, informou a agência AFP. As tarifas para as empresas espanholas terão um valor médio de 9,8%, o que é considerado um "valor administrável" pelo país, afirmou o ministro da Agricultura, Luís Planas, aos jornalistas, destacando que o mercado chinês segue sendo uma "prioridade para o setor de carne suína da Espanha".
Planas expressou sua satisfação por terem "conseguido mitigar o impacto final dessa investigação antidumping".
A Espanha já esperava essa decisão da China, especialmente em um momento delicado, pois seu setor enfrenta outra ameaça: o reaparecimento da peste suína africana, que voltou a ser detectada no país nas últimas semanas, a primeira vez desde 1994.
Para Giuseppe Aloisio, diretor-geral da Associação Espanhola da Indústria de Carnes, a medida da China é "injusta". Ele destacou que se trata de "um resultado inesperado que prejudica uma indústria exemplar", em declarações à AFP.
A China iniciou as investigações sobre o setor suíno europeu logo após a União Europeia sinalizar sua intenção de aplicar tarifas adicionais sobre os carros elétricos fabricados na China, que estão entrando no mercado europeu e competindo com os fabricantes locais.
Os países europeus acusam a China de adotar práticas desleais de comércio, como os subsídios oferecidos pelo governo chinês à sua indústria automobilística.
Além da carne suína, a China também deu início a investigações sobre outros produtos da UE, como conhaque e laticínios.
Produtores espanhóis, assim como de outros países, criticam as tarifas, alegando que estão sendo punidos por questões comerciais alheias ao setor de carne suína, que são na maioria relacionadas a disputas entre a China e a União Europeia.
"É inadmissível que nosso setor esteja sendo usado como moeda de troca em um conflito comercial — o de veículos elétricos — que nada tem a ver conosco", declarou Giuseppe Aloisio.
A carne suína é apenas uma das diversas fontes de atrito entre a União Europeia e a China, que enfrenta um déficit comercial de 357,1 bilhões de dólares (cerca de 1,94 trilhão de reais) com o bloco europeu.
Além disso, os dois lados têm posições divergentes em questões como a guerra na Ucrânia. A China se recusa a ceder às pressões da UE para utilizar sua relação com a Rússia, sua aliada econômica e diplomática, a fim de pressionar Moscou a pôr fim à invasão da Ucrânia.