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Brasil deve superar EUA e ser o maior produtor mundial de carne em 2025

Produção brasileira de carne bovina deve atingir 12,3 milhões de toneladas em 2025, projeta USDA

Corte da picanha: Em 2024, o Brasil produziu 11,85 milhões de toneladas de carne bovina, segundo o USDA (Freepik)

Corte da picanha: Em 2024, o Brasil produziu 11,85 milhões de toneladas de carne bovina, segundo o USDA (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 11h38.

O Brasil deve se tornar o maior produtor mundial de carne bovina em 2025. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país deverá produzir 12,3 milhões de toneladas neste ano, superando os EUA, cuja produção é estimada em 11,8 milhões de toneladas, considerando o peso do animal abatido.

Essa será a primeira vez que o Brasil ocupa a liderança nas estatísticas do USDA, que datam da década de 1960 e sempre tiveram os EUA no topo. Em 2024, o Brasil produziu 11,85 milhões de toneladas de carne bovina, segundo o USDA.

Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, acredita que esse cenário reflete as realidades distintas dos dois países.

"O Brasil está passando por um processo de expansão produtiva, com a adoção de novas tecnologias no campo, o que resulta no aumento da quantidade de animais abatidos. Já os EUA enfrentam uma redução do rebanho, com custos de produção elevados e dificuldades no setor", afirma Iglesias.

A projeção do USDA para 2025 supera a estimativa de novembro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que indicava uma produção de 11,38 milhões de toneladas de carne bovina no Brasil neste ano.

"Basicamente, o que estamos vendo no Brasil é um aumento de produtividade média no setor, resultando no maior abate da nossa história. Em contraste, os EUA estão no pior momento de rebanho desde os anos 70, o que prejudica a produção local", destaca Iglesias.

A indústria de carne americana atravessa um período de contração no ciclo pecuário, marcado pela redução do rebanho e pela menor oferta de animais nos confinamentos. O rebanho bovino americano está no menor nível em 75 anos, segundo o USDA.

Desde 2019, o número de gado de corte nos EUA caiu para 27,9 milhões de cabeças, uma queda de 13%. O inventário total de bovinos está no menor patamar desde 1952. A retração se intensificou nos últimos anos: em 2021, havia 92,6 milhões de cabeças; hoje, são 86,6 milhões.

Além da menor oferta de animais, a seca no oeste dos EUA aumentou os custos com ração e reduziu as pastagens, forçando muitos pecuaristas a encolher seus rebanhos.

A situação fez com que a Tyson Foods, gigante americana do setor de processamento de carne, fechasse uma unidade em Nebraska.

Na sexta-feira, 12, a JBS Foods — filial da brasileira JBS nos EUA — anunciou que fechará permanentemente uma unidade nos arredores de Los Angeles, responsável pelo processamento de carne bovina para supermercados americanos. Segundo a empresa, o fechamento não está relacionado à oferta de gado nos EUA.

No caso brasileiro, além da produção, as exportações também devem bater recorde em 2025.

Os embarques de carne bovina devem renovar o recorde de 4 milhões de toneladas em equivalente carcaça (TEC) alcançado em 2024 e crescer 12%, segundo projeções da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

De janeiro a novembro, o Brasil exportou 3,15 milhões de toneladas de carne bovina, crescimento de 18,3% em relação ao mesmo intervalo de 2024. A receita alcançou US$ 16,18 bilhões, alta de 37,5% na comparação anual, diz a Abiec.

Ciclo pecuário em 2026

Mas, se 2025 é um ano promissor para o setor, as primeiras previsões para 2026 não são tão alvissareiras.

Um levantamento exclusivo da Datagro, consultoria agrícola, estima uma queda de 7,5% no número de abates no próximo ano, para 38 milhões de cabeças, o que deve mexer com a cadeia pecuária.

O motivo da retração é o estágio atual do ciclo pecuário. Mesmo com o recuo, o número é um dos maiores dos últimos anos.

Funciona assim: quando há muito abate, como ocorre agora, a oferta de bezerros diminui. Uma vez que há menos animais para engorda, o preço do bezerro dispara, e ele passa a valer mais do que o boi gordo, aumentando o chamado “ágio da reposição”, que é o valor extra pago pela arroba de um animal de reposição em comparação ao valor obtido na venda do boi gordo.

Diante disso, o pecuarista decide reter as fêmeas no campo, em vez de abatê-las, porque sabe que os bezerros que nascerem no ano seguinte terão alto valor.

Segundo o USDA, a produção brasileira de carne bovina deverá atingir 11,7 milhões de toneladas, número próximo dos EUA, projetado em 11,71 milhões de toneladas.

O cenário deve gerar um efeito cascata. Com a menor oferta, a previsão é de aumento nos preços, o que deve levar o consumo doméstico a cair 7,1%, para 6.043 TEC. Para as exportações de carne bovina, a estimativa também é de retração, de 1,9%, para 3.981 TECs.

Mesmo em um cenário menos favorável em 2026, João Figueiredo, analista da Datagro, afirma que a pecuária brasileira vive um bom momento no mercado externo — e isso deve se manter nos próximos anos.

“O país exporta carne bovina para mais de 150 países. O Brasil tem condição total de atender à demanda do mercado interno e abastecer o mercado mundial nos próximos dez anos”, diz.

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