Além do couro, indústria transforma boi em 250 subprodutos
Regulamento da União Europeia por produtos livres de desmatamento pressiona indústria do couro e faz curtumes se aproximarem da cadeia pecuária para discutir responsabilidade socioambiental
Repórter de Agro
Publicado em 16 de agosto de 2023 às 14h44.
Última atualização em 16 de agosto de 2023 às 16h37.
A indústria consegue transformar um boi em 250 subprodutos. Ao todo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta que 49 segmentos industriais dependem destes derivados bovinos, classificados em comestíveis e não comestíveis.
Entre os subprodutos comestíveis, o fígado é o mais consumido. Já entre os não comestíveis, o produto mais demandado é o couro. Depois de tratada, a pele bovina é transformada em couro e utilizada na fabricação de calçados, revestimentos, material esportivo e artigos de luxo.
- Orizon (ORVR3) e Compass, da Cosan, se juntam em negócio de R$ 450 milhões
- Conheça o megaiate de R$ 60 milhões que será produzido no Brasil; veja fotos
- 100 anos de Copacabana Palace: quanto custa se hospedar em um ícone do Rio?
- Nasce segundo filho de Rihanna e A$AP Rocky: cantora dá à luz uma menina
- Tribunal nos EUA avança com processo de funcionários que roubaram segredos da Apple
- Softbank quer comprar parte restante da ARM antes do IPO em setembro
Leia também:Argentina discute suspender exportação de carne bovina por 15 dias
O Brasil já é o terceiro principal exportador do produto no mundo, movimentando mais de US$2 bilhões ao ano em vendas para mais de 80 países. O valor contribui para o faturamento da cadeia pecuária, que atingiu 153,13 bilhões de reais em 2022, de acordo com dados da Secretaria de Política Agrícola, subordinada ao Ministério da Agricultura e Pecuária.
Aqueles que não podem ser consumidos, são desmembrados em diferentes subprodutos. Por exemplo: a bílis tratada do boi, que é usada em produtos farmacêuticos para problemas digestivos e cálculo biliar, é vendida, seca, para países do Oriente.
10 subprodutos derivados do boi
- A insulina para diabéticos é extraída do pâncreas bovino
- O sebo, não comestível, esse serve para produção de velas, de sabão e de sabonetes perfumados
- Dos pelos da cauda do boi são fabricados pincéis e escovas de cabelo, de roupa e de limpeza
- Dos chifres são extraídos componentes usados no pó do extintor de incêndios
- Ossos, fonte de cálcio e fósforo, são usados na produção de farinhas e rações para cães, gatos e aves
- Os ossos também são usados na fabricação de porcelana, cerâmica e na refinação de prata
- Em usina de açúcar, utiliza-se o carvão de osso para alvejar e refinar doces, biscoitos, tortas e bolos
- O sangue dos bovinos é aproveitado para a produção de plasma, usado na fabricação de embutidos
- O soro extraído do sangue é destinado para confecção de vacinas
- A farinha de sangue é aplicada como fertilizante
Couro responsável
Com grande demanda da indústria automobilística e da moda, os curtumes vêm sendo cobrados para atender aos mercados mais exigentes, como a Europa. Neste contexto, o Parlamento Europeu aprovou, em junho passado, o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), lei que proíbe a importação de produtos originários de áreas desmatadas após dezembro de 2020.
Leia também:Cinco pontos para avançar na atividade de recria e engorda em anos de baixa do ciclo pecuário
A indústria do couro é reconhecida pelo aproveitamento da pele que, potencialmente, seria descartado pelos frigoríficos, mas ainda assi enfrenta desafios na agenda socioambiental, como o desmatamento em biomas como Amazônia e Cerrado e a falta de garantia de bem-estar animal. Nesse contexto, aumenta a necessidade de investimento em rastreabilidade, auditorias e certificações.
No Brasil, os curtumes começam a direcionar esforços para atender aos importadores em conjunto com a cadeia pecuária. O Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB) revela que o país tem 244 plantas curtidoras, 2,8 mil indústrias de componentes para couro e calçados e 120 fábricas de máquinas e equipamentos, gerando 30 mil empregos diretos.
“O couro, se não vira produto, é apenas um resíduo. Dessa forma, a indústria pode ser vista também como uma propulsora da sustentabilidade dentro da pecuária. Como lidam com o 1% do valor negociado por uma cabeça de gado, os curtumes acabam tendo pouco poder de influência, mas têm papel estratégico para promover mudanças no setor, pois, quando comparado à carne, comercializa maior volume com mercados mais exigentes", diz Lisandro Inakake, Coordenador de Projetos em Cadeias Agropecuárias do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
Com o aumento da pressão do mercado, as gigantes compradoras dos curtumes e as certificadoras do setor aumentaram a lista de exigências progressivamente nos últimos anos, colocando como critérios obrigatórios informações como nome dos frigoríficos de origem do couro e localização, até as listas completas das fazendas por onde aquele gado passou.
Leia também:Conheça a designer que administra uma fazenda de frutos do mar com custos de R$ 1 milhão
Pecuária na Amazônia
De olho nisso, a empresaDurlicouros firmou um memorando de entendimento com o Imaflora, com foco no protocolo Boi na Linha -- iniciativa desenvolvida em conjunto com o Ministério Público Federal para fortalecer os compromissos socioambientais da cadeia da carne bovina na Amazônia. A parceria visa o engajamento e capacitação de frigoríficos médios no sentido de implementarem políticas de compra responsável, sistemas de monitoramento de fornecedores e processos de auditoria.
“Percebendo o movimento de criação de novas políticas de compra dos clientes, também avançamos com a estratégia de sustentabilidade a partir da criação de um sistema próprio de monitoramento e dupla checagem dos fornecedores”, diz Ivens Domingos, Gerente de Sustentabilidade na Durlicouros.