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Agtechs brasileiras receberam 75% do investimento em startups do agro na América Latina

Segundo relatório da consultoria Distrito, investimento em startups do agro bateu recorde em 2022 no país - e deve apresentar queda nesse ano 

Utilização de drone para pulverização em lavoura (Secretaria de Agricultura de São Paulo/Divulgação)
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 25 de outubro de 2023 às 13h42.

Última atualização em 25 de outubro de 2023 às 18h09.

A América Latina precisará ampliar em 80% a sua produção agrícola até 2050, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para alimentar a crescente população mundial. E terá de fazer isso com uma pressão por produtividade e sustentabilidade, isto é, produzir mais sem abrir novas áreas. Esse contexto permitiu, nos últimos anos, o crescimento das chamadas agtechs, as startups do agro. O Brasil lidera, de longe, no número de agtechs: 76,5% das startups voltadas para o campo na região estão aqui — 598 de 769. Desde 2017, as agtechs brasileiras participaram de 261 rodadas de investimento, movimentando um total de 491 milhões de dólares — 75% do total da América Latina.

Os dados constam do relatório Agtech Report 2023, da plataforma de inovação Distrito. O país é seguido por Argentina, com 44 rodadas e 102 milhões de dólares em investimentos no período, e pela Colômbia, com 12 rodadas e 52 milhões de dólares.

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O ano passado representou um recorde de investimentos, segundo a Distrito, apesar de o mercado de venture capital ter apresentado declínio em outros setores. Foram 74 rodadas e 273 milhões de dólares — mais que o dobro registrado em 2021.

"Essa situação pode ser explicada por diversos fatores, como a popularização de pautas relativas à conscientização ambiental (aumento de um contingente de consumidores cada vez mais preocupados com a sustentabilidade da produção de alimentos, o que impulsiona o desenvolvimento de soluções mais sustentáveis) e o avanço de novas tecnologias que podem ser aplicadas a soluções de agtechs (ferramentas inovadoras, como inteligência artificial, blockchain e internet das coisas)", diz trecho do Agtech Report.

De maneira geral, o mercado de agtechs na América Latina movimentou 650 milhões de dólares desde 2017. Houve significativo crescimento no volume de negócios envolvendo capital de risco, especialmente entre 2020 e 2022.

Neste ano, com dados até setembro, a Distrito observou 22 rodadas que movimentaram 76 milhões de dólares na região. E projeta um ano menos impactante do que 2022.

Agtechs: em busca de um unicórnio

Apesar de crescimento, ainda não surgiu nenhum unicórnio específico para o setor. Para a Distrito, uma das principais barreiras tem sido a conectividade limitada nas áreas rurais -- somente no Brasil a estimativa é que o valor da produção agrícola poderia aumentar em até 100 bilhões de reais apenas com a expansão da telefonia, segundo a Esalq/USP.

Para a Distrito, há "sinais claros" de um amadurecimento do setor com o aumento do número de investidores nos últimos anos, o crescimento no número de rodadas e investimento disponível. “Se continuarmos caminhando dessa forma, podemos dizer que o unicórnio agro deve surgir em até 5 cinco anos”, afirma Eduardo Fuentes, head de Research do Distrito.

A plataforma de inovação listou as 10 maiores rodadas de agtechs já registradas na região — e três das 10 maiores rodadas de investimento do setor aconteceram em 2022.

Startup Categoria Ano Estágio Valor (em milhões de US$)
SolinfitecProdução2020Private Equity60
AgrofyGestão e gerenciamento2021Series C30
AgrolendFinanças2022Series B27
The Green Coffee CompanyCadeia de suprimentos2023Series C25
AgrofyGestão e gerenciamento2019Series C23
AgrotoolsProdução2022Series B20,92
traiveFinanças2021Series A17
SEEDZGestão e gerenciamento2022Series A16,5
AgrolendFinanças2022Series B15,55
ProSolusProdução2021Series B15

"A startup argentina Agrofy recebeu 3 das 10 maiores rodadas, porém a maior rodada do setor foi captada pela agtech brasileira Solinftec", destaca a Distrito.

Foco na produção

A pesquisa dividiu as áreas de atuação das startups em seis categorias:

Na América Latina, a maior parte das startups se dedica a trazer inovação e soluções para a produção , com 48,3% do total das startups mapeadas. Em relação às categorias com maior número e volume de deals, destacam-se as categorias "Gestão e Gerenciamento", com 90 investimentos que somam mais de U$S 186,7 milhões, e "Produção" com 167 investimentos, atingindo a marca de 286,7 milhões de dólares.

Na comparação com outros países da região, a categoria "Produção" é menos representativa no Brasil, característica similar à categoria "Cadeia de Suprimentos".

"Essas discrepâncias podem indicar uma preferência regional pelo desenvolvimento de soluções em 'Finanças' e 'Gestão e Gerenciamento'", diz o documento. "Isso pode ser explicado por um número absoluto de startups elevado em categorias mais consolidadas, o que estimula novas empresas a seguirem rotas diferentes e mais inovadoras."

Além disso, três em quatro agtechs latinas focam no mercado B2B, atendendo produtores rurais. No Brasil, essa porcentagem é ainda mais expressiva, acima dos 80%.

O relatório também traz diversas subcategorias. Nesse aspecto, agricultura de precisão lidera como a maior subcategoria das startups agro, com 17,7% do total. “Com o surgimento desse nicho, notamos uma onda de inovação para resolver os desafios peculiares do setor agrícola. Desde 2014, assistimos a um crescimento na fundação dessas empresas e o Brasil em particular, tornou-se o epicentro desse movimento”, afirma Gustavo Gierun, cofundador e CEO do Distrito.

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Amadurecimento das agtechs

Segundo a Distrito, apesar do crescimento dos últimos anos, o baixo número de deals em estágio final ( late stage ) demonstra "imaturidade das empresas de tecnologia no agro". “O volume de investimentos em agtechs mais significativo, assim como nos demais ramos de inovação, ocorre em Series B e Series C, já a maior concentração de deals ocorre nos estágios de Pré-Seed e Seed ”, diz Fuentes, do Distrito.

Na avaliação da plataforma, o aumento no número de deals em estágios iniciais pode ser explicado pelo grande número de startups “recém-nascidas” que buscam investimentos para validar seu produto ou serviço e escalar sua operação.

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