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A comunidade ribeirinha que faturou milhões com óleo de copaíba no Amazonas

Por meio de apoio direto a seis organizações sociais, iniciativa do BNDES e Idesam apoia mais de 400 famílias na região amazônica

(Idesam)
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 24 de agosto de 2024 às 07h00.

O óleo de copaíba, geralmente utilizado como anti-inflamatório, tem um valor para uma comunidade ribeirinha da Amazônia que vai além dos seus efeitos medicinais.

O óleo vegetal tem impulsionado as cadeias produtivas de valor locais graças a uma iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) , em parceria com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam). A iniciativa visa transformar a realidade das populações ribeirinhas, e proporciona não apenas um recurso valioso, mas também o desenvolvimento econômico sustentável na região.

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A Amazônia, reconhecida como a região com a maior biodiversidade do planeta, abriga aproximadamente 14.003 espécies de plantas com sementes e 6.727 espécies de árvores nativas, de acordo com um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.

Em cinco municípios do estado do Amazonas, o projeto desenvolve e apoia as cadeias florestais para a madeira e o extrativismo e, dessa forma, fortalece seis organizações sociais e a marca coletiva das comunidades, a Inatú Amazônia, apoiada pelo Fundo Amazônia desde de 2018– ano em começou a parceria do instituto com o banco de fomento .

"Em 2022, lançamos um novo edital para a submissão de propostas voltadas ao apoio dessas comunidades. A relação com o BNDES foi estabelecida por meio desses editais, que permitiram ao Idesam apresentar e concorrer com suas propostas", afirmou à EXAME, Marcus Biazatti, coordenador de projetos do Idesam.

A história de Biazatti com a região é antiga, afinal, o coordenador é da região Norte do país– elenasceu em Rondônia–e foi criado na Amazônia. "Minha atuação é focada na produção em parceria com as comunidades ribeirinhas da região", diz o profissional.

Essas comunidades extraem diversos produtos da floresta, sobretudo óleos vegetais. Por exemplo, em Lábrea e Apuí, no sul do Amazonas, predominam a produção de paíba, andiroba, manteigas e produtos como manteiga de tucumã e manteiga de murumuru. Há também o óleo essencial de breu, que é produzido a partir de uma resina extraída de uma árvore específica.

O óleo essencial de breu, conhecido por seu aroma característico da Amazônia, é utilizado em aromaterapia e para tratar problemas respiratórios, além de ajudar no alívio da ansiedade.

No projeto, o Idesam foca em promover a sustentabilidade e capacita organizações sociais para que possam gerar retorno financeiro direto por meio do extrativismo na floresta para a comunidade ribeirinha, produtores e agricultores.

O objetivo é incentivar a comunidade local a perceber a floresta como uma valiosa fonte de valor econômico e adotar uma abordagem produtiva em relação aos seus recursos naturais.

"Buscamos sempre adaptar nossa abordagem à realidade local, uma vez que os produtores se destacam no manejo e na aplicação de boas práticas florestais. No entanto, enfrentam dificuldades com a gestão burocrática, tanto fiscal quanto na regularização dos seus empreendimentos," reforça Biazzati.

Em seis meses de projeto, asorganizações sociais geraram aproximadamente R$ 1,9 milhão em renda. Esse valor foi obtido através de 119 vendas para 52 clientes regulares, resultando na comercialização de 34 toneladas de produtos não madeireiros e 4,8 mil unidades de produtos fracionados em embalagens que variam de 10 a 1.000 ml– mais de 400 famílias estão envolvidas na iniciativa e lideram as operações de comercialização.

Além disso, mais de 480 pessoas participaram das ações e atividades desenvolvidas pelo projeto, como capacitações técnicas, fortalecimento produtivo e organizacional e assistência técnica produtiva, nas regiões de Apuí, Caruaru, Itapiranga, Lábrea, São Sebastião do Uatumã. Desse total, cerca de 18% do público é composto por mulheres.

Foram gerados 213 postos de trabalho por pessoas diretamente envolvidas nas cadeias produtivas do extrativismo de produtos não madeireiros (óleos amazônicos e manteigas vegetais).

Valor para os ribeirinhos

O projeto teve sua etapa inicial com a abertura de chamamento público para recepção de propostas de apoio. Ao se inscrever na iniciativa, as organizações preencheram um formulário onde apresentaram os principais gargalos de suas atividades.

Entre as principais lacunas, foram destacadas apoio de assessoria técnica para gestão produtiva, rastreabilidade para mostrar um produto de origem sustentável e gestão organizacional. Para além da questão financeira, os impactos do projeto têm sido percebidos no dia a dia das comunidades.

Em 2022, mais de 38 toneladas de copaíba foram comercializadas, sendo que 80% foram provenientes de comunidades indígenas e terras indígenas. A copaíba ganhou reconhecimento global devido ao óleo extraído de seu tronco, que pode atingir até 30 metros de altura e um metro de diâmetro.

O óleo é versátil e pode ser utilizado em diversos setores: na fabricação de biodiesel, tintas e vernizes, além de sua aplicação na produção de cosméticos e em tratamentos medicinais.

"No início, éramos recebidos predominantemente por homens, enquanto as mulheres ficavam ocupadas com tarefas domésticas. Atualmente, as mulheres desempenham um papel mais visível e ativo, participando de forma significativa, representando cerca de 30 a 40% das atividades", afirma Sandra Barra Maia, responsável pela área de comercialização da Associação de Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha.

Outro grupo social que foi transformado, segundo Maia, é o dos jovens. De acordo com ela, havia pouco ou nenhum interesse por parte deles quando o projeto começou, mas a perspectiva agora é outra. "Conseguimos mostrar que são capazes de produzir e melhorar suas condições de vida", diz Maia.

O próximo passo a partir de agora será desenvolver um aplicativo para o manejo florestal comunitário e a identificação botânica das espécies madeireiras para os planos de manejo comunitários. Ao término do projeto, será realizada uma comparação entre a realidade das cadeias produtivas antes e após a iniciativa– e as expectativas estão altas.

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