Yellow e Grin juntas: o casamento da bicicleta com o patinete elétrico
As startups brasileira e mexicana anunciam uma fusão e um investimento de 150 milhões de dólares para se proteger da concorrência americana
Filipe Serrano
Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 13h30.
Última atualização em 7 de junho de 2019 às 17h28.
São Paulo — A startup brasileira Yellow e a mexicana Grin anunciam nesta quarta-feira, 30, uma fusão das duas empresas que operam o aluguel de bicicletas e de patinetes elétricos compartilhados em cidades do Brasil e de outros seis países da América Latina.
Com a união, as startups levantaram um investimento adicional de 150 milhões de dólares com os fundos que já eram sócios das empresas com o objetivo de expandir a presença na América Latina e se preparar para uma eventual concorrência de startups americanas, que já sinalizaram que devem entrar no Brasil em 2019. Entre os principais investidores das startups estão os fundos GGV Capital, Monashees, Y Combinator, Trinity Ventures, Shasta Venture, Base10 e outros, que já haviam investido cerca de 145 milhões de dólares nas duas startups até 2018.
“Vemos que o nosso mercado mudará muito rápido e, se pensarmos em tudo que queremos realizar, era muito claro que agora era o momento de fazer esta fusão”, disse a EXAME o mexicano Sergio Romo, fundador da Grin, que será o presidente da nova startup. “Temos que pensar não somente no que deve ocorrer em 2019, mas também numa estratégia de como sair na frente da concorrência e ganhar daqui a cinco anos.”
Em abril do ano passado, o aplicativo de transporte Uber comprou a startup de bicicletas compartilhadas Jump, que opera em 12 cidades americanas e em Berlim, na Alemanha, e tem dado sinais de que pretende trazer o serviço para o Brasil. Outra empresa de bicicletas e patinetes elétricos que pretende estrear no país em 2019 é a Lime, o que também deve aumentar a concorrência da Yellow e da Grin.
Segundo Ariel Lambrecht, um dos fundadores da Yellow, por enquanto os aplicativos vão continuar operando separadamente e ainda não há uma definição se uma das marcas será extinta. “A primeira coisa que deve acontecer é as pessoas conseguirem usar os veículos da Grin com o aplicativo da Yellow ou vice-versa”, diz Lambrecht, que agora terá o cargo de diretor-executivo de produtos (ou chief product officer).
Com a fusão, Eduardo Musa, cofundador da Yellow e ex-presidente da fabricante de bicicletas Caloi, deixará o dia a dia da administração da startup.
A nova empresa combinada será batizada de Grow (união de Grin e Yellow) e se tornará uma das maiores operadoras de bicicletas e patinetes compartilhadas do mundo, com 135.000 veículos disponíveis em 17 cidades.
As duas startups começaram a operar no segundo semestre de 2018 realizaram em cerca de seis meses 2,7 milhões de corridas de bicicletas e patinetes. Ao todo, Grin e Yellow empregam cerca de 1.100 funcionários, espalhados em escritórios no Brasil, no México e outros países latino-americanos.
Presentes em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, além de Cidade do México, Bogotá (Colômbia) e Santiago (Chile), as bicicletas amarelas da Yellow e os patinetes verdes da Grin se tornaram uma nova alternativa de transporte urbano e um símbolo de um movimento para reduzir a dependência dos automóveis.
Um dos objetivos da fusão, segundo Lambrecht, é aproveitar as vantagens que cada um dos aplicativos oferecem. Um deles é o sistema desenvolvido pela Yellow para aceitar pagamentos em dinheiro, por meio de comerciantes revendedores credenciados. O sistema é uma forma de contornar o problema de que muitas pessoas no Brasil e em países na América Latina não utilizam cartão de crédito. Do lado da Grin, a ideia é a aproveitar uma parceira com a startup de entregas Rappi. Ela permite que clientes da Rappi usem o aplicativo para desbloquear os patinetes da Grin. O plano é levar o mesmo sistema para as bicicletas da Yellow.
O serviço de aluguel de bicicletas da Yellow vinha se expandindo rapidamente no Brasil, seguindo um modelo que não utiliza estações fixas que se tornou bastante popular na China. No país asiático, porém, a principal empresa que opera bicicletas, chamada Ofo, vem enfrentando dificuldades para manter a operação por causa dos altos custos envolvidos na manutenção e na operação das bicicletas. Recentemente, a Yellow também havia começado a oferecer patinetes elétricos em São Paulo.
No Brasil, a Yellow ainda enfrenta a concorrência de empresas como a Tembici, que opera as bicicletas patrocinadas pelo banco Itaú em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais, e que também vem se expandindo para a América Latina.
Já a mexicana Grin opera apenas patinetes elétricos e vinha crescendo na América Latina por meio de aquisições. Em outubro, comprou a brasileira Ride e, aos poucos, começou a disponibilizar seus patinetes em São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro. A última fusão havia sido anunciada no dia 25 de janeiro, quando a Grin se uniu à startup uruguaia Mono, que também opera patinetes elétricos no país.