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Lucas Agrela
Publicado em 28 de março de 2018 às 15h55.
Uma aposta das operadoras é o foco na conectividade Wi-Fi, seja em sua gestão doméstica ou na oportunidade de monetização com a oferta em hotposts. Porém, o uso da conectividade em frequência não licenciada traz uma série de desafios, como a gestão da própria qualidade do serviço, o handoff entre pontos de acesso e o backhaul, conforme explicaram representantes desse mercado em debate no Fórum de Operadoras Alternativas nesta segunda-feira, 26, em São Paulo.
A Oi aposta no Wi-Fi. Ela conta com 2 milhões de hotposts no Brasil, incluindo os acessos com redes públicas através de roteadores domésticos, e contabiliza uma base de 20 milhões de hotspots em 20 países por meio de parcerias. Além disso, tem 10 milhões de downloads e 1,7 milhão de aplicativo Oi WiFi ativos, com 85% dos acessos feitos através do app. O app e o portal juntos contabilizam 41 milhões de acessos mensais, ou um milhão de usuários únicos.
A empresa pretende monetizar essa infraestrutura por meio de acordos para otimizar retorno em publicidade no acesso, ou por meio de análise de big data com dados anônimos e em clusters para dar "insights" para estabelecimentos no varejo. "Conseguimos informar as pessoas, dá para ver o meio de transporte usado, e tomar a decisão se vale a pena abrir a loja no ponto A ou B", explica o diretor gerente de inovação e novos negócios da operadora, Alexandre de Castro. "Estamos começando agora a atuar, ainda é algo novo, mas já tem gerado oportunidades interessantes."
O representante da Oi garante que não há violação de privacidade com a prática, uma vez que os dados permanecem separados. "Não misturamos os dados coletados na rede Wi-Fi com o da rede da operadora, existe um 'chinese wall', até por necessidade regulatória", disse. A partir desses dados, que não teria como correlacionar e nem restaurar os dados anônimos. "Nada é feito individualmente, não preciso fazer a inda e a vinda da anonimização", declara.
Castro explica também que há o desafio de melhorar a gestão da rede Wi-Fi residencial, o que traz impacto direto na experiência de banda larga do usuário. Assim como outras operadoras, a Oi conta com aplicativo de autoatendimento para realizar o "troubleshoot na rede", fazendo uma leitura de qualidade e permitindo um passo-a-passo semelhante ao que o usuário faria com um atendente real. "O próximo desafio é como conseguir entregar qualidade de rede (Wi-Fi) para a casa do cliente", declara, citando a gestão fina do sinal para otimizar o acesso em diferentes cômodos nas residências. "Estamos voltando a um novo ciclo de experiência".
Segundo o CTO da Mobicare, Felipe Goldin, o Brasil começa a expandir a prática do Wi-Fi community, aproveitando o ecossistema de roteadores residenciais com redes abertas. Ele contabiliza que as redes de hotspots da Oi combinada com a da Claro/Net totalizam 6 milhões de pontos de acesso (além dos 2 milhões da Oi, são 4 milhões para o grupo da América Móvil), com mais de 100 milhões de dispositivos únicos. "Não são usuários, mas 100 milhões de clientes em potencial, são oportunidade de monetização", declara. Ele sugere que as operadoras que tenham capacidade de offload sobrando podem inclusive oferecer para MVNOs, como é o modelo operacional do projeto Google Fi nos Estados Unidos.
A estratégia da Linktel é diferente, uma vez que só trabalha com pontos de acesso públicos, em locais como aeroportos, estádios e estabelecimentos comerciais. A empresa tem 9 mil hotspots no País, com previsão de 10 mil até o final de 2019. O presidente da companhia, Jonas Trunk, conta mais de 80 shoppings, 120 hotéis, 337 lanchonetes da rede McDonalds e 105 cafés Starbucks. Entre os projetos de destaque estão os de extensão de conectividade, como nos 13 km da ponte Rio-Niterói e nos 23 km de cobertura em rodovia na Baixada Fluminense. "Finalmente vamos entregar a obra nesta semana, foi um parto. Conseguimos fazer handoff do Wi-Fi com a Cisco, simulando uma rede móvel", explica.
Trunk declara que não considera uma barreira o custo para instalação de equipamentos em locais públicos de grande densidade como aeroportos, por exemplo. Porém, ressalta que há a necessidade de taxas, incluindo "10% de tudo que você fizer dentro do Wi-Fi na Infraero", o que acaba encarecendo a operação. "Hoje eu entendo porque o cafezinho é tão caro lá."
Já no caso da operadora WiFi Legal, a ideia é trabalhar com rede mesh. O CEO da empresa, Wagner Sansevero, explica que está desenvolvendo um projeto para levar conectividade à comunidade de Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo. "Entendemos que as redes mesh têm potencial, mas (a tecnologia) não está homologada ainda. Estamos em fase inicial, no entorno da região da empresa, no Ipiranga. Mas Heliópolis é nosso projeto para o final do ano, queremos conectar 200 mil pessoas", conta. O problema, na visão dele, é o backhaul. Sansevero explica que usar capacidade de satélite é caro, e que a 4G (que é usada pela empresa) não traz qualidade suficiente.