Tecnologia

Vem aí o IPO do Snapchat

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York O Snapchat, rede social do momento para quem tem até 25 anos e um mistério para quem já passou dessa idade, registrou na quinta-feira os documentos para a abertura do capital na Bolsa de Nova York. A expectativa é que a empresa atinja um valor de mercado de até […]

BOLSA DE NOVA YORK DECORADA COM FAIXA DO SNAPCHAT: a expectativa é que a empresa atinja um valor de mercado de até 25 bilhões de dólares quando as ações começarem a ser negociadas / Brendan McDermid/ Reuters

BOLSA DE NOVA YORK DECORADA COM FAIXA DO SNAPCHAT: a expectativa é que a empresa atinja um valor de mercado de até 25 bilhões de dólares quando as ações começarem a ser negociadas / Brendan McDermid/ Reuters

DR

Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2017 às 19h20.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h03.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

O Snapchat, rede social do momento para quem tem até 25 anos e um mistério para quem já passou dessa idade, registrou na quinta-feira os documentos para a abertura do capital na Bolsa de Nova York. A expectativa é que a empresa atinja um valor de mercado de até 25 bilhões de dólares quando as ações começarem a ser negociadas. Trata-se do IPO mais aguardado por Wall Street desde 2014, quando a chinesa Alibaba lançou suas ações.

O Snapchat concorre diretamente com o Facebook, e seu modelo de negócios também é baseado em publicidade. No ano passado, O Snapchat teve receitas de 404 milhões de dólares, e 158 milhões de usuários usaram o aplicativo diariamente no último trimestre, boa parte deles jovens de 18 a 34 anos, a fatia mais desejada pelo mercado publicitário. Mas a companhia ainda perde dinheiro: o prejuízo foi de 514 milhões de dólares em 2016. A pergunta que os investidores se fazem é se o Snapchat terá fôlego para competir com um gigante do tamanho do Facebook, que tem mais de 10 vezes o número de usuários, receitas dezenas de vezes maiores e nenhum pudor em copiar o sucesso da concorrência.

O Snapchat nasceu há pouco mais de cinco anos como um aplicativo de troca de fotos e mensagens diferente: depois de um período, elas desapareciam. Não demorou para que a ideia fosse adotada pelos adolescentes. Fotos embaraçosas ou picantes poderiam ser trocadas sem o risco de que ficassem guardadas para sempre, sem falar na sensação de impermanência numa época em que a vida fica registrada para a eternidade nos servidores do Facebook, do Instagram e do Twitter.

A versão atual do aplicativo tem mais recursos, como mensagens e chats de vídeo, “histórias” (mais sobre elas adiante) e canais oficiais de marcas e veículos de mídia. Mas a interface continua sendo pouquíssimo intuitiva, e muitos novos usuários ficam frustrados quando tentam usar o Snapchat pela primeira vez – algo que também dá à empresa uma aura “jovem”, um reduto descolado da internet em comparação com o “velho” Facebook.

A questão é que cada vez mais gente está disposta a aprender a usar o Snapchat. Além dos amigos, a rede social conta com um grande números de celebridades – não é à toa que, apesar de fundada por ex-alunos da Universidade Stanford, no coração do Vale do Silício, a companhia esteja sediada em Los Angeles. Entre o fim de 2015 e o fim do ano passado, o número de usuários aumentou quase 50%, de acordo com os documentos do IPO. Os heavy users são de longe os mais jovens. Os usuários com menos de 25 anos entram no Snapchat mais de 20 vezes por dia, e passam mais de meia hora por dia usando o app, em média. Em comparação, quem tem mais de 25 anos entra cerca de 12 vezes e passa cerca de 20 minutos diários no aplicativo.

O Snapchat ficou conhecido por causa das mensagens que se autodestroem, mas talvez sua maior inovação sejam as histórias. Essencialmente, o usuário grava clipes de até 10 segundos, que são colados em ordem cronológica. Uma história pode ser um único vídeo ou uma sequência com dezenas deles. Tudo desaparece para sempre depois de 24 horas: quem viu, viu. Quando foram lançadas, há pouco mais de três anos, as histórias introduziram uma nova forma de narrativa nas redes sociais: uma espécie de minidocumentário pessoal, imediato e cru. De vídeos confessionais a colagens sem pé nem cabeça, as histórias do Snapchat abriram uma nova avenida de expressão na internet.

Os concorrentes, é claro, estavam prestando atenção. Em agosto do ano passado, o Instagram, que até então permitia apenas a publicação de fotos e vídeos curtos, copiou a ideia – inclusive o nome. No segundo semestre de 2016, o crescimento do Snapchat desacelerou de forma dramática e, em dezembro, o Instagram Stories já tinha praticamente alcançado os números do concorrente. Além de partir de uma base de usuários enorme (500 milhões de usuários por mês), o Instagram tem presença global. O Snapchat, por sua vez, faz mais sucesso nos países de alta renda e tem pouca penetração em mercados cruciais, como os da Ásia. Os desafios da expansão vão além do marketing. “Não sabemos se seremos capazes de entrar no mercado de maneira aceitável para o governo chinês”, diz o prospecto do IPO do Snapchat.

Mas a China é um problema secundário. Antes vem o apetite implacável do Facebook, que faturou 27,6 bilhões de dólares no ano passado e está chegando perto de 2 bilhões de usuários. Além de ser dono do Instagram, o Facebook investe pesado no aplicativo de mensagens instantâneas Messenger. Ele vem adicionando funcionalidades que o aproximam cada vez mais do que oferece o Snapchat em termos de chat. É claro que o Snapchat é uma empresa muito mais jovem, e suas inovações e modelo de negócios vão evoluir. Mas isso vai acontecer num cenário dominado por uma das maiores empresas da economia da web.

Na internet, pouco se cria e muito se copia, e sendo justo com o Facebook é importante registrar que a empresa tentou comprar o Snapchat no final de 2013 por 3 bilhões de dólares. Evan Spiegel, CEO e co-fundador do Snapchat, explicou alguns meses depois por que recusou a oferta. “Poucas pessoas no mundo têm a chance de construir um negócio como o nosso. Acho que trocar isso por um ganho de curto prazo não é muito interessante.” Em termos financeiros, pelo menos, Spiegel tomou a decisão correta. A um preço de 16,33 dólares por ação (segundo o mercado secundário no fim do ano passado), a fatia de Spiegel na empresa valeria 3,7 bilhões de dólares. Mas isso, é claro, é o curto prazo do qual falava Spiegel. A questão é como ele vai conduzir a empresa no longo prazo.

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Tecnologia

NASA estuda tecnologia para construir 'prédio de mofo' na Lua e em Marte

Facebook pagou US$ 2 bi para criadores de conteúdo em 2024 e consolida sua relevância de monetização

WhatsApp anuncia novas mudanças e agora terá curtida no status e chat personalizado

Samsung reporta lucro abaixo do esperado no 3º trimestre e ações caem 1,15%