Twitter: o fechamento da conta de Yiannopoulos gerou movimentos de protesto e vários hashtags como #FreeMilo, em apoio ao polêmico editor (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de julho de 2016 às 16h43.
O Twitter se envolveu em uma controvérsia após fechar a conta de um editor conservador suspeito de ter contribuído para uma onda de comentários racistas contra a atriz Leslie Jones, com críticos denunciando a medida como um ataque à liberdade de expressão.
Conhecido por seu estilo provocativo, o editor britânico Milo Yiannopoulos, do site conservador americano Breitbart, teve sua conta suspensa na terça-feira após enviar comentários para Jones, protagonista do filme "Caça-Fantasmas".
Enquanto a atriz lamentava ter recebido mensagens agressivas desde o lançamento do filme, na sexta-feira, Yiannopoulos a acusou de se colocar na posição de vítima e a chamou de analfabeta.
Algumas mensagens de internautas anônimos, ainda visíveis no Twitter, compararam Jones com um macaco e afirmaram que ela falava como um homem.
Após os ataques, Jones anunciou que estava deixando o Twitter, "entre lágrimas e com tristeza no coração", segundo uma mensagem publicada na segunda-feira na rede social.
O fechamento da conta de Yiannopoulos gerou movimentos de protesto e vários hashtags como #FreeMilo, em apoio ao polêmico editor, que está em Cleveland para a convenção do Partido Republicano.
Esta suspensão "terá um papel catalizador e fará com que as pessoas reajam" e "abandonem as plataformas que não defendem a liberdade de expressão", disse Yiannopoulos, em um comunicado divulgado através da sua conta do Periscope, na qual se apresenta como "o 'troll' mais bonito e mais bem pago da internet".
Um 'troll' é um internauta que busca causar polêmica ou incomodar as pessoas em discussões nas redes sociais.
"Praça do povo"
"As pessoas devem poder expressar suas opiniões e convicções diversas no Twitter. Mas ninguém merece ser alvo de uma agressão on-line", afirmou o Twitter em um comunicado enviado à AFP.
Acusado por muito tempo de evitar regular o conteúdo publicado na sua rede, o Twitter lançou nos últimos meses várias iniciativas nesse sentido, incluindo a suspensão de milhares de contas vinculadas a jihadistas que incitavam a violência.
"Sabemos que muitos consideram que não fizemos o suficiente para impedir este tipo de comportamento (ofensivo) no Twitter. Concordamos", disse a rede social na mensagem à AFP, acrescentando que "nas próximas semanas" fará anúncios sobre a evolução da sua política relativa às mensagens agressivas.
"Sei que este não vai ser um ponto de vista popular, mas não vejo que Milo tenha dito qualquer coisa a Leslie Jones que merecesse uma suspensão permanente", escreveu no Twitter o jornalista da revista Fortune Matthew Ingram.
"Estas plataformas desempenham o papel da antiga praça do povo, da esfera pública", ressaltou no seu blog a escritora e ativista Jillian York, que colabora com a Fundação Electronic Frontier, dedicada à proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos, como a liberdade de expressão, no universo tecnológico.
"Embora a liberdade de expressão não seja garantida juridicamente nessas plataformas (que são de direito privado), é impossível ignorar o efeito que os limites a essa liberdade podem ter em uma sociedade", acrescentou.
Mark Potok, membro da organização Southern Poverty Law Center, que combate o racismo, defendeu que as empresas de mídias sociais têm o direito de estabelecer suas próprias regras.
"Estas não são, de modo algum, questões relativas à Primeira Emenda (constitucional). O Twitter e outros são corporações privadas que não têm nenhuma obrigação de permitir esse tipo de discursos", disse Potok à AFP.
Potok afirmou também que a falta de políticas levou caos à plataforma on-line Reddit, que se "tornou um inferno para os que não tinham ódio" antes da implementação de diretrizes para controlar as mensagens agressivas.
Alguns estados americanos, principalmente a Virgínia, adotaram leis que sancionam as mensagens de ódio nas redes sociais, inclusive com penas de prisão.