Investigação em 3D: A virtópsia identifica a causa da morte entre 60% e 80% dos casos se comparada com a autópsia, mas em 20 anos, deve alcançar 95% de acerto (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2013 às 10h11.
São Paulo – Elementar, meu caro leitor. Quando precisa descobrir por que alguém morreu, Michael Thali tem o hábito de escanear o cadáver. O diretor do Instituto de Medicina Forense da Universidade de Zurique, na Suíça, não se limita a fazer imagens em 3D do corpo. Se existe a suspeita de assassinato, possíveis armas usadas no homicídio também ganham versões tridimensionais.
O trabalho só fica completo com a recriação de toda a cena do crime por computador. Reunidas, as peças ajudam a identificar quais as causas da morte, como em uma autópsia tradicional, mas sem um corte sequer. O bisturi só entra depois, para conferir se os resultados da análise digital estão corretos.
Mas a equipe suíça pretende eliminar de vez a necessidade de abrir o corpo. A autópsia virtual, ou virtópsia, começou a tomar forma há 15 anos, quando um homicídio provocou comoção na Suíça. A arma usada no crime permanecia um enigma. Richard Dirnhofer, na época diretor do Instituto de Medicina Forense da Universidade de Berna, resolveu escanear o crânio da vítima. Feita a reprodução em 3D, ele descobriu que o assassino usou uma chave inglesa.
O sucesso levou o professor a desenvolver o método. “Começamos a documentar ferimentos em 3D na pele. Como isso funcionava, imaginamos adotar outras técnicas para ver o interior dos corpos”, disse a INFO Michael Thali, que trabalhou com Dirnhofer. Duas são as ferramentas de diagnóstico por imagem usadas em cadáveres: a ressonância magnética e a tomografia. Hoje, o grupo conta até com um robô, o Virtobot, capaz de extrair amostras de tecido para análise. Tudo isso faz com que a virtópsia seja de duas a três vezes mais cara do que a tradicional.
A virtópsia identifica a causa da morte entre 60% e 80% dos casos se comparada com a autópsia. Em 20 anos, deve alcançar 95% de acerto. A evolução é questão de tempo, na opinião de Marcos de Almeida, professor de bioética e medicina legal da Unifesp. Ele diz que a técnica pode ajudar a contornar restrições religiosas à abertura de cadáver. “Com o diagnóstico por imagem, posso localizar um projétil de arma de fogo sem ir atrás dele fisicamente”, afirma.