'Se eu fosse Zuckerberg, compraria a Blackberry', diz analista
O especialista americano Eric Jackson diz que o Facebook tem dificuldade para incorporar tecnologia móvel
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2012 às 13h37.
São Paulo - O americano Eric Jackson, analista do mercado de tecnologia, fez barulho há pouco mais de uma semana ao publicar artigo na revista Forbes em que profetizou a morte do Facebook . A história, é claro, chamou a atenção do mundo digital porque a rede social é uma das estrelas desse mercado. Basta lembrar que, há exatamente um mês, atraiu a cifra de 16 bilhões de dólares na sua chegada à bolsa. "O Facebook desaparecerá até 2020", vaticinou Jackson.
Em entrevista a VEJA.com, o doutor em gestão de negócios pela Universidade de Columbia afirma que a rede social, assim como o Google, ignora o mundo móvel, para onde migram, em alta velocidade, milhões de usuários do serviço. Nesse ponto, ele não exagera: mais da metade dos cadastrados acessa a rede a partir de celulares ou tablets. "O DNA do Facebook não traz know-how para operar na era da internet móvel, mas em uma fase anterior, a da web social", argumenta. Na entrevista a seguir, Jackson detalha sua teoria e ousa dar uma dica para Mark Zuckerberg, CEO e criador da rede social. "Se eu fosse Zuckerberg, compraria a RIM (Research In Motion, fabricante dos smartphones da linha BlackBerry)."
Veja.com - Por que o senhor acredita que o Facebook desaparecerá tão rapidamente?
Eric Jackson - O DNA que garante o sucesso de uma empresa em uma determinada área atrapalha sua adaptação a um cenário novo. O DNA do Facebook não traz know-how para operar na era da internet móvel, mas em uma fase anterior, a da web social. Caso não mude, o serviço pode ter o mesmo fim de Yahoo! e MySpace, que hoje são irrelevantes. A recente criação da Timeline (recurso que apresenta atividades do usuário em forma de linha do tempo) talvez seja o maior exemplo de como o Facebook dá prioridade aos computadores.
Veja.com - Por que é tão difícil para a rede operar na era móvel?
EJ - Hoje, podemos ver que a internet é constituída por três ondas de empreendimentos digitais. A primeira engloba companhias criadas entre 1994 e 2001, que buscavam agregar conteúdos: é o caso do Google e AOL. A segunda é das redes sociais, como LinkedIn, MySpace e Facebook. A última, iniciada em 2010, se dedica exclusivamente ao mundo móvel, são negócios concebidos para funcionar onde o usuário está. É o caso do Instagram (ferramenta de edição e compartilhamento de fotos), do Foursquare (serviço baseado em geolocalização) e do Social Cam (espécie de Instagram de vídeos). O Facebook, por exemplo, não alcançou essa terceira geração.
Veja.com - E o futuro do Google?
EJ - Também sofre sérios riscos. A busca por informações é uma abordagem comum feita em desktops e, até o momento, não vi nenhuma inovação da empresa no sentido de construir uma experiência melhor de pesquisa na área móvel. Acredito que o Siri (assistente pessoal da Apple) possa tomar terreno do Google, uma vez que já está adaptado a prestar serviços, como indicar preços e a qualidade de restaurantes. Talvez o futuro da companhia seja desenvolver carros sem motorista ou até mesmo o Google Glass, óculos de realidade aumentada.
Veja.com - E o Twitter, é uma 'empresa móvel'?
EJ - Sim, é uma empresa genuinamente móvel. As pessoas esquecem que o microblog foi criado para promover a troca de mensagens de texto em ambientes corporativos. O modelo era o SMS, o torpedo de celulares. Logo, a mobilidade está em seu DNA. Por mais que eu considere seu serviço na web ruim, o microblog tem total condição de brigar com o Facebook nas plataformas móveis.
Veja.com - Na sua opinião, que caminho o Facebook deveria trilhar?
EJ - Há quase dois anos, Mark Zuckerberg comentou a possibilidade de criar seu próprio celular, mas garantiu que seu objetivo era apenas desenvolver serviços para todas as plataformas móveis. Questionado se o iPad entraria neste pacote, ele foi direto: "Desculpe, o iPad não é um dispositivo móvel. É um computador." Na época, ele não se importou com a plataforma, tanto que lançou de maneira tardia seu aplicativo para o dispositivo. Ele é um gênio, criou algo incrivelmente fantástico, mas não conseguiu acompanhar as tendências digitais. Esse atraso também já aconteceu com o Google. Quando descobriu a importância da questão social na internet, já tinha visto o crescimento de um gigante, o próprio Facebook. Por isso que considero que o Google+ não terá êxito. Dificilmente a rede social do Google chegará ao nível do Facebook.
Veja.com - Se você fosse Mark Zuckerberg, o que faria?
EJ - Eu compraria a RIM (Research In Motion, fabricante dos smartphones da linha BlackBerry), uma empresa com vasto conhecimento na produção de smartphones, além de inteligência na construção de serviços em plataformas móveis. A corporação não passa por seus melhores dias e poderia ser um investimento barato e vantajoso.
Veja.com - Qual é o próximo Facebook do mundo digital?
EJ - Eu não acredito que o próximo Facebook seja parecido com a rede social, assim como a empresa não tinha nenhuma semelhança com Yahoo! ou Google quando foi concebida nos muros acadêmicos da Universidade Harvard. O próximo grande projeto de tecnologia atenderá um público específico – assim como fez o Instagram – e sua popularidade vai explodir como o uso do Twitter.
São Paulo - O americano Eric Jackson, analista do mercado de tecnologia, fez barulho há pouco mais de uma semana ao publicar artigo na revista Forbes em que profetizou a morte do Facebook . A história, é claro, chamou a atenção do mundo digital porque a rede social é uma das estrelas desse mercado. Basta lembrar que, há exatamente um mês, atraiu a cifra de 16 bilhões de dólares na sua chegada à bolsa. "O Facebook desaparecerá até 2020", vaticinou Jackson.
Em entrevista a VEJA.com, o doutor em gestão de negócios pela Universidade de Columbia afirma que a rede social, assim como o Google, ignora o mundo móvel, para onde migram, em alta velocidade, milhões de usuários do serviço. Nesse ponto, ele não exagera: mais da metade dos cadastrados acessa a rede a partir de celulares ou tablets. "O DNA do Facebook não traz know-how para operar na era da internet móvel, mas em uma fase anterior, a da web social", argumenta. Na entrevista a seguir, Jackson detalha sua teoria e ousa dar uma dica para Mark Zuckerberg, CEO e criador da rede social. "Se eu fosse Zuckerberg, compraria a RIM (Research In Motion, fabricante dos smartphones da linha BlackBerry)."
Veja.com - Por que o senhor acredita que o Facebook desaparecerá tão rapidamente?
Eric Jackson - O DNA que garante o sucesso de uma empresa em uma determinada área atrapalha sua adaptação a um cenário novo. O DNA do Facebook não traz know-how para operar na era da internet móvel, mas em uma fase anterior, a da web social. Caso não mude, o serviço pode ter o mesmo fim de Yahoo! e MySpace, que hoje são irrelevantes. A recente criação da Timeline (recurso que apresenta atividades do usuário em forma de linha do tempo) talvez seja o maior exemplo de como o Facebook dá prioridade aos computadores.
Veja.com - Por que é tão difícil para a rede operar na era móvel?
EJ - Hoje, podemos ver que a internet é constituída por três ondas de empreendimentos digitais. A primeira engloba companhias criadas entre 1994 e 2001, que buscavam agregar conteúdos: é o caso do Google e AOL. A segunda é das redes sociais, como LinkedIn, MySpace e Facebook. A última, iniciada em 2010, se dedica exclusivamente ao mundo móvel, são negócios concebidos para funcionar onde o usuário está. É o caso do Instagram (ferramenta de edição e compartilhamento de fotos), do Foursquare (serviço baseado em geolocalização) e do Social Cam (espécie de Instagram de vídeos). O Facebook, por exemplo, não alcançou essa terceira geração.
Veja.com - E o futuro do Google?
EJ - Também sofre sérios riscos. A busca por informações é uma abordagem comum feita em desktops e, até o momento, não vi nenhuma inovação da empresa no sentido de construir uma experiência melhor de pesquisa na área móvel. Acredito que o Siri (assistente pessoal da Apple) possa tomar terreno do Google, uma vez que já está adaptado a prestar serviços, como indicar preços e a qualidade de restaurantes. Talvez o futuro da companhia seja desenvolver carros sem motorista ou até mesmo o Google Glass, óculos de realidade aumentada.
Veja.com - E o Twitter, é uma 'empresa móvel'?
EJ - Sim, é uma empresa genuinamente móvel. As pessoas esquecem que o microblog foi criado para promover a troca de mensagens de texto em ambientes corporativos. O modelo era o SMS, o torpedo de celulares. Logo, a mobilidade está em seu DNA. Por mais que eu considere seu serviço na web ruim, o microblog tem total condição de brigar com o Facebook nas plataformas móveis.
Veja.com - Na sua opinião, que caminho o Facebook deveria trilhar?
EJ - Há quase dois anos, Mark Zuckerberg comentou a possibilidade de criar seu próprio celular, mas garantiu que seu objetivo era apenas desenvolver serviços para todas as plataformas móveis. Questionado se o iPad entraria neste pacote, ele foi direto: "Desculpe, o iPad não é um dispositivo móvel. É um computador." Na época, ele não se importou com a plataforma, tanto que lançou de maneira tardia seu aplicativo para o dispositivo. Ele é um gênio, criou algo incrivelmente fantástico, mas não conseguiu acompanhar as tendências digitais. Esse atraso também já aconteceu com o Google. Quando descobriu a importância da questão social na internet, já tinha visto o crescimento de um gigante, o próprio Facebook. Por isso que considero que o Google+ não terá êxito. Dificilmente a rede social do Google chegará ao nível do Facebook.
Veja.com - Se você fosse Mark Zuckerberg, o que faria?
EJ - Eu compraria a RIM (Research In Motion, fabricante dos smartphones da linha BlackBerry), uma empresa com vasto conhecimento na produção de smartphones, além de inteligência na construção de serviços em plataformas móveis. A corporação não passa por seus melhores dias e poderia ser um investimento barato e vantajoso.
Veja.com - Qual é o próximo Facebook do mundo digital?
EJ - Eu não acredito que o próximo Facebook seja parecido com a rede social, assim como a empresa não tinha nenhuma semelhança com Yahoo! ou Google quando foi concebida nos muros acadêmicos da Universidade Harvard. O próximo grande projeto de tecnologia atenderá um público específico – assim como fez o Instagram – e sua popularidade vai explodir como o uso do Twitter.