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Região de Manaus torna-se laboratório modelo para pesquisa

Projeto buscará compreender de que forma o processo de urbanização da capital afeta o ecossistema da Amazônia

Manaus: resultados das investigações do GOAmazon permitirão, no futuro, aprimorar os modelos meteorológicos e climáticos (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 12h57.

Manaus – Para entender como o processo de urbanização das regiões tropicais do planeta afetará os ecossistemas locais e o clima global, cerca de 100 pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos que integram o projeto Green Ocean Amazon (GOAmazon) transformaram a região de Manaus, no Amazonas , em um laboratório modelo.

Diversas pesquisas serão realizadas ao longo de 2014 e de 2015, em quatro diferentes locais, em um raio de 150 quilômetros da capital amazonense, com o objetivo de compreender, por exemplo, como se dá a interação entre as partículas de poluição, os compostos naturalmente emitidos pela floresta tropical e as nuvens. Também é uma das metas do projeto desvendar como ocorrem os processos que produzem chuvas nos trópicos.

A campanha científica é financiada pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), pela FAPESP e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Também são parceiros a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Instituto Max Planck de Química, da Alemanha, além de diversas universidades e institutos de pesquisa brasileiros e americanos.

A apresentação oficial do GOAmazon foi realizada nesta terça-feira (18/02), no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), um dos parceiros, em Manaus.

“Esse programa trata de um problema mundial. É preciso, portanto, compartilhar esforços, competências e investimentos para fazer frente a desafios como os que norteiam o GOAmazon. São desafios que, a rigor, não têm fronteiras e as consequências das mudanças climáticas afetam a todos”, disse, durante a mesa de abertura, Odenildo Teixeira Sena, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas.

“A Amazônia é um tema prioritário para nós, do DoE, e sabemos que o desafio não será alcançado sem esse tipo de parceria”, disse Sharlene Weatherwax, diretora associada do Escritório de Pesquisa Biológica e Ambiental do DoE.


Reynaldo Victoria, membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), representou a fundação paulista no evento e destacou a satisfação da entidade com a parceria. “Temos muita vontade de ampliar esse tipo de colaboração, pois só conseguiremos algo melhor para o país e para a ciência se unirmos esforços”, afirmou.

A presidente da Fapeam, Maria Olívia Simão, ressaltou a importância do projeto para a meta de internacionalização da pesquisa no Estado do Amazonas e para a formação de jovens pesquisadores. Afirmou ainda que os trabalhos iniciais do GOAmazon darão origem a um banco de dados extremamente rico, que poderá ser a base para diversos projetos no futuro.

Histórico

Em 2013, as três agências apoiadoras do GOAmazon lançaram uma chamada conjunta de propostas com financiamento total de R$ 24 milhões – sendo R$ 12 milhões oferecidos pelo DoE, R$ 6 milhões pela FAPESP e R$ 6 milhões pela Fapeam. Foram selecionados seis projetos, que contemplam áreas como sistemas atmosféricos, ciências dos ecossistemas terrestres e modelagem climática regional e global.

O grupo de pesquisadores contará com equipamentos do Atmospheric Radiation Measurement (ARM) Facility, do DoE, que estão sendo instalados em 11 contêineres laboratórios na Fazenda Agropecuária Exata S/A, localizada no município de Manacapuru, a 68 quilômetros de Manaus. O local recebe com regularidade a pluma de poluição da capital, transportada por ventos que sopram de leste para oeste nos trópicos.


Os equipamentos serão usados para medir, entre outros fatores, a concentração de gases e de material particulado (aerossóis) na atmosfera, o fluxo de radiação solar e atmosférica, variáveis meteorológicas, como temperatura, velocidade e direção do vento, umidade, pressão atmosférica e fluxo do gás carbônico.

Também serão feitas medições em outros três sítios de pesquisa e utilizadas duas aeronaves – o Gulfstream, do DoE, e o Halo, de origem alemã. Os aviões têm equipamentos para coletar dados de gases-traço, aerossóis e medidas de nuvens.

A história do GOAmazon começou antes da chamada de propostas, em 2008, com o projeto Amazonian Aerosol Characterization Experiment 2008 (AMAZE 08), uma parceria do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e da Harvard University ligada ao Projeto Temático FAPESP “Aeroclima: efeitos diretos e indiretos de aerossóis no clima da Amazônia e Pantanal”, coordenado por Paulo Artaxo, da USP.

“Observamos que havia uma série de questões científicas extremamente relevantes em aberto e percebemos que, para respondê-las, precisaríamos de uma operação mais ampla, com auxílio do sistema do ARM”, afirmou o pesquisador. Artaxo e Scot Martin (Harvard) submeteram então uma proposta ao DoE, que foi aprovada em 2010.

“Depois percebemos que apenas a vinda dos contêineres para Manacapuru seria insuficiente para responder todas as questões, pois precisávamos fazer medições em regiões que não recebiam a pluma de poluição e em locais que recebiam as partículas mais diretamente, para ver a evolução. Veio então a ideia de fazer um conglomerado de sítios de pesquisa com características muito diferentes”, contou Artaxo, que hoje coordena um novo Temático ligado ao GOAmazon.


Também foram agregados à campanha – para somar esforços e equipamentos – outros projetos em andamento com temas relacionados, como o Temático “Processos de nuvens associados aos principais sistemas precipitantes no Brasil: uma contribuição à modelagem da escala de nuvens e ao GPM (Medida Global de Precipitação)”, coordenado por Luiz Augusto Toledo Machado, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e o projeto Torre Alta de Observação da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês), que contará com uma torre de observação de 320 metros de altura e é coordenado por Antonio Ocimar Manzi, do Inpa.

“Estamos aproveitando o fato de ter um grande cidade, com quase 2 milhões de habitantes, em uma área predominantemente natural, onde os ventos alísios levam a poluição de Manaus para o oeste em pelo menos 50% do tempo. Dessa forma, conseguimos medir e avaliar o efeito da poluição da cidade no ciclo de vida dos aerossóis – que servem como núcleo de implantação de nuvens – e no ciclo de vida das nuvens”, explicou Manzi, que também é responsável geral pelo GOAmazon no Brasil.

Segundo ele, os resultados das investigações do GOAmazon permitirão, no futuro, aprimorar os modelos meteorológicos e climáticos. Dentro de alguns anos teremos esses sistemas que provocam chuvas em regiões tropicais úmidas mais bem representados em modelos climáticos e, com isso, eles projetarão cenários futuros de mudanças climáticas com muito mais precisão”, afirmou.

Durante o evento de apresentação em Manaus, representando o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), esteve presente Andrea Ferreira Portela Nunes, da Coordenação Geral de Gestão de Ecossistemas. Também participaram da mesa a secretária municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus, Katia Helena Cruz, e o diretor substituto do Inpa, Estevão Vicente Cavalcante Monteiro de Paula.

Entre os integrantes da rede de pesquisadores do GOAmazon presentes estavam Paulo Artaxo (USP), Karla Longo (Inpe), Luiz Augusto Machado (Inpe), Rodrigo Augusto Ferreira de Souza (Universidade do Estado do Amazonas – UEA), Niro Higuchi (Inpa), Maciel José Ferreira (Universidade Federal do Amazonas – Ufam) e Antonio Ocimar Manzi (Inpa).

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Manaus – Para entender como o processo de urbanização das regiões tropicais do planeta afetará os ecossistemas locais e o clima global, cerca de 100 pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos que integram o projeto Green Ocean Amazon (GOAmazon) transformaram a região de Manaus, no Amazonas , em um laboratório modelo.

Diversas pesquisas serão realizadas ao longo de 2014 e de 2015, em quatro diferentes locais, em um raio de 150 quilômetros da capital amazonense, com o objetivo de compreender, por exemplo, como se dá a interação entre as partículas de poluição, os compostos naturalmente emitidos pela floresta tropical e as nuvens. Também é uma das metas do projeto desvendar como ocorrem os processos que produzem chuvas nos trópicos.

A campanha científica é financiada pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), pela FAPESP e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Também são parceiros a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Instituto Max Planck de Química, da Alemanha, além de diversas universidades e institutos de pesquisa brasileiros e americanos.

A apresentação oficial do GOAmazon foi realizada nesta terça-feira (18/02), no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), um dos parceiros, em Manaus.

“Esse programa trata de um problema mundial. É preciso, portanto, compartilhar esforços, competências e investimentos para fazer frente a desafios como os que norteiam o GOAmazon. São desafios que, a rigor, não têm fronteiras e as consequências das mudanças climáticas afetam a todos”, disse, durante a mesa de abertura, Odenildo Teixeira Sena, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas.

“A Amazônia é um tema prioritário para nós, do DoE, e sabemos que o desafio não será alcançado sem esse tipo de parceria”, disse Sharlene Weatherwax, diretora associada do Escritório de Pesquisa Biológica e Ambiental do DoE.


Reynaldo Victoria, membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), representou a fundação paulista no evento e destacou a satisfação da entidade com a parceria. “Temos muita vontade de ampliar esse tipo de colaboração, pois só conseguiremos algo melhor para o país e para a ciência se unirmos esforços”, afirmou.

A presidente da Fapeam, Maria Olívia Simão, ressaltou a importância do projeto para a meta de internacionalização da pesquisa no Estado do Amazonas e para a formação de jovens pesquisadores. Afirmou ainda que os trabalhos iniciais do GOAmazon darão origem a um banco de dados extremamente rico, que poderá ser a base para diversos projetos no futuro.

Histórico

Em 2013, as três agências apoiadoras do GOAmazon lançaram uma chamada conjunta de propostas com financiamento total de R$ 24 milhões – sendo R$ 12 milhões oferecidos pelo DoE, R$ 6 milhões pela FAPESP e R$ 6 milhões pela Fapeam. Foram selecionados seis projetos, que contemplam áreas como sistemas atmosféricos, ciências dos ecossistemas terrestres e modelagem climática regional e global.

O grupo de pesquisadores contará com equipamentos do Atmospheric Radiation Measurement (ARM) Facility, do DoE, que estão sendo instalados em 11 contêineres laboratórios na Fazenda Agropecuária Exata S/A, localizada no município de Manacapuru, a 68 quilômetros de Manaus. O local recebe com regularidade a pluma de poluição da capital, transportada por ventos que sopram de leste para oeste nos trópicos.


Os equipamentos serão usados para medir, entre outros fatores, a concentração de gases e de material particulado (aerossóis) na atmosfera, o fluxo de radiação solar e atmosférica, variáveis meteorológicas, como temperatura, velocidade e direção do vento, umidade, pressão atmosférica e fluxo do gás carbônico.

Também serão feitas medições em outros três sítios de pesquisa e utilizadas duas aeronaves – o Gulfstream, do DoE, e o Halo, de origem alemã. Os aviões têm equipamentos para coletar dados de gases-traço, aerossóis e medidas de nuvens.

A história do GOAmazon começou antes da chamada de propostas, em 2008, com o projeto Amazonian Aerosol Characterization Experiment 2008 (AMAZE 08), uma parceria do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e da Harvard University ligada ao Projeto Temático FAPESP “Aeroclima: efeitos diretos e indiretos de aerossóis no clima da Amazônia e Pantanal”, coordenado por Paulo Artaxo, da USP.

“Observamos que havia uma série de questões científicas extremamente relevantes em aberto e percebemos que, para respondê-las, precisaríamos de uma operação mais ampla, com auxílio do sistema do ARM”, afirmou o pesquisador. Artaxo e Scot Martin (Harvard) submeteram então uma proposta ao DoE, que foi aprovada em 2010.

“Depois percebemos que apenas a vinda dos contêineres para Manacapuru seria insuficiente para responder todas as questões, pois precisávamos fazer medições em regiões que não recebiam a pluma de poluição e em locais que recebiam as partículas mais diretamente, para ver a evolução. Veio então a ideia de fazer um conglomerado de sítios de pesquisa com características muito diferentes”, contou Artaxo, que hoje coordena um novo Temático ligado ao GOAmazon.


Também foram agregados à campanha – para somar esforços e equipamentos – outros projetos em andamento com temas relacionados, como o Temático “Processos de nuvens associados aos principais sistemas precipitantes no Brasil: uma contribuição à modelagem da escala de nuvens e ao GPM (Medida Global de Precipitação)”, coordenado por Luiz Augusto Toledo Machado, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e o projeto Torre Alta de Observação da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês), que contará com uma torre de observação de 320 metros de altura e é coordenado por Antonio Ocimar Manzi, do Inpa.

“Estamos aproveitando o fato de ter um grande cidade, com quase 2 milhões de habitantes, em uma área predominantemente natural, onde os ventos alísios levam a poluição de Manaus para o oeste em pelo menos 50% do tempo. Dessa forma, conseguimos medir e avaliar o efeito da poluição da cidade no ciclo de vida dos aerossóis – que servem como núcleo de implantação de nuvens – e no ciclo de vida das nuvens”, explicou Manzi, que também é responsável geral pelo GOAmazon no Brasil.

Segundo ele, os resultados das investigações do GOAmazon permitirão, no futuro, aprimorar os modelos meteorológicos e climáticos. Dentro de alguns anos teremos esses sistemas que provocam chuvas em regiões tropicais úmidas mais bem representados em modelos climáticos e, com isso, eles projetarão cenários futuros de mudanças climáticas com muito mais precisão”, afirmou.

Durante o evento de apresentação em Manaus, representando o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), esteve presente Andrea Ferreira Portela Nunes, da Coordenação Geral de Gestão de Ecossistemas. Também participaram da mesa a secretária municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus, Katia Helena Cruz, e o diretor substituto do Inpa, Estevão Vicente Cavalcante Monteiro de Paula.

Entre os integrantes da rede de pesquisadores do GOAmazon presentes estavam Paulo Artaxo (USP), Karla Longo (Inpe), Luiz Augusto Machado (Inpe), Rodrigo Augusto Ferreira de Souza (Universidade do Estado do Amazonas – UEA), Niro Higuchi (Inpa), Maciel José Ferreira (Universidade Federal do Amazonas – Ufam) e Antonio Ocimar Manzi (Inpa).

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