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Quem come alface orgânica desmata mais, diz biólogo

Fernando Reinach falou da importância do uso da tecnologia no agronegócio de maneira sustentável no EXAME Fórum Agronegócios

Fernando Reinach: "Se dobrarmos a área agrícola no Brasil, será o fim da Amazônia” (Flavio Santana)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2015 às 15h01.

São Paulo – Defensores da agricultura orgânica geralmente argumentam que essa prática é mais amigável ao meio ambiente do que o plantio tradicional. Afinal, alimentos orgânicos possuem menos resíduos agrotóxicos e isso faz com que a contaminação ambiental por essas substâncias químicas seja menor.

No entanto, o biólogo Fernando Reinach, PhD pela Universidade de Cornell, nos EUA, e gestor do Fundo Pitanga, que investe em startups, discorda. Para ele, a melhor maneira de tornar a agricultura sustentável é com o uso intenso de tecnologia.

Reinach foi um dos palestrantes do EXAME Fórum Agronegócios 2015, que aconteceu hoje (26), em São Paulo. Ele considera que a população da Terra deve aumentar de 7 para 11 bilhões de habitantes até 2100, segundo a última projeção da ONU.

Para atingir essa demanda, os países precisarão investir cerca de 44 bilhões de dólares por ano na produção e distribuição de alimentos , prevê a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Isso significa que governos, entidades e empresas precisarão investir cinco vezes mais do que os 7,9 bilhões dólares que são investidos atualmente. Mas como eles conseguirão essa proeza de forma sustentável?

Segundo Reinach, existem duas maneiras de duplicar a produção de alimentos: dobrar a área e dobrar a produtividade. “O que vai provavelmente acontecer é a união dessas duas idéias.”

No entanto, para ele, dobrar a área agrícola geraria um conflito ainda maior entre o agronegócio e a conservação ambiental. “Se dobrarmos a área no Brasil, será o fim da Amazônia”, afirma Reinach.

Segundo ele, o conflito entre a produção de alimentos e a conservação do meio ambiente será mais agudo no Brasil do que em outros países. “Nos Estados Unidos e na Europa, o agronegócio não tem mais para onde expandir-se. E a África não tem uma Amazônia para ser desmatada.”

O poder da tecnologia

Assim, dobrar a produtividade seria a solução que conseguiria unir a agricultura à sustentabilidade. Como? Com o uso intenso de tecnologia agrícola.

De acordo com o biólogo, apesar de a tecnologia agrícola ser conhecida há quase 2 milhões de anos, quando o homem das cavernas descobriu como controlar o fogo e cozinhar a própria comida, seu maior impacto ocorreu nos últimos 55 anos.

Do ponto de vista tecnológico, o futuro é promissor. Novas tecnologias estão em fase de desenvolvimento e a difusão das tecnologias atuais ainda está no início. Para Reinach, não é preciso a criação acelerada de tecnologias. O caminho é desenvolver e aplicar melhor as que já existem para dobrar a produção.

“A tecnologia agrícola é a melhor amiga do meio ambiente”, argumenta o biólogo. “Isso é até paradoxal quando você fala sobre esse assunto com os ambientalistas, pois eles são tecnófobos.” Segundo Reinach, o mais difícil será convencer os dois lados (o agronegócio e os ambientalistas) de que a tecnologia é necessária para o desenvolvimento da agricultura.

O biólogo acredita que também é preciso mostrar para a sociedade que a tecnologia ajuda a diminuir o custo dos alimentos e é sustentável.

“A pessoa que quer comprar um alimento orgânico, que não requer tecnologia de ponta, vai ter que se acostumar com o fato de que o produto será mais caro, pois está usando uma área maior de produção”, disse. “Consequentemente, ele está causando mais mal ao meio ambiente. Quem come alface orgânica está desmatando uma parte maior da Amazônia.”

E o Brasil?

De acordo com o biólogo, direta ou indiretamente, a agricultura vai continuar a alimentar a humanidade. “É impossível pensar que a humanidade vá deixar de comer coisas que fazem parte do processo da fotossíntese.”

O processo biológico que sustenta a agricultura não vai mudar, diz Reinach. Fungos, insetos, outros animais e até o ser humano continuarão a depender da fotossíntese.

Para Reinach, o Brasil é um dos países que mais podem crescer na área, pois detém três dos principais elementos necessários para o processo da fotossíntese: água, temperatura quente e luz. “Você não precisa saber muito sobre o assunto para ver que o Brasil é o país mais competitivo do mundo quando o assunto é o agronegócio”, afirma

Ele não é o único que acredita nisso. Segundo o relatório “Perspectivas Agrícolas 2015-2024” da FAO e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil será o principal exportador de alimentos do mundo na próxima década.

Para o biólogo, a tecnologia ainda não é totalmente desenvolvida para o agronegócio no Brasil, pois o brasileiro ainda vê esse setor como algo não sexy. “O brasileiro tem a síndrome do patinho feio. Ele tem vergonha de mostrar a tecnologia que fazemos aqui”, argumenta. “Como somos o primo pobre, nós parecemos pouco sexys, mas lá fora eles conseguem deixar o agronegócio interessante.”

Reinach finaliza a palestra dizendo que o Brasil vai continuar a ser o líder da produção agrícola. “Os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil, tanto pela biodiversidade quando pela produtividade ”, conclui.

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São Paulo – Defensores da agricultura orgânica geralmente argumentam que essa prática é mais amigável ao meio ambiente do que o plantio tradicional. Afinal, alimentos orgânicos possuem menos resíduos agrotóxicos e isso faz com que a contaminação ambiental por essas substâncias químicas seja menor.

No entanto, o biólogo Fernando Reinach, PhD pela Universidade de Cornell, nos EUA, e gestor do Fundo Pitanga, que investe em startups, discorda. Para ele, a melhor maneira de tornar a agricultura sustentável é com o uso intenso de tecnologia.

Reinach foi um dos palestrantes do EXAME Fórum Agronegócios 2015, que aconteceu hoje (26), em São Paulo. Ele considera que a população da Terra deve aumentar de 7 para 11 bilhões de habitantes até 2100, segundo a última projeção da ONU.

Para atingir essa demanda, os países precisarão investir cerca de 44 bilhões de dólares por ano na produção e distribuição de alimentos , prevê a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Isso significa que governos, entidades e empresas precisarão investir cinco vezes mais do que os 7,9 bilhões dólares que são investidos atualmente. Mas como eles conseguirão essa proeza de forma sustentável?

Segundo Reinach, existem duas maneiras de duplicar a produção de alimentos: dobrar a área e dobrar a produtividade. “O que vai provavelmente acontecer é a união dessas duas idéias.”

No entanto, para ele, dobrar a área agrícola geraria um conflito ainda maior entre o agronegócio e a conservação ambiental. “Se dobrarmos a área no Brasil, será o fim da Amazônia”, afirma Reinach.

Segundo ele, o conflito entre a produção de alimentos e a conservação do meio ambiente será mais agudo no Brasil do que em outros países. “Nos Estados Unidos e na Europa, o agronegócio não tem mais para onde expandir-se. E a África não tem uma Amazônia para ser desmatada.”

O poder da tecnologia

Assim, dobrar a produtividade seria a solução que conseguiria unir a agricultura à sustentabilidade. Como? Com o uso intenso de tecnologia agrícola.

De acordo com o biólogo, apesar de a tecnologia agrícola ser conhecida há quase 2 milhões de anos, quando o homem das cavernas descobriu como controlar o fogo e cozinhar a própria comida, seu maior impacto ocorreu nos últimos 55 anos.

Do ponto de vista tecnológico, o futuro é promissor. Novas tecnologias estão em fase de desenvolvimento e a difusão das tecnologias atuais ainda está no início. Para Reinach, não é preciso a criação acelerada de tecnologias. O caminho é desenvolver e aplicar melhor as que já existem para dobrar a produção.

“A tecnologia agrícola é a melhor amiga do meio ambiente”, argumenta o biólogo. “Isso é até paradoxal quando você fala sobre esse assunto com os ambientalistas, pois eles são tecnófobos.” Segundo Reinach, o mais difícil será convencer os dois lados (o agronegócio e os ambientalistas) de que a tecnologia é necessária para o desenvolvimento da agricultura.

O biólogo acredita que também é preciso mostrar para a sociedade que a tecnologia ajuda a diminuir o custo dos alimentos e é sustentável.

“A pessoa que quer comprar um alimento orgânico, que não requer tecnologia de ponta, vai ter que se acostumar com o fato de que o produto será mais caro, pois está usando uma área maior de produção”, disse. “Consequentemente, ele está causando mais mal ao meio ambiente. Quem come alface orgânica está desmatando uma parte maior da Amazônia.”

E o Brasil?

De acordo com o biólogo, direta ou indiretamente, a agricultura vai continuar a alimentar a humanidade. “É impossível pensar que a humanidade vá deixar de comer coisas que fazem parte do processo da fotossíntese.”

O processo biológico que sustenta a agricultura não vai mudar, diz Reinach. Fungos, insetos, outros animais e até o ser humano continuarão a depender da fotossíntese.

Para Reinach, o Brasil é um dos países que mais podem crescer na área, pois detém três dos principais elementos necessários para o processo da fotossíntese: água, temperatura quente e luz. “Você não precisa saber muito sobre o assunto para ver que o Brasil é o país mais competitivo do mundo quando o assunto é o agronegócio”, afirma

Ele não é o único que acredita nisso. Segundo o relatório “Perspectivas Agrícolas 2015-2024” da FAO e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil será o principal exportador de alimentos do mundo na próxima década.

Para o biólogo, a tecnologia ainda não é totalmente desenvolvida para o agronegócio no Brasil, pois o brasileiro ainda vê esse setor como algo não sexy. “O brasileiro tem a síndrome do patinho feio. Ele tem vergonha de mostrar a tecnologia que fazemos aqui”, argumenta. “Como somos o primo pobre, nós parecemos pouco sexys, mas lá fora eles conseguem deixar o agronegócio interessante.”

Reinach finaliza a palestra dizendo que o Brasil vai continuar a ser o líder da produção agrícola. “Os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil, tanto pela biodiversidade quando pela produtividade ”, conclui.

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