Sujeira na Baía de Guanabara: "se a natureza estiver de mau humor, a probabilidade que haja problemas e resíduos é alta", disse especialista (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de agosto de 2016 às 16h54.
Rio de Janeiro - O estado de limpeza das águas do local onde serão realizadas as provas de vela nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro dependerá de capricho da natureza, afirmou o biólogo Mário Moscatelli à Agência Efe.
Segundo o especialista, que trabalha há 20 anos pesquisando as águas da Baía de Guanabara, a interação entre o regime dos ventos e das marés será decisiva para saber se as competições se realizarão em águas cristalinas ou no meio de um mar de poluição e lixo.
"Se a natureza estiver de mau humor, a probabilidade que haja problemas e resíduos é alta", disse Moscatelli.
As melhores condições na Baía de Guanabara se dão, segundo o biólogo, quando a maré está alta e sopram ventos do sul, que oxigenam a baía com as águas mais limpas do Atlântico e retêm o lixo longe da área das competições.
Por outro lado, se a maré está baixa, sopra vento norte e chove, a água adquire um aspecto "terrível" e o lixo se estende por toda a baía, até seu encontro com o mar.
O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, afirmou, no domingo, que estão sendo realizados quatro exames por dia que mostram que a água da baía está de acordo com as condições exigidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo Moscatelli, no entanto, essas medições "não querem dizer que a água está adequada", porque não refletem as variações que podem ser causadas pelo clima.
"Em dias de chuva e maré baixa, essa opinião do presidente do COI vai se chocar com a realidade", afirmou Moscatelli.
Hoje, faltando quatro dias para a Cerimônia de Abertura, nas imediações da Ilha do Fundão, perto do Aeroporto Internacional Tom Jobim, era encontrada enorme quantidade de lixo acumulada na margem, como pneus, garrafas, e até mesmo um aparelho de som e um sofá.
Nessa área da baía que, contudo, está longe do lugar onde acontecerão as regatas de vela, as águas exalavam um persistente cheiro azedo, característico das águas de rio que recebem esgoto sem tratamento.
Os orgãos ambientais do Rio de Janeiro utilizam redes para conter o lixo em vários rios e canais que desaguam na baía. Além disso, barcos recolhem resíduos, uma medida que, segundo Moscatelli, será insuficiente caso as condições meteorológicas não sejam favoráveis
"É uma questão de escala. A baía é gigantesca, recebe lixo de diversos pontos. Os ecobarcos fazem seu trabalho, mas a magnitude do problema ambiental ultrapassa muito a capacidade de combate das embarcações", comentou.