Tecnologia

População de cidade mexicana será monitorada por escâneres

Equipamentos que identificam pessoas em movimento serão instaladas em diversos pontos de Leon

Sistema de segurança quer identificar cidadãos por meio da íris (.)

Sistema de segurança quer identificar cidadãos por meio da íris (.)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2010 às 10h38.

São Paulo - Em uma das cenas do filme Minority Report, baseado na obra de Philip Dick, o policial John Anderton, vivido por Tom Cruise, anda por um centro comercial do ano de 2054. Sensores espalhados pelas paredes fazem a leitura - à distância e em movimento - da íris de cada pessoa que passa pelo local e, após Anderton ser identificado, um comercial holográfico customizado é exibido.

Oito anos depois do lançamento do filme, o cenário já não parece mais tão absurdo. A cidade de Leon, no México, fechou uma parceria com a empresa de biometria Global Rainmakers Inc. (GRI) para implantar uma tecnologia bastante semelhante. Todas as pessoas que estiverem pela cidade poderão ser identificadas, onde quer que estejam. Um cenário que remete à outra obra de ficção, 1984, de George Orwell. No livro, publicado em 1949, uma sociedade convive com a total ausência de privacidade por ter cada indivíduo observado ininterruptamente pela figura do Grande Irmão, que simboliza um estado repressor e totalitário.

Na real Leon de 2010, uma das maiores cidades mexicanas, com mais de um milhão de habitantes, o monitoramento começa por criminosos, que terão as imagens de suas íris arquivadas assim que forem condenados. Os detalhes de todo o sistema de segurança foram explicados pela empresa nesta semana ao site norte-americano FastCompany. Conforme a publicação, "cidadãos que obedecem as leis poderão optar" por cadastrar-se ou não no banco de dados.

Os sensores da GRI estão chegando à cidade para serem instalados em áreas de segurança como postos policiais e centros de detenção. A empresa utilizará os modelos Hbox, capaz de identificar até 50 pessoas em movimento por minuto, EyeSwipe e EyeSwipe Mini, esses últimos com capacidade para capturar a íris de 15 a 30 pessoas por minuto. Conforme informações do site da companhia, mesmo que a pessoa esteja com máscara ou com óculos escuros, o sistema é capaz de identificá-la. Em uma segunda fase, que será desenvolvida ao longo dos próximos três anos, os escâneres serão colocados ainda em áreas públicas de tráfego intenso, centros médicos e bancos de Leon.

Quando os moradores da cidade pegarem um trem, um ônibus ou sacarem dinheiro de um caixa bancário, terão a íris escaneada, e policiais poderão monitorar cada uma das pessoas identificadas. "Fraude, que é um problema de US$ 50 bilhões, será completamente erradicada", afirmou Jeff Carter, chefe de desenvolvimento da GRI. Ele explicou que uma vez condenada por um crime, a pessoa não conseguirá cometer outro delito sem ser notada. "Se você é um ladrão conhecido, por exemplo, não conseguirá entrar em uma loja sem ser identificado. Para outros embarcar em um avião será impossível", disse.

E por que uma pessoa que pode escolher se cadastrar no sistema optaria por abrir mão da privacidade? "Há várias conveniências nisso - você não precisará mais carregar coisa alguma consigo, exceto seu olhos", argumentou Carter ao FastCompany. Ele disse ainda que, em um momento em que muita gente aderir, discordar do sistema tornará um cidadão mais rotulado do que se ele aceitar. Além disso, lembrou o executivo, nossa vida privada já é rastreada por empresas de telecomunicações e bancos. "Não estamos falando em nada diferente aqui - apenas de um sistema que é bom para todos nós".

E, da mesma forma que visto em Minority Report, a empresa prevê que os equipamentos de identificação de íris ajudarão marqueteiros. "Minority Report é um futuro possível", admitiu Carter. "Não creio que seja o objetivo da nossa companhia, mas acho que o que estamos por ver é um ambiente muito além do que você vê no filme - sem os precogs, claro", disse Carter, referindo-se aos indivíduos que, na ficção, são capazes de prever o futuro e ajudam a polícia a prender suspeitos antes que um crime seja cometido. O executivo talvez não saiba, mas testes desenvolvidos nos Estados Unidos mostram que já é possível ler a mente de suspeitos e obter detalhes de planos futuros de ataques terroristas.

Para implantar o sistema de monitoramento da população, a cidade de Leon investirá cerca de US$ 5 milhões na primeira etapa, que inclui estabelecimentos judiciais e policiais. Sites como o Gizmodo classificaram o projeto como "o fim da privacidade". O FastCompany terminou o artigo que trata da iniciativa de forma bem humorada: "Adeus, 2010. Olá, 1984".

Compare a cena do filme Minority Report com a tecnologia desenvolvida pela GRI:

Leia outras notícias sobre privacidade ou sobre segurança

Siga as notícias de Tecnologia do site EXAME no Twitter

Acompanhe tudo sobre:América LatinaLocalizaçãoMapasMéxicoPrivacidadeseguranca-digital

Mais de Tecnologia

Como o Google Maps ajudou a solucionar um crime

China avança em logística com o AR-500, helicóptero não tripulado

Apple promete investimento de US$ 1 bilhão para colocar fim à crise com Indonésia

Amazon é multada em quase R$ 1 mi por condições inseguras de trabalho nos EUA