Para Duolingo, é possível aprender línguas usando smartphone
Luis Von Ahn, criador da platafiorma de ensino, conta como a ferramenta funciona, como está seu desenvolvimento no Brasil e como pretende ganhar dinheiro com o serviço
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2013 às 13h08.
São Paulo - Aos 34 anos, o guatemalteco Luis Von Ahn acumula um extenso currículo em criar soluções inovadoras. PhD pela Carnegie Mellon University, na Pensilvânia, Ahn é um dos inventores do Captcha e da iniciativa re-Captcha, que utiliza parte das irritantes validações como esforço de tradução de livros.
Há dois anos, Von Ahn criou a plataforma de ensino de idiomas online Duolingo e tenta, agora, mostrar que é possível aprender uma nova língua usando apenas o smartphone . Gratuita, a Duolingo oferece um sistema de aprendizado que mistura conceitos de gameficação e inteligência de dados para personalizar o aprendizado dos alunos.
Em entrevista a INFO Online, Von Ahn conta como a ferramenta funciona, como está seu desenvolvimento no Brasil e como pretende ganhar dinheiro com o serviço.
Por que a Duolingo decidiu abrir uma operação no Brasil?
Luis Von Ahn - Lançamos o Duolingo em junho de 2012 e, no mesmo ano, em setembro, iniciamos o serviço para brasileiros. Uma das razões para isso é que temos uma grande demanda de tradução para o português. Parte do que os alunos aprendem é aproveitado em serviços de tradução colaborativa, então, faz todo sentido atrair brasileiros para a nossa plataforma.
Outro motivo é a expansão da economia no Brasil que, ao lado da China, deve ser um mercado de crescimento longevo. A diferença é que o Brasil é um mercado livre, e na China, o governo decide quem vence. É um risco muito grande, portanto, investir naquele país da Ásia. Por isso, investimos no Brasil.
O sistema da Duolingo é baseado somente na tradução de textos? Como acontece o aprendizado?
Luis Von Ahn - Temos aulas de conversação e escuta também. Temos um método gratuito e amplo de ensino que, em alguns momentos, envolve pedir aos alunos que traduzam trechos de textos. É neste momento que ganhamos dinheiro, com serviços de tradução colaborativa. Mas há também, evidentemente, o ensino da gramática, vocabulário e, claro, pronúncia. Na nossa interface web e aplicativo para iOS, é possível falar uma palavra para o microfone do seu dispositivo e o software te dirá se você pronunciou o termo corretamente.
Estudar na Duolinguo confere ao aluno alguma certificação?
Luis Von Ahn - Ainda não, mas esse será nosso próximo passo. Fizemos um estudo que mostra que, se você usa uma língua em uma 30 ou 40 horas por mês no computador ou no dia a dia, você aprende o mesmo que em um semestre inteiro na universidade. Descobrimos isso justamente avaliando resultados medidos nos exames TOEFL.
Queremos mostrar que, se você chega em um determinado nível no Duolingo, ele equivale a um certo nível no TOEFL. Depois vamos tentar combinar nossos resultados com o TOEFL para garantir a entrega de certificados. Entendemos que isso é importante para os alunos. Nos Estados Unidos isso não importa tanto, mas em outros países, especialmente nos mercados latinos, obter um certificado conta muito para os estudantes.
Há algum escritório da Duolingo no Brasil? Há uma expansão programada?
Luis Von Ahn - Temos duas pessoas trabalhando no Brasil atualmente. É o único país, além dos Estados Unidos, em que temos funcionários. Nossa expansão estará ligada diretamente ao crescimento do Duolingo no mercado brasileiro. Temos hoje aproximadamente 300 mil usuários no país.
Esperamos que isso vá mudar agora que lançarmos uma versão do nosso aplicativo para Android em maio (atualmente só há versão do app para iOS). Nos Estados Unidos, 50% dos usuários vêm do iPhone, enquanto o restante vêm da web. No Brasil, 95% dos usuários vêm da web. Sabemos que, no Brasil, o Android é bem mais numeroso e nossa expansão passa por desenvolver um app para esta plataforma.
O Duolinguo é mais bem aceito por estudantes iniciantes. Alunos com nível intermediário de conhecimento têm dificuldade de usar o serviço?
Luis Von Ahn - De certa forma, precisamos aprimorar o serviço para usuários que já conhecem um pouco da língua a ser estudada e estamos trabalhando nisso. Sabemos que os usuários iniciantes vão muito bem no nosso sistema, mas outros usuários ficam um pouco confusos sobre para onde ir. Ás vezes, eles não sabem em que momento do aprendizado se situar. Vamos alterar nossa interface nos próximos meses, o que vai facilitar esse processo.
O Duolingo ainda não gera receitas suficientes para cobrir seus custos. Você acha que será necessário uma nova rodada de investimentos para manter o serviço?
Não sabemos.Temos dinheiro suficiente para operar por mais cinco anos, sem nenhum rendimento. Mas esperamos um retorno mais rápido. Acredito que não precisemos de mais investimento, mas é impossível prever isso agora.
Estudar um idioma em uma escola de línguas não é mais eficaz que usando um aplicativo para celular?
Luis Von Ahn - Quando começamos esse serviço, estudamos muito sobre como ensinar um idioma. Conversando com especialistas, ninguém conseguiu me explicar um método razoável.
Uma vantagem que temos é o fato de metrificamos tudo. Se eu ensino adjetivos antes de advérbios ou não e qual a eficácia destas decisões. Mostro o conteúdo de uma forma a um grupo e de outra forma para demais estudantes. Depois, comparo os resultados. Cientificamente, podemos aferir qual processo é mais eficiente para cada perfil de aluno. E isso uma escola não consegue fazer.
A maior parte de nosso time trabalha na análise desses dados. Isso não é bom necessariamente para os negócios, mas é ótimo para a educação e o processo de aprendizagem. O interessante é que estamos descobrindo como as pessoas aprendem.
As escolas têm como público vinte pessoas em cada sala de aula, transmitindo suas impressões. Já o Duolingo pode medir a eficiência de um processo com milhares de usuários nos dando respostas em tempo real. Então, acredito que, no futuro, ficará evidente as vantagens deste tipo de ensino.
São Paulo - Aos 34 anos, o guatemalteco Luis Von Ahn acumula um extenso currículo em criar soluções inovadoras. PhD pela Carnegie Mellon University, na Pensilvânia, Ahn é um dos inventores do Captcha e da iniciativa re-Captcha, que utiliza parte das irritantes validações como esforço de tradução de livros.
Há dois anos, Von Ahn criou a plataforma de ensino de idiomas online Duolingo e tenta, agora, mostrar que é possível aprender uma nova língua usando apenas o smartphone . Gratuita, a Duolingo oferece um sistema de aprendizado que mistura conceitos de gameficação e inteligência de dados para personalizar o aprendizado dos alunos.
Em entrevista a INFO Online, Von Ahn conta como a ferramenta funciona, como está seu desenvolvimento no Brasil e como pretende ganhar dinheiro com o serviço.
Por que a Duolingo decidiu abrir uma operação no Brasil?
Luis Von Ahn - Lançamos o Duolingo em junho de 2012 e, no mesmo ano, em setembro, iniciamos o serviço para brasileiros. Uma das razões para isso é que temos uma grande demanda de tradução para o português. Parte do que os alunos aprendem é aproveitado em serviços de tradução colaborativa, então, faz todo sentido atrair brasileiros para a nossa plataforma.
Outro motivo é a expansão da economia no Brasil que, ao lado da China, deve ser um mercado de crescimento longevo. A diferença é que o Brasil é um mercado livre, e na China, o governo decide quem vence. É um risco muito grande, portanto, investir naquele país da Ásia. Por isso, investimos no Brasil.
O sistema da Duolingo é baseado somente na tradução de textos? Como acontece o aprendizado?
Luis Von Ahn - Temos aulas de conversação e escuta também. Temos um método gratuito e amplo de ensino que, em alguns momentos, envolve pedir aos alunos que traduzam trechos de textos. É neste momento que ganhamos dinheiro, com serviços de tradução colaborativa. Mas há também, evidentemente, o ensino da gramática, vocabulário e, claro, pronúncia. Na nossa interface web e aplicativo para iOS, é possível falar uma palavra para o microfone do seu dispositivo e o software te dirá se você pronunciou o termo corretamente.
Estudar na Duolinguo confere ao aluno alguma certificação?
Luis Von Ahn - Ainda não, mas esse será nosso próximo passo. Fizemos um estudo que mostra que, se você usa uma língua em uma 30 ou 40 horas por mês no computador ou no dia a dia, você aprende o mesmo que em um semestre inteiro na universidade. Descobrimos isso justamente avaliando resultados medidos nos exames TOEFL.
Queremos mostrar que, se você chega em um determinado nível no Duolingo, ele equivale a um certo nível no TOEFL. Depois vamos tentar combinar nossos resultados com o TOEFL para garantir a entrega de certificados. Entendemos que isso é importante para os alunos. Nos Estados Unidos isso não importa tanto, mas em outros países, especialmente nos mercados latinos, obter um certificado conta muito para os estudantes.
Há algum escritório da Duolingo no Brasil? Há uma expansão programada?
Luis Von Ahn - Temos duas pessoas trabalhando no Brasil atualmente. É o único país, além dos Estados Unidos, em que temos funcionários. Nossa expansão estará ligada diretamente ao crescimento do Duolingo no mercado brasileiro. Temos hoje aproximadamente 300 mil usuários no país.
Esperamos que isso vá mudar agora que lançarmos uma versão do nosso aplicativo para Android em maio (atualmente só há versão do app para iOS). Nos Estados Unidos, 50% dos usuários vêm do iPhone, enquanto o restante vêm da web. No Brasil, 95% dos usuários vêm da web. Sabemos que, no Brasil, o Android é bem mais numeroso e nossa expansão passa por desenvolver um app para esta plataforma.
O Duolinguo é mais bem aceito por estudantes iniciantes. Alunos com nível intermediário de conhecimento têm dificuldade de usar o serviço?
Luis Von Ahn - De certa forma, precisamos aprimorar o serviço para usuários que já conhecem um pouco da língua a ser estudada e estamos trabalhando nisso. Sabemos que os usuários iniciantes vão muito bem no nosso sistema, mas outros usuários ficam um pouco confusos sobre para onde ir. Ás vezes, eles não sabem em que momento do aprendizado se situar. Vamos alterar nossa interface nos próximos meses, o que vai facilitar esse processo.
O Duolingo ainda não gera receitas suficientes para cobrir seus custos. Você acha que será necessário uma nova rodada de investimentos para manter o serviço?
Não sabemos.Temos dinheiro suficiente para operar por mais cinco anos, sem nenhum rendimento. Mas esperamos um retorno mais rápido. Acredito que não precisemos de mais investimento, mas é impossível prever isso agora.
Estudar um idioma em uma escola de línguas não é mais eficaz que usando um aplicativo para celular?
Luis Von Ahn - Quando começamos esse serviço, estudamos muito sobre como ensinar um idioma. Conversando com especialistas, ninguém conseguiu me explicar um método razoável.
Uma vantagem que temos é o fato de metrificamos tudo. Se eu ensino adjetivos antes de advérbios ou não e qual a eficácia destas decisões. Mostro o conteúdo de uma forma a um grupo e de outra forma para demais estudantes. Depois, comparo os resultados. Cientificamente, podemos aferir qual processo é mais eficiente para cada perfil de aluno. E isso uma escola não consegue fazer.
A maior parte de nosso time trabalha na análise desses dados. Isso não é bom necessariamente para os negócios, mas é ótimo para a educação e o processo de aprendizagem. O interessante é que estamos descobrindo como as pessoas aprendem.
As escolas têm como público vinte pessoas em cada sala de aula, transmitindo suas impressões. Já o Duolingo pode medir a eficiência de um processo com milhares de usuários nos dando respostas em tempo real. Então, acredito que, no futuro, ficará evidente as vantagens deste tipo de ensino.