Os garotos prodigios da internet
Quando quase ninguém acreditava mais na internet, os jovens fundadores do site Buscapé souberam se adaptar para sobreviver
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h16.
Como tantas outras empresas da internet, o Buscapé nasceu antes do tempo. O site destinado a comparar preços nas lojas virtuais foi fundado no final de 1999, quando o número de varejistas online era pequeno e os consumidores ainda se acostumavam ao comércio eletrônico. Empresas como Submarino e Americanas.com ainda estavam se estruturando e havia pouca matéria-prima à disposição. Não bastasse o parto prematuro, a bolha da internet estourou meses depois da estréia do site. Mas o Buscapé contrariou as estatísticas de mortalidade dos negócios na rede. Sobreviveu a um início atribulado, teve de refazer rapidamente seu modelo de negócios -- um desafio para qualquer empresa inserida num mercado mutante -- e agora vive uma fase inédita de crescimento. O faturamento vem dobrando a cada ano e deve chegar a 18 milhões de reais em 2005. O número de lojas pesquisadas passou de 121, cinco anos atrás, para mais de 11 000 neste ano -- esse total inclui o varejo de rua, que entrou na pesquisa há seis meses. A Fast Shop calcula que 13% de suas vendas online já sejam feitas para clientes que chegaram ao site por intermédio do Buscapé.
O sucesso do site é uma combinação de controle de custos, flexibilidade no modelo de negócios e perseverança dos quatro universitários paulistanos, que abriram a empresa antes de terminar a faculdade e ainda nem chegaram aos 30 anos. Em junho de 2000, o site vendeu 30% do capital a um fundo do banco Merrill Lynch por 6 milhões de dólares. Depois precisou apertar as contas. "Ainda temos metade do capital recebido há cinco anos", diz Romero Rodrigues, o presidente. O modelo de negócios também teve de sofrer adaptações. A idéia inicial era cobrar comissão dos lojistas. O site recebia apenas quando o internauta partisse do Buscapé e, logo na seqüência, comprasse na loja virtual. Como isso nem sempre acontece -- e também é difícil de medir --, os primeiros anos foram de pouca receita. Em 2003, metade do faturamento vinha da criação e administração de lojas online para grandes portais. No ano passado, porém, o Buscapé encontrou uma fonte de receita capaz de sustentar a empresa -- os links patrocinados, um modelo popularizado pelos gigantes americanos das buscas, Google e Yahoo!.
Trata-se de uma nova forma de publicidade. Cada vez que faz uma busca por um produto, o internauta recebe, além do resultado tradicional, uma lista de links na qual a presença é paga. Mas o anunciante -- no caso do Buscapé, as lojas -- só desembolsa o dinheiro quando o internauta clica no link do anúncio. Há ainda outro detalhe que aumenta as receitas do Buscapé. Quanto melhor a posição de uma loja nessa lista, mais caro ela paga. O preço inicial do clique é 30 centavos, mas pode atingir dez vezes esse valor. O crescimento do Buscapé parece garantido por enquanto. No Brasil, há apenas um concorrente de peso, o Bondfaro, que pesquisa em um número inferior de lojas. A maior garantia, porém, são os números exuberantes do varejo eletrônico. As vendas no Brasil chegaram a 7,5 bilhões de reais em 2004, 43% acima de 2003, de acordo com a consultoria E-Consulting. A dúvida é saber se os grandes mecanismos de busca, como Google e Yahoo! -- que vendem links pagos e também têm serviços de comparação --, não vão ocupar o espaço do Buscapé. "Somos diferentes porque entregamos ao lojista um cliente no estágio final da compra", diz Rodrigues. Aos 27 anos e à frente de uma equipe cuja média não passa dos 25, ele ainda tem bastante tempo para descobrir se tem razão.
O crescimento do Buscap | |
Acompanhe os principais números do site | |
Número de consultas (em milhares) | |
2000 | 990 |
2005 | 300 000(1) |
Faturamento (em reais) | |
2000 | 100 000 |
2005 | 18 milhões(1) |
(1) Estimativa Fonte: empresa |