Stephen Elop, CEO da Nokia: ações da empresa caíram 20% depois do anúncio da aliança (Nokia / divulgação)
Da Redação
Publicado em 16 de fevereiro de 2011 às 15h04.
Barcelona - As operadoras de telecomunicações podem perder interesse em oferecer aparelhos da nova aliança Nokia-Microsoft caso as duas empresas adotem um sistema fechado semelhante ao Apple iPhone, disse um executivo da operadora Orange à Reuters.
Operadoras como a Orange, a quarta maior da Europa em termos de receita e parte do grupo France Telecom, exercem grande poder na formação das escolhas de celulares pelos consumidores, porque compram os aparelhos dos fabricantes e decidem em que medida subsidiam a venda.
"Desejamos um ecossistema de telefonia móvel aberto e que permita que nossos clientes empreguem todos os serviços que desejam, e não sistemas fechados que beneficiam uma e outra empresa", disse Jean-Paul Cottet, vice-presidente de marketing e inovação da Orange.
As declarações da companhia foram as primeiras feita por uma grande operadora sobre aliança entre a Nokia e a Microsoft, anunciada na semana passada. As empresas de tecnologia decidiram juntar forças para ampliar a presença dos dois grupos no segmento de celulares inteligentes mais sofisticados.
No Mobile World Congress, esta semana em Barcelona, forças do setor vêm avaliando o impacto da aliança. As ações da Nokia caíram cerca de 20 por cento desde que surgiu a notícia do acordo.
Cottet disse que ainda é cedo para saber como o acordo entre Nokia e Microsoft vai funcionar na prática e de que maneira os gastos das operadoras com a compra de celulares poderiam mudar em resposta.
Em curto prazo, ele expressou preocupação quanto ao efeito da parceria sobre os lançamentos de novos celulares Nokia este ano. "A nova plataforma da Nokia com o Windows está planejada para 2012, e o que acontece até lá? Sabemos o que venderemos da linha da Nokia no primeiro semestre, mas o que eles propõem que vendamos no segundo?"
Em prazo mais longo, Cottet disse que as operadoras tentarão determinar se Nokia e Microsoft adotarão filosofia fechada como a da Apple. A companhia californiana precisa aprovar os programas que operam em seus iPads e iPhones, e em geral controla o relacionamento de cobrança com os usuários, de modo a maximizar seus lucros.
"Microsoft e Nokia são companhias com as quais trabalhamos e respeitamos, então, por ora, vamos dar a eles o benefício da dúvida", disse Cottet. "Mas se o interesse delas no médio prazo é travar os clientes em um sistema fechado, teremos que buscar uma alternativa aberta."
O executivo afirmou que a estratégia da Apple está ficando "cansativa" e não é boa para os consumidores.
"As pessoas não entendem porque compram um tablet de 600 euros e não podem abrir certas páginas da Web direito porque a Apple não apoia o Flash. É como se a Apple dissesse 'você vai comprar um carro meu, mas não pode dirigi-lo em todas as estradas, somente naquelas em que eu tenho pedágio'", disse Cottet.