O primeiro porta-drones chinês: uma mistura entre pesquisa e ferramenta militar
O "Zhuhaiyun" tem 88,5 metros de comprimento e pode atingir 33 km/h
AFP
Publicado em 7 de junho de 2022 às 14h09.
Última atualização em 7 de junho de 2022 às 14h24.
Oficialmente, o "Zhuhaiyun" é uma embarcação de pesquisa, mas sua veia militar é evidente. Este navio porta-drones revelado pela China provavelmente é único e representa uma mudança na crescente importância das aeronaves sem piloto na guerra moderna.
A mídia estatal chinesa informou no final de maio sobre o lançamento do navio, anunciado como um carro-chefe para pesquisa marítima, e apontou que estará operacional antes do final deste ano. A embarcação transportará um número não especificado de drones aéreos, marítimos e submarinos.
O "Zhuhaiyun" tem 88,5 metros de comprimento e pode atingir 18 nós (33 km/h). Chen Dake, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências e diretor do laboratório dono do barco, descreveu-o ao China Daily como uma "inovação revolucionária".
Segundo o cientista, "o barco não é apenas uma ferramenta de precisão sem precedentes nos confins do que é a ciência marítima, mas também uma plataforma de prevenção e gestão de desastres marítimos, de mapeamento preciso do fundo do mar (...) e resgate marítimo".
Mas parece improvável que este navio seja exclusivamente para uso científico.
O transportador de drones é uma ferramenta que pode ser usada a serviço dos interesses chineses na região do Indo-Pacífico, mais um passo no uso militar dos drones, que foram implantados do Afeganistão à Líbia e estão atualmente em combate na Ucrânia, onde mostram sua importância nas guerras modernas.
"Agressivo"
A China e os Estados Unidos estão na liderança desta corrida, à frente de outros competidores como Israel e Turquia, que também conseguiram conquistar espaço neste mercado.
Mas a apresentação que Pequim fez deste navio é um tanto enigmática.
"Há uma falta de dados empíricos para sugerir que o Estado chinês pode realmente usar este navio de forma integrada" durante um conflito, disse Paul Lushenko, tenente-coronel americano e pesquisador da Universidade Cornell.
O especialista disse à AFP que "é o primeiro desenvolvimento desse tipo, mas outras Marinhas do mundo, incluindo a americana, trabalham nas possibilidades de guerra remota no domínio marítimo".
Um porta-drones desse tipo, especialmente se puder ser replicado, pode permitir que Pequim bloqueie o acesso a uma determinada área.
A China multiplica as disputas territoriais com seus vizinhos e poderá no futuro se estabelecer em um território sem precisar deslocar suas tropas.
Um cardume
Um dos elementos-chave para o porta-drones é a autonomia de movimento.
"É um pouco como a analogia com um cardume de peixes: as formas são criadas na água, que não são uma decisão individual de nenhum dos peixes, mas sim o resultado de sua inteligência coletiva", explicou à AFP Jean-Marc Rickly, diretor de riscos globais e emergentes do Centro de Política de Segurança de Genebra (GCPS).
"O objetivo final é criar algo que tenha capacidade de inteligência coletiva", disse.
Atualmente, existem dispositivos que são semi-autônomos, que são programáveis. Mas, no mês passado, a Universidade de Zhejiang divulgou um vídeo mostrando dez drones voando por uma floresta de bambu.
"Eles passam a entender o ambiente em que estão, a identificar os obstáculos, a se comunicar para fazer uma topografia dos lugares e superar os obstáculos", explicou o pesquisador.
Todos os grandes Exércitos do mundo estão trabalhando em projetos desse tipo, com o objetivo de saturar um espaço — seja aéreo, seja marítimo, seja submarino —, com objetos baratos e infinitamente substituíveis, em oposição aos dispositivos muito sofisticados pilotados por pessoas.
Em 2020, o centro de pesquisas Rand Corporation estimou que o poder de computação de um drone militar era menor que o de um smartphone. Essa organização especificou que uma unidade de 900 soldados poderia lançar e recuperar 300 drones a cada 6 horas, somando 1,2 mil saídas por dia, 24 horas por dia, sete dias por semana.
"A ideia é a saturação, para finalmente esgotar o arsenal disponível de mísseis interceptores contra o inimigo", afirmou.
(AFP)