A Microsoft chegou à era da computação em nuvem?

É consenso entre os especialistas de tecnologia que a Microsoft chegou atrasada à era da computação em nuvem, em que a rede é o meio para a comercialização de software. Enquanto a companhia começa a arquitetar agora seus sistemas para trabalhar online, como o próximo sistema operacional Windows 7, previsto para 2010, empresas de internet como o Google já têm modelos estruturados em que oferece aos usuários editores de texto e planilhas totalmente baseados na web.

Além dos desafios tecnológicos para adaptar seus sistemas, outra preocupação da companhia para os próximos tempos deverá ser como adaptar seu modelo de negócios - fundamentalmente baseado na venda de licenças de software - para a fase web, diz o especialista Rob Enderle, CEO da consultoria norte-americana Enderle Group. Leia a entrevista:

Recentemente a Microsoft informou que o sucessor do Windows Vista, o Windows 7, estará preparado para suportar programas fornecidos via internet. Essa iniciativa é suficiente para a empresa ingressar de vez na era da computação em nuvem?
A Microsoft reconheceu que precisava de uma plataforma que avançasse, que fosse para frente em termos de tecnologia. Os PCs foram a evolução dos grandes servidores mainframes. E agora chegou a vez de os PCs serem fundidos com a internet, na fase da computação em nuvem. Dessa forma, o Windows 7 é a preparação para essa fase.

A Microsoft está pronta para trabalhar com o modelo de software fornecido pela internet?
Essa é uma questão que ainda não foi respondida. Uma das principais ameaças para a Microsoft é o modelo de negócios da computação em nuvem. A empresa cresceu vendendo caixas de software e é muito difícil adaptar-se rapidamente para o novo modelo. Com exceção da Salesforce.com, até hoje apenas pequenas companhias conseguiram ganhar dinheiro efetivamente com software fornecido pela internet. A Microsoft precisa apressar-se para criar um modelo eficiente que sustente as receitas para os próximos tempos.

Tecnicamente, quais os principais desafios para a Microsoft em oferecer sistemas pela internet como a próxima versão do Office, prevista para 2010?
Uma delas é a Microsoft entrar rápido demais na fase da computação em nuvem sem ter uma plataforma que esteja totalmente pronta. A plataforma Azure, que a Microsoft anunciou recentemente, é o futuro do software, desenhado para trabalhar totalmente conectado, tendo a computação em nuvem como premissa. O Windows 7 é a preparação para isso, ao passo que hoje, nem sempre há conexão para o usuário. Ele é um sistema intermediário, em que o usuário ainda pode trabalhar offline. A empresa, porém, precisará mostrar já no lançamento que esses sistemas estão devidamente adequados para as necessidades do usuário.

O Windows Vista teve uma repercussão bem aquém do esperado, especialmente pelos problemas técnicos de incompatibilidade de hardware. A empresa já aprendeu com os erros do passado?
Eles reconheceram que falharam e corrigiram muitos dos problemas do Vista. O principal deles é a velocidade do sistema operacional. O Windows 7 é muito mais leve e eficiente, requisitos cada vez mais importantes para a próxima geração de hardware.

O Windows XP é hoje o principal concorrente do Windows Vista. O Windows 7, com o apelo de conectividade de diversos programas, poderá ter o mesmo nível de popularidade?
Existe grande chance de que o Windows 7 tenha sucesso semelhante ao XP. A grande vantagem é o amadurecimento em comparação com o Windows Vista, por ser mais rápido e fácil de usar. Da mesma forma, o sistema deverá estar preparado para rodar na nova geração de computadores, que são os netbooks, que crescem expressivamente nos últimos tempos. Assim, existe grande chance de ser tão bem sucedido quanto o XP. Muitas empresas que decidiram não adotar o Vista poderão ir diretamente para o Windows 7.