Poluição - Carbono - Usina Térmica (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2015 às 07h11.
Se depender das contribuições que os países apresentaram até agora para reduzir as emissões de gases estufa - que provocam o aquecimento global -, será pouco provável que o planeta consiga estabilizar o aumento da temperatura em 2°C até o final do século.
É o que mostra um cálculo preliminar feito com base nas INDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida, na sigla em inglês) entregues até a semana que passou à Convenção do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). As INDCs são os compromissos que os 196 países-membros da convenção têm de propor até 1.º de outubro para fundamentar o novo acordo climático global que deve ser finalizado na Conferência do Clima da ONU (COP-21), a ser realizada em dezembro em Paris.
Até sexta-feira, 4, 56 países, responsáveis por quase 70% das emissões do planeta, apresentaram suas propostas.
Cálculos feitos pelos pesquisadores do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), obtidos pelo jornal O Estado de S.Paulo, mostram que as emissões do mundo em 2030 - com os cortes sugeridos até o momento - serão no mínimo o dobro do necessário para segurar o aumento da temperatura. A comunidade científica considera que um aumento acima de 2°C em média em todo o planeta podem trazer consequências catastróficas.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), para evitar o pior cenário, o mundo só pode emitir, entre 2012 e 2100, 1 mil gigatoneladas (Gt) de CO2 - é o chamado "orçamento de carbono". Numa distribuição igualitária ao longo do tempo, isso significa que podemos emitir no máximo 11,3 Gt CO2 por ano até lá. O problema é que o mundo, em 2010, segundo o IPCC, emitiu 49 Gt do gás, o que dá uma ideia do tamanho do desafio para fazer essa redução.
Os pesquisadores do Idesam calcularam quanto cada um dos países que já apresentaram suas INDCs deverão emitir em 2030 se essas metas forem adotadas. Eles chegaram ao montante de 14,9 Gt. Isso sem contar a China. Hoje o maior emissor mundial, o país somente indicou que vai alcançar seu pico de emissões em 2030, sem trazer nenhum indicativo numérico de quanto vai ser isso.
Em 2012, a China emitiu 10,7 Gt CO2. Ou seja, hoje, sozinha, ela é responsável pela quantidade que o mundo inteiro deveria emitir. Mesmo se o país mantiver esse valor até 2030, a soma das emissões globais, considerando as metas dos demais países, seria de 25,60 Gt CO2, mais que o dobro do limite recomendado pelo IPCC.
O grupo cita, no entanto, que há previsões, como a feita pelo Grantham Research Institute on Climate Change, de que emissões chinesas podem chegar, daqui a 15 anos, a 16,5 Gt, o que elevaria a emissão global a 31,40 Gt CO2, quase o triplo da estimativa de 11,3 Gt por ano.
Incompatível
Mesmo sem todas as cartas na mesa, o que fica claro até o momento, dizem os pesquisadores Mariano Cenamo e Pedro Soares, do Idesam, é que a soma das ambições dos países para combater as mudanças climáticas globais não está compatível com a necessidade apresentada pela ciência para manter o equilíbrio do planeta.
Cenamo alerta que as INDCs estão sendo apresentadas cada uma de um jeito, o que dificulta comparações. "Essa contabilidade criativa não ajuda. Por enquanto está se estabelecendo a base de negociação, mas esperamos que no futuro, seja por via oficial da Convenção do Clima ou por iniciativas da sociedade civil, tenhamos uma base de comparação mais clara, seja com base na responsabilidade histórica de cada país ou de suas capacidades econômicas."
Hoje, começa em Bonn, na Alemanha, uma nova rodada de negociações em torno do acordo climático. É o penúltimo encontro antes da COP de Paris.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.