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Livro questiona o sentido da vida

Estudo apresenta fundamento filosófico do método terapêutico-educativo. Autora emprega método tanto em sessões individuais de aconselhamento como em reuniões de grupo

Obra apresenta fundamento filosófico do método terapêutico-educativo desenvolvido pela autora, com o nome de “historiobiografia” (Stock.XCHNG)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de novembro de 2012 às 16h15.

São Paulo – “Quem sou eu? Qual o sentido da existência? Que papel eu desempenho nela?” Premidas pelas urgências da vida prática, ou fascinadas pelas distrações que o mundo oferece, as pessoas costumam colocar essas perguntas de lado em seu atarefado dia a dia. Simplesmente as descartam ou adiam, à espera de um “depois” que, muitas vezes, nunca chega.

Foram, no entanto, perguntas desse tipo que impulsionaram a filosofia desde antes dos gregos. E, diante de uma grande crise ou de uma imprevista guinada na trajetória existencial, são elas que irrompem na tela da consciência, cobrando a atenção que merecem.

Tais perguntas são também o ponto de partida do livro História pessoal e sentido da vida, de Dulce Critelli, professora titular do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Publicado com apoio da FAPESP, o livro, de poucas páginas e leitura fluente, mas conteúdo denso e longamente elaborado, apresenta o fundamento filosófico do método terapêutico-educativo desenvolvido pela autora, com o nome de “historiobiografia”.

Critelli emprega esse método tanto em sessões individuais de aconselhamento como em reuniões de grupo nas quais os participantes são direcionados e instrumentalizados para refletir sobre suas autobiografias e compreendê-las.

“Descobri que muitos de nossos problemas decorrem menos de fatores psicológicos do que filosóficos. Não são os traumas, mas uma incompreensão do sentido da vida que os originam”, afirmou.

“Nessa perspectiva, a filosofia pode ser uma ferramenta fundamental. Quando pensamos, transformamos nossas crenças e, consequentemente, nosso modo de viver. A filosofia não é clínica, mas possui uma inequívoca força terapêutica, que reside naquilo que propriamente a caracteriza: sua estrutura reflexiva. Toda reflexão é um exercício de entendimento que retira os eventos de seu ocultamento (que vai do mero desconhecimento às interpretações corriqueiras) e os lança à luz”, disse.

Essa estrutura reflexiva é o traço comum de toda atividade filosófica. Mas a autora se pauta por uma escola filosófica específica, a da chamada “filosofia da existência”, desenvolvida por Martin Heidegger (1889-1976) e Hannah Arendt (1906-1975). O livro de Critelli é fortemente calcado no pensamento de Heidegger e, mais ainda, no de Arendt, profusamente citado ao longo do texto.


Segundo Arendt, os eventos da vida precisam ser arranjados em uma história para podermos lidar com eles. Como a pensadora muitas vezes afirmou, citando uma frase da escritora dinamarquesa Karen Blixen (que escreveu sob o pseudônimo de Isak Dinesen): “Todas as mágoas são suportáveis quando fazemos delas uma história ou contamos uma história a seu respeito”.

É essa ideia que fundamenta a “historiobiografia” e constitui o leitmotiv de História pessoal e sentido da vida. “Nossa existência pessoal não é um conjunto desconexo de eventos”, argumenta a autora.

“Seu sentido se articula nas histórias que, consciente ou inconscientemente, contamos para nós mesmos. E, quando percebemos o fio de nossa existência, tornamo-nos muito mais disponíveis para fazer transformações. Descobrindo o padrão, descobrimos também o potencial de ação”, falou.

Segundo Critelli, o padrão existencial se apoia em frases que as pessoas ouvem de outras ou que, acriticamente, dizem para si mesmas. Ela chama essas frases de “relatos”. São afirmações curtas e fragmentadas, muitas vezes aprendidas na infância, e repetidas ao longo da vida. Perpetuando-se pela repetição, perpetuam também, como se fosse fatalidade, um determinado modo de ser.

Frequentemente os indivíduos se sentem prisioneiros desses padrões que eles mesmos ajudaram a criar. Quando trazem tais “relatos” para a luz da consciência e os submetem ao crivo da reflexão crítica, começam a se libertar de seu poder paralisante. E colocam ou recolocam suas vidas em movimento.


“Temos a ilusão de que moramos em um mundo significativo em si e por si mesmo. Mas, em si mesmo, o mundo é pura coisa. É nossa linguagem que o transforma em um mundo. Habitar o mundo é habitar a linguagem”, sublinhou Critelli.

Trata-se, então, de substituir os relatos acríticos e fragmentários que povoam a linguagem vulgar por uma historia pessoal construída a partir da reflexão. A expectativa é que, ao se apoderar dessa história, o indivíduo simultaneamente se empodere. E deixe de ser vítima de uma imaginária fatalidade para se tornar senhor de si mesmo.

História pessoal e sentido da vida
Editora: Educ – Editora da PUC-SP
Páginas: 104
Preço: R$ 25
Mais informações: http://www.pucsp.br/educ

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São Paulo – “Quem sou eu? Qual o sentido da existência? Que papel eu desempenho nela?” Premidas pelas urgências da vida prática, ou fascinadas pelas distrações que o mundo oferece, as pessoas costumam colocar essas perguntas de lado em seu atarefado dia a dia. Simplesmente as descartam ou adiam, à espera de um “depois” que, muitas vezes, nunca chega.

Foram, no entanto, perguntas desse tipo que impulsionaram a filosofia desde antes dos gregos. E, diante de uma grande crise ou de uma imprevista guinada na trajetória existencial, são elas que irrompem na tela da consciência, cobrando a atenção que merecem.

Tais perguntas são também o ponto de partida do livro História pessoal e sentido da vida, de Dulce Critelli, professora titular do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Publicado com apoio da FAPESP, o livro, de poucas páginas e leitura fluente, mas conteúdo denso e longamente elaborado, apresenta o fundamento filosófico do método terapêutico-educativo desenvolvido pela autora, com o nome de “historiobiografia”.

Critelli emprega esse método tanto em sessões individuais de aconselhamento como em reuniões de grupo nas quais os participantes são direcionados e instrumentalizados para refletir sobre suas autobiografias e compreendê-las.

“Descobri que muitos de nossos problemas decorrem menos de fatores psicológicos do que filosóficos. Não são os traumas, mas uma incompreensão do sentido da vida que os originam”, afirmou.

“Nessa perspectiva, a filosofia pode ser uma ferramenta fundamental. Quando pensamos, transformamos nossas crenças e, consequentemente, nosso modo de viver. A filosofia não é clínica, mas possui uma inequívoca força terapêutica, que reside naquilo que propriamente a caracteriza: sua estrutura reflexiva. Toda reflexão é um exercício de entendimento que retira os eventos de seu ocultamento (que vai do mero desconhecimento às interpretações corriqueiras) e os lança à luz”, disse.

Essa estrutura reflexiva é o traço comum de toda atividade filosófica. Mas a autora se pauta por uma escola filosófica específica, a da chamada “filosofia da existência”, desenvolvida por Martin Heidegger (1889-1976) e Hannah Arendt (1906-1975). O livro de Critelli é fortemente calcado no pensamento de Heidegger e, mais ainda, no de Arendt, profusamente citado ao longo do texto.


Segundo Arendt, os eventos da vida precisam ser arranjados em uma história para podermos lidar com eles. Como a pensadora muitas vezes afirmou, citando uma frase da escritora dinamarquesa Karen Blixen (que escreveu sob o pseudônimo de Isak Dinesen): “Todas as mágoas são suportáveis quando fazemos delas uma história ou contamos uma história a seu respeito”.

É essa ideia que fundamenta a “historiobiografia” e constitui o leitmotiv de História pessoal e sentido da vida. “Nossa existência pessoal não é um conjunto desconexo de eventos”, argumenta a autora.

“Seu sentido se articula nas histórias que, consciente ou inconscientemente, contamos para nós mesmos. E, quando percebemos o fio de nossa existência, tornamo-nos muito mais disponíveis para fazer transformações. Descobrindo o padrão, descobrimos também o potencial de ação”, falou.

Segundo Critelli, o padrão existencial se apoia em frases que as pessoas ouvem de outras ou que, acriticamente, dizem para si mesmas. Ela chama essas frases de “relatos”. São afirmações curtas e fragmentadas, muitas vezes aprendidas na infância, e repetidas ao longo da vida. Perpetuando-se pela repetição, perpetuam também, como se fosse fatalidade, um determinado modo de ser.

Frequentemente os indivíduos se sentem prisioneiros desses padrões que eles mesmos ajudaram a criar. Quando trazem tais “relatos” para a luz da consciência e os submetem ao crivo da reflexão crítica, começam a se libertar de seu poder paralisante. E colocam ou recolocam suas vidas em movimento.


“Temos a ilusão de que moramos em um mundo significativo em si e por si mesmo. Mas, em si mesmo, o mundo é pura coisa. É nossa linguagem que o transforma em um mundo. Habitar o mundo é habitar a linguagem”, sublinhou Critelli.

Trata-se, então, de substituir os relatos acríticos e fragmentários que povoam a linguagem vulgar por uma historia pessoal construída a partir da reflexão. A expectativa é que, ao se apoderar dessa história, o indivíduo simultaneamente se empodere. E deixe de ser vítima de uma imaginária fatalidade para se tornar senhor de si mesmo.

História pessoal e sentido da vida
Editora: Educ – Editora da PUC-SP
Páginas: 104
Preço: R$ 25
Mais informações: http://www.pucsp.br/educ

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