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Kawasaki: ´Macintosh era uma porcaria revolucionária´

Ex-funcionário da Apple considerado um dos responsáveis pelo sucesso do primeiro computador pessoal da marca falou sobre inovação em São Paulo

Empresário é tido como o principal evangelista da Apple até hoje (.)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - Inovar é uma arte, e para realizá-la, seguir alguns passos pode ser um bom começo. É o que defende o empresário Guy Kawasaki, ex-funcionário da Apple considerado um dos responsáveis pelo sucesso da primeira versão Macintosh. "Não se preocupe em ser uma porcaria" é um desses passos. "O Macintosh, quando foi lançado, era uma porcaria, com 128kb de RAM. Mas uma porcaria revolucionária", explicou Kawasaki nesta quarta-feira (11) durante palestra em São Paulo.

O nipo-americano, nascido no Havaí, trabalha hoje como diretor da Garage Technology Ventures, que investe em ideias inovadoras de outras pessoas. Responsável pelo marketing do Macintosh em 1984, é tido como o principal evangelista da Apple, ou seja, um disseminador do fanatismo de consumidores pelos produtos da marca. Convidado pela LG para participar do evento de lançamento do Life's Good Lab, Kawasaki discorreu sobre "A Arte da Inovação" para uma plateia formada por empresários, jornalistas, blogueiros e publicitários.

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Em tom bem humorado, ele lembrou ter trabalhado entre 1983 e 1987 e posteriormente no período de 1995 a 1997 na Apple, empresa que tinha os funcionários mais egocêntricos do mundo - o título agora estaria com o Google. A experiência que teve na empresa fundada por Steve Jobs e Steve Wozniak parece ter sido fundamental para a formação do conceito de inovação em Kawasaki.

Em determinado momento, ele disse que um dos motivos pelo qual acredita em Deus é o fato da Apple dado certo. "Não há outra razão para que a Apple tenha sido bem sucedida", disse, arrancando risos do público, quando comentava a importância do consumidor no processo de inovação de uma empresa.

Sempre fazendo referência à companhia em que trabalhou, Kawasaki atribuiu ainda à polarização do público, à ousadia de Jobs e Wozniak e à evolução dos produtos o sucesso do Macintosh e consequentemente da Apple. "Se você procura criar um produto que agrade a todas as pessoas, você terá uma solução medíocre", disse. "É por isso que as pessoas ou amam ou odeiam a Apple".

Também é bom se arriscar e apostar em ideias inusitadas para ter sucesso, afirmou o havaiano. Mas para "rolar os dados" é preciso seguir algumas regras e investir em ideias profundas, inteligentes, completas e elegantes. Ele citou o exemplo da marca de calçados Reef, que lançou uma sandália com um abridor de garrafas na sola. No quesito elegância, como não podia deixar de ser, Kawasaki lembrou de um produto da Apple: o iPad.


Microsoft

O palestrante, que tem cinco Macs em casa, não deixou de cutucar a Microsoft, soltando duas piadas sobre a fabricante do Windows. "Quantos engenheiros da Microsoft são necessários para trocar uma lâmpada?", perguntou. "Nenhum. Eles apenas definem a escuridão como um padrão de mercado", brincou, logo no início de sua fala. Por assistir a muitas apresentações de empreendedores todos os dias, em determinado momento deu um macete sobre como preparar uma sequência de slides para impressionar um investidor. Disse que aí vale a regra de "seguir as medidas": 10 minutos de duração, 20 slides e tamanho de letra 30. "Os usuários de Windows sempre levam 40 minutos para conseguir configurar o computador, e aí só sobram 20 minutos para a apresentação".

Ele defendeu ainda que os empreendedores devem pensar em "fazer sentido" ao invés de "fazer dinheiro", e "fazer um mantra, ao invés de uma missão para a empresa". Entre outros passos citados por ele para inovar está "Pule para a próxima curva". O exemplo citado desta vez foi o do comércio de gelo. "A primeira geração removia o gelo pronto, que só podia ser encontrado em algumas localidades frias. Alguém poderia comprar mais um cavalo para transportar os blocos de gelo, mas quem pensou fora da curva foi aquele que começou a congelar água para vender. Era possível fazer gelo em qualquer lugar".

Bozos

Ao fim da palestra, Kawasaki veio com a recomendação "não deixe que os bozos te derrubem". Segundo ele, sempre pode aparecer algum "palhaço" pessimista que dirá que uma ideia não dará certo. Um exemplo citado por ele é o do ex-presidente da IBM, Thomas J. Watson, que, em 1943 teria dito que "há espaço apenas para cinco computadores no mundo", e da empresa Western Union, que, em um memorando interno, em 1977, declarou que "o telefone tem problemas demais para ser seriamente considerado como um dispositivo de comunicação".

Depois de citar esses exemplos, Kawasaki assumiu também fazer parte do grupo de bozos. Certa vez, contou, recebeu o convite para uma entrevista para ser CEO de uma startup de tecnologia. Acabou recusando, porque havia acabado de ter um filho e considerou que a empresa ficava muito longe para ir e que não via como a ideia de dois jovens poderia se tornar um negócio. Tratava-se do Yahoo!, hoje um dos sites mais acessados do mundo. Segundo seus próprios cálculos, a decisão de ignorar a proposta, custou-lhe US$ 2 bilhões.

Redes sociais e iPad

Após o fim da palestra, durante a sessão de perguntas da plateia, Kawasaki disse que acredita que redes sociais e o iPad são as grandes inovações do momento. Ao ser questionado sobre como consegue identificar o que é que fará sucesso no futuro para planejar um investimento, retrucou com um "Você acha que sou capaz de fazer isso?", em tom bem-humorado. "Não achava que o Twitter faria sucesso. Aposto que ninguém acreditava nisso, nem mesmo os criadores do Twitter", afirmou. "Mas hoje, o que podemos chamar de revolução são as mídias sociais e o iPad", disse, ressaltando que o tablet decertará o fim dos livros de papel.

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