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'Com ou sem barba, minha senhora?'

Site de relacionamentos Adote Um Cara traz como proposta criar um 'supermercado' de homens; conceito é brincadeira com consumismo, e tenta fugir das polêmicas

adoteumcara (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2013 às 17h15.

Pouco depois da explosão do Tinder no Brasil, mais um serviço de relacionamentos online começava a dar as caras por aqui. Com um nome curioso, o Adote Um Cara estreou no país no início de outubro, vindo da França depois de quase seis anos de existência bem-sucedida por lá. Passou, antes, por um período de “teste de aceitação” no Facebook – e a recepção, garantem os responsáveis pela página brasileira, foi das mais positivas.

Não é o título do site, no entanto, o seu único aspecto diferente. Longe disso, vale dizer. É a proposta seu grande destaque, na verdade: criar um “supermercado” de homens, como eu – que recebi o link poucos dias depois do lançamento da página. E logo fui ver qual era a do serviço de nome estranho.

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Qual foi minha surpresa ao me deparar com a página inicial, que, de certa forma, “copia” o estilo de um e-commerce. Ofertas de vegetarianos, morenos, barbudos, “quindins” e surfistas tentavam atrair o olhar dos (ou das) visitantes. Uma barra inferior, por sua vez, listava as vantagens da loja – entrega rápida, funcionamento 24 horas e “novidades todos os dias”.

Isso tudo, aliado ao fundo rosa com aspecto de parede almofadada, definitivamente não tornava o ambiente o mais convidativo para um rapaz. E é essa a ideia, aparentemente: fazer as mulheres se sentirem “mais poderosas”, como me disse mais tarde Clara Bizien, francesa, responsável internacional por marketing e comunicação do serviço. Passado o choque inicial, no entanto, deu para perceber o aspecto “caricatural” que existe na página – e acessar o site rosado ficou bem mais interessante – para não dizer engraçado.

Fazer um cadastro é outra opção que remete a um comércio. Mulheres se registram como clientes, enquanto homens escolhem a opção “Sou um Produto”. Pode soar ofensivo aos olhos de alguns, mas faz parte da “brincadeira com o consumismo” que também envolve a página, como afirma Bárbara Wuensche, responsável pelo setor de comunicação do serviço no Brasil. “Os homens não são desmoralizados, ficam apenas em um momento diferente”, completa ela.

Tendo o bom humor do site em mente, comecei a criação do meu perfil, que precisa ser incrivelmente completo – uma das características mais interessante do serviço. O primeiro passo foi informar um nome de exibição (nada de sobrenomes), seguido de uma breve descrição e alguns gostos pessoais. As opções são diversas, e entre as de “estilo”, por exemplo, dá para encontrar “vaqueiro”, “gaúcho” e “skatista” – algumas alternativas inseridas na versão brasileira do Adote Um Cara, que foi adaptada, e não meramente traduzida da francesa.

Escolhi alguns pontos contradizentes, para manter o bom humor: “boêmio” e “caseiro” no estilo de vida, “vaqueiro” em estilo e “chapéu de palha” em conteúdo da embalagem são alguns dos exemplos. Depois, entraram as preferências musicais, cinematográficas, televisivas e literárias. Contei com a ajuda dos outros repórteres do site da INFO para lembrar os nomes de alguns livros, filmes e séries díspares – como a “Bíblia”, “Harry Potter” e “Comer, Rezar e Amar” dividindo espaço –, além de algumas bandas apenas com nomes de animais, entre Pantera, Arctic Monkeys e Bonde do Tigrão.

Por fim, defini a foto do perfil. A felizarda foi uma antiga que usei no Facebook, com um sorriso um tanto exagerado, que foi depois substituída por outra igualmente peculiar – na montagem, que é tudo menos primorosa, seguro um gato no lugar de um copo. Enfim, passada a etapa de criação de conta, o site passa a funcionar quase como outros serviços de encontro. Quase, porque ainda há algumas peculiaridades.

Uma delas é a forma de entrar em contato com possíveis pretendentes. É aqui que fica clara a ideia de dar “poder às mulheres” que o site carrega: o rapaz – no caso, eu – está limitado a “jogar charmes” nas garotas, um recurso limitado a 10 usos diários que funciona mais ou menos como o cutucar do Facebook. Sinal recebido, a mulher acessa o perfil do cara, analisa as informações e decide se dará a ele a chance de conversar com ela ou não.

Testei a função, inicialmente, com duas meninas, ambas de bairros próximos daqui da Editora Abril. Para minha surpresa, as duas responderam à pré-mensagem, e pude começar um bate-papo com elas – que não foi para frente, no entanto. Tentei “jogar um charme” em outras, ficando sem respostas em alguns casos, mas recebendo algumas “autorizações”.

Não fui bloqueado uma única vez, aliás. Porque sim, há essa possibilidade no site, como descobri posteriormente: se um rapaz continuar insistindo com charmes ou for inconveniente na conversa, um prático botão permite marcá-lo como um “mala se alça” – é esse mesmo o nome do comando – e bloqueá-lo.

Das conversas seguintes, apenas uma progrediu um pouco, mas nada a ponto de ser colocado no “carrinho de compras”. O comando, disponível apenas para as meninas, serve para mostrar o devido interesse. Elas podem ainda devolver o rapaz à prateleira, caso bata um arrependimento, ou mesmo apenas “reservá-lo”, de forma a impedir que ele jogue charmes em outras clientes. Nesse último caso, no entanto, fica à escolha dele aceitar ou não a reserva, o que reforça o que disse Bárbara, sobre não desmoralizar os homens.

As mulheres ainda podem avaliar o rapaz – mas nada de informações fortes, como as compartilhadas no polêmico Lulu, e sim algo como um “grau de compatibilidade”. Aliás, Clara Bizien foi uma das que reforçou que os conceitos de ambos os serviços são distintos. “Os apps focam em diferentes pontos”, diz ela. “O Lulu tem como proposta apenas falar de um ex-namorado, enquanto o Adote Um Cara é bem mais abrangente – o quesito ‘social aqui é bem mais importante.”

Origem e presença no Brasil – O Adote Um Cara original, como mencionado, surgiu na França em 2007 e curiosamente foi criado por dois homens, Manuel Conejo e Florent Steiner. Com o nome Adopte Un Mec, a página começou a dar certo, “com um ambiente divertido e diferente”, como descreve Bárbara, e logo foi lançada oficialmente. Em seus quase seis anos de existência, o site se tornou um sucesso no país, segundo Clara – conta inclusive com uma “loja” real e apps próprios para Android, iOS e BlackBerry.

A expansão internacional começou apenas neste ano. Em abril, o Adopte Un Mec ganhou versões adaptadas para Alemanha, Espanha, Itália e Polônia. Em outubro, chegou ao Brasil, depois da página do serviço no Facebook atrair boa atenção de usuários – chegou às 5.000 curtidas sem grande divulgação. Por ora, um sistema de convites ainda limita os cadastros semanais. Mas a demanda nos primeiros dias foi tão alta que os responsáveis pela página tiveram até que liberar um número maior de “ingressos”.

Trazer a página para cá, claro, não envolveu apenas tradução de interface. “A partir das demandas que tivemos, começamos a estudar o mercado brasileiro, de forma a deixar o site focado no público daqui”, diz Bárbara. A pesquisa trouxe como resultado algumas possibilidades diferentes e até divertidas na hora de criar um perfil, como as opções de vaqueiro, gaúcho e skatista que vi quando comecei a montar a conta.

O fato de o contador de convites ainda aparecer na página inicial mostra que o site não está totalmente pronto. Nos testes feitos que fiz aqui, foi possível notar algumas pequenas falhas na interface. O contador de possíveis pretendentes gera confusão, por exemplo, enquanto uma mensagem de erro apareceu sem tradução. Usar a página em um dispositivo móvel é outro desafio, já que não há responsividade no site e a caixa de texto nem sempre funciona como deveria – o teclado desaparece, como se um clique tivesse sido dado fora do campo.

O uso em dispositivos móveis deve se tornar mais prático quando os aplicativos para Android e iOS forem de fato lançados. Clara Bizien garante que eles chegam no começo do ano que vem – por ora, a equipe trabalha na reformulação do original francês, que deve ser adaptado depois para o Brasil. Quanto aos outros problemas, é de se esperar que eles sejam resolvidos até o lançamento da versão definitiva da página.

Dicas de uso – Nos EUA, os serviços de encontro online já são responsáveis por originar 1 a cada 10 relacionamentos sérios, segundo pesquisa do Pew Research Center (em PDF). Dada a boa popularidade de serviços do tipo por aqui – o Tinder é o maior exemplo, com 1 milhão de usuários, e o Adote Um Cara pode seguir o mesmo caminho –, é bom estar preparado.

Não foi meu caso, como deu para perceber. Usei duas fotos estranhas e fiz aquelas brincadeiras no perfil. O resultado não foi dos mais positivos: consegui conversar com algumas mulheres, já que a página estava ao menos engraçada, mas poucas conversas foram de fato para frente e não fui parar no carrinho de ninguém.

Então, para entender melhor o funcionamento desse mundo, fui atrás do especialista Eduardo Santorini. O coaching de relacionamentos ganha a vida ajudando homens a derrubar a timidez, é autor do livro “Código da Atração” e está, atualmente, trabalhando em uma obra que trata apenas de relacionamentos online. E é ele quem dá algumas das dicas a seguir:

1. Foto em primeiro lugar: O primeiro ponto observado pelo especialista é a imagem de perfil: “a maior parte dos usuários apenas passa o olho pela ‘vitrine’, e só irá entrar na página se a foto chamar atenção”, diz Santorini. “Use imagens com boa resolução, sem óculos de sol e nem acompanhado de outras pessoas.” Vale também investir nas fotos do álbum, colocando imagens de hobbies e viagens, por exemplo.

2. Batendo-papo: “A melhor forma de iniciar o bate-papo é com uma pergunta direta, bastante simples. Um comentário justificando o porquê de você ter iniciado a conversa também é interessante.” Só evite falar de atributos físicos, recomenda o especialista.

3. Mantendo a compostura: On-line ou off-line, evite mentiras. “Lembre-se que você quer atrair as pessoas certas”, diz. Gabar-se também é algo negativo demais. No decorrer do bate-papo, vale sempre procurar por afinidades entre ambos, recomenda o coaching - “os casais que dão certo geralmente têm algo em comum”.

4. Saindo da web: Santorini avisa que, para o primeiro encontro, é importante que o possível casal já tenha criado afinidade mútua e conversado fora do site – por meios mais “tradicionais”, como telefone ou Skype, de preferência. Também recomenda evitar jantares. “É comum idealizarmos a pessoa on-line e, na vida real, ser outra totalmente diferente”, diz. “Prefira um primeiro encontro mais informal, e não longo demais.”

5. A vida segue: Aos rapazes, o especialista recomenda ter paciência, e afirma que o tempo médio para conhecer alguém compatível chega a seis meses. “Se não der certo o primeiro, o segundo ou o décimo encontro, não desanime. Lembre-se que encontrar alguém bacana leva tempo.”

6. “Keep safe”: Fora as dicas de Santorini, vale também sempre tirar proveito das ferramentas do site. Analisar bem o perfil de um “jogador de charmes” é uma boa antes de liberar uma conversa – um dos fortes do Adote Um Cara são os perfis bem completos. E para evitar confusões com desconhecidos fora do site, usar um apelido em vez do nome real – que nem deve caber no campo – pode ajudar.

As dicas, claro, podem valer para fora do Adote Um Cara, especialmente as duas primeiras, que vem bem a calhar no Tinder, por exemplo. Com elas em mãos, então, talvez seja uma boa hora de começar nos serviços do tipo – ou tentar de novo, no meu caso.

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