Google: Os navegadores Safari (Apple) e Firefox bloqueiam cookies de terceiros, mas o Chrome, que respondia por 63% do mercado em 2020, segundo a StatCounter, ainda os utiliza (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 7 de fevereiro de 2021 às 21h32.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2021 às 07h12.
O Google decidiu encontrar substitutos para os "cookies", os rastreadores que permitem ao gigante das buscas online vender espaço publicitário altamente personalizado, mas que irritam os defensores da privacidade de dados.
O grupo californiano está trabalhando em um sistema alternativo, supostamente para garantir maior respeito pela privacidade e, ao mesmo tempo, permitir que as marcas continuem a atingir o público que desejam.
"Esta abordagem dissimula as pessoas entre a multidão e usa a computação do dispositivo para manter o histórico do navegador de uma pessoa privado", explicou Chetna Bindra, gerente de produto, durante uma apresentação no mês passado do sistema chamado Federated Learning of Cohorts (FLoC).
Ao invés de visar usuários da Internet de forma individual, os anunciantes visarão segmentos de público, os "FLoC", que compreendem centenas ou milhares de pessoas.
A empresado Vale do Silício é amplamente criticada por autoridades ocidentais e ONGs de direitos digitais pela questão da privacidade do usuário.
O crescente desconforto com os cookies, sinônimo de acompanhamento contínuo, refletiu-se no Regulamento Europeu de Proteção de Dados (GDPR), que garante aos cidadãos determinados direitos sobre os seus dados (como são recolhidos e utilizados, se para fins comerciais ou não).
A Califórnia seguiu o exemplo do Velho Continente com a "Lei de Privacidade do Consumidor da Califórnia" (CCPA), em vigor há mais de um ano.
O Google, que domina o mercado global de publicidade digital, tem interesse em encontrar uma maneira de tranquilizar o público e, ao mesmo tempo, satisfazer os anunciantes ansiosos para não enviar suas mensagens para o vazio.
"Cookies de terceiros são um pesadelo para a privacidade", diz Bennet Cyphers, pesquisador da ONG Electronic Frontier Foundation.
Os navegadores Safari (Apple) e Firefox bloqueiam cookies de terceiros, mas o Chrome, que respondia por 63% do mercado em 2020, segundo a StatCounter, ainda os utiliza.
Os cookies de terceiros "têm muito peso para o Google, tanto em termos de tempos de competição quanto em questões jurídicas, mas o Google quer ter certeza de que seu modelo de negócios de publicidade funcione em plena velocidade", diz Cyphers.
Como outros especialistas, este pesquisador teme que o Google tenha inventado um novo sistema oculto que classifica os usuários da Internet em áreas e atribui rótulos para orientar as mensagens publicitárias sem qualquer transparência.
"Há o risco de ser ainda pior em termos de respeito ao sigilo", afirma.
"É uma caixa preta de 'machine learning' (aprendizado automatizado da máquina), que reunirá todos os detalhes do que você faz online e determinará que se trata desta ou daquela pessoa.
"As propostas do Google são ruins para a mídia independente, para técnicos publicitários independentes e para profissionais", afirmou em um comunicado o diretor da coalizão "Marketers for an Open Web", James Rosewell, que faz campanha contra o novo sistema e questiona sua efetividade.